Capítulo 03

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Flashback

Cabelo arrumado com o laço na cabeça. Roupas casuais, nada exagerado, para não parecer muito caida por ele. Passo um gloss nos lábios e suspiro alto, descendo a clavícula, pondo as mãos na penteadeira.

— Mais uma vez — digo baixinho, agarrando num colar que há um pigente com o formato de clave de sol, Dylan me deu ele no Natal do ano passado.

Aprecio a jóia no espelho. Passou quatro anos, já tenho catorze e ainda sou perdidamente apaixonada por aquele garoto de covinhas estonteantes.

Ouço o meu nome em voz alta, poderia ser mamãe se fosse fina, porém, era meio aveludada, como se estivesse em transição para a grossa.

— Estou indo — respondo gritando. Por que homens são tão apressados? Não podem esperar nenhum minuto a mais?

Pego no violão, que também foi presente de Dylan. Ele torna a minha vida musical fantástica. Não digo pelos mimos, mas também por ser a inspiração de me fazer compor.

Desço as escadas depressa, segurando o instrumento de um modo que não seja possível deixa-lo cair. É minha arminha poderosa.

— Mas que demora! — reclama, se levantando do sofá, e quando para o olhar sobre mim, sinto a timidez atingir meu rosto — Por que esta maquiada? — franze o cenho, sorrio fraco a medida que coloco uma mecha de cabelo detrás da orelha.

— Estava treinando. Logo vamos para o ensino médio, e tenho que me arrumar mais — minto, dando passos a frente.

— Ah... — acena a cabeça — Fala logo o que você quer, tenho compromisso daqui a 40 minutos, esta me fazendo perder tempo.

A adolescência tornou Dylan tão rebelde que as vezes acho não ò conheço. Sinceramente a saudade que tenho dele carinhoso e gentil é avassaladora.

— Me siga — digo, precionando os dedos no violão e me encaminhando de volta as escadas.

Subimos em silêncio ao sótão escuro. Há tanto tempo que não damos uma limpeza nele, que toda vez espirro.

— Tá... o que tem demais no sótão? — tento achar sua expressão, porém, o preto que cobria os olhos não permitia.

— Não é aqui — nego, me direcionando a uma janela tampada com a cortina vermelha, abro ela e dou passagem ao teto, saio pra fora e chamo Dylan.

É lindo daqui de cima, venho todas os crepúsculos, a fim de escrever.

— O que vai fazer? — ele questiona, franzindo o cenho.

— Cala a boca, e apenas me siga! — digo, sentindo a corrente de vento bater contra a face e arremessar os cabelos no ar.

— Esta bem — murmura, se ajuntando a mim. — Emma, vai demorar muito? — pergunta, e ligeiramente balanço a cabeça.

— Calma, Dylan! Você é muito apressado! — o repreendo.

Me sento, num ponto frente ao pôr do sol, tudo é encantador.

— Você é mesmo maluca — ele comenta, se confortando ao lado.

— Quero lhe mostrar a música que compus. Desde que me deu esse violão, eu não paro de tocar — mostro os dentes, sorrindo, mas não demora para fecha-lo.

— Foi minha mãe que escolheu, não tenho nada a ver — dá de ombros.

— Ok... — sussurro, arrumando o instrumento em cima das pernas, e iniciando o canto que durante toda a composição, Dylan foi o principal motivo.

Me sentia livre, não sei explicar, mas a sensação era única. Estou mostrando os meus sentimentos mais uma vez.

Os dedos deslizam cada vez com mais intecidade nas cordas do violão, enquanto o timbre se torna mais alto. Nesse momento, parece que há pássaros batendo as asas dentro da barriga, e quando termino a canção, desvencilho a visão do horizonte, e à foco em Dylan.  

— O que vo... —  fico boquiaberta quando o mesmo não desgruda do celular.

— Era só isso? — arqueia as sombrancelhas.

— Sim — respondo, ainda sem reação.

Ele nem mesmo fingiu que se importava. É mesmo um idiota! Eu sou mais idiota! Me dediquei a essa merda para nada!

— Estou indo — se levanta e sai na direção que vimos.

O fracasso abrange o corpo novamente, deixo o violão no porão e fecho o caderno de composições para nunca mais abrir. As lágrimas descem, ao olhar a outra janela, vejo o garoto com seus amigos, e principalmente uma garota loira, incrivelmente linda.

A única pessoa que cantei, e me interessava cantar, era Dylan, e o mesmo deve ter odiado! Minhas composições são horríveis e a voz possivelmente uma droga.

♡♡♡

Historiazinha do passado dela. Aos 14 anos. Meu Deus! Tadinhaaaa

Dividi o capítulo em dois, acho que ainda vou postar o 4 hj!

Não Somos Irmãos Onde as histórias ganham vida. Descobre agora