Capítulo 22

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Flashback

A aula de artes é a única que a sala se silencia por completa. Agora não sei se é pelo fato de todos os alunos gostarem de desenhar ou se era medo da professora. A face da mulher é assutadora e os seus óculos redondos sustentando o meu argumento.

Olho para Dylan por cima do ombro, mas me arrependo imediatamente, pois o mesmo também me encarava. Ele não manteve a sua atenção em mim, e desviou os olhos.

Suspiro fundo e devolvo a atenção a minha obra. A mestre da aula disse que queria um desenho de cada aluno com o seu pai. Engoli o seco na hora, e a tristeza se espenhou rapidamente sobre mim, fazendo os meus olhos ficarem marejados.

Então resolvi desenhar uma pessoa melhor, a mamãe. Ela tem uma beleza extrema, e assim, a professora nem irá ligar para a imagem do meu pai.

- Você é surda? Deve desenhar o seu pai - Ouço a voz irritante do Luiz ao meu lado. Sabia que não era uma boa ideia me sentar perto dele, porém, Dylan é o meu único amigo, e por isso sou obrigada a me ajuntar também a esse ai.

- Mas lá em casa só é eu e minha mãe - alego, tentando dar o mínimo de atenção a ele.

- Não importa se seus pais não moram juntos - ele nega a cabeça. Se mamãe não tivesse me chamado atenção sobre violência, ja teria socado a cara dele.

- É melhor calar a boca, Luiz, não ver que está incomodando? Seu idiota... - a voz de Dylan surge, e o encaro por puro reflexo. Ele se encontra em pé, dando um pequeno tapinha na cabeça de Luiz.

- Precisa defender ela em tudo? Só estou evitando uma advertência - ele responde, franzindo o senho, como se estivesse falando o óbvio.

- Posso me sentar com você, Emma? - o garoto questiona, não ligando para o seu amigo enquanto eu tento não sorrir tão boba. Afasto para o lado e ele logo se acomoda.

- Você acha que a professora vai me adverter? - questiono a ele, um pouco pensativa.

Dylan levanta os seus olhos e mostra as suas covinhas num sorriso enquanto negava a cabeça e abria o seu caderno.

- Se ela lhe adverter, eu vou junto - passa o material para as minhas mãos. Luto contra o ataque cardíaco quando vejo o seu desenho. Era eu, os cabelos ruivos voavam pela brisa de notas musicais.

- Posso ficar com ele? - ponho a minha expressão de cachorrinho abandonado.

- Não, eu preciso dele - me torno um pouco triste pela resposta, porém a curiosidade do motivo dela chama mais alto.

- Por quê? - franzo o cenho, e tento não olhar para o vidro da janela, é muito vergonhoso se ver toda vermelha.

- Por que... - Ele estava quase lá. Quase formava a resposta, até que...

- Dylan! Para a sua cadeira, agora! - a professora disse rígida, e o garoto obedeceu.

[...]

O recreio sempre foi meio termo, não gostava muito, a não ser pelas conversas que tinha com o Dylan. Havia de fato um motivo para não gostar de ficar na rodinha de garotas, por que so tinha uma razão para elas me quererem: meu "irmão".

- Dylan! - anuncio feliz enquanto ele se senta a minha frente na mesa redonda. - Luiz... - a voz sai rancorosa quando os olhos batem no garoto ao lado.

- Emma... - ele devolve o tom enquanto se acomoda perto do meu amigo. - Dylan, você está vendo outros garotos sentados com meninas por aqui?

- Você esta vendo outro catarrento por aqui? Ou o idiota do Luiz esta sozinho nessa? - Dylan não se posicionava, mas gargalhou alto por causa da minha fala.

Não Somos Irmãos Onde as histórias ganham vida. Descobre agora