Animal

-Capítulo 15-

Pessoas como eu não podem se apegar facilmente

Então por que me incomoda tanto que Davika esteja chateada?

Sua indiferença perante a mim me irrita, sua frieza me faz reavaliar certas coisas e sua coragem de me tratar não como algo a ser temido me enche de prazer por diversas vezes fui tratado com luvas de pelica por pessoas que não me respeitam mas que possuem um verdadeiro terror por meu pai e devo dizer que isso não é nem um pouco legal

Desde que chegamos do Belo Santo Davika não me dirige a palavra meus negócios não estão sob sua jurisdição sou dono de meus atos e estou disposto a lidar com as consequências e uma delas é viver em segredo pois tem certas coisas que não podem ser ditas por que depois de proferidas elas não podem ser pegas de volta e meu mundo é todo feito de trevas e é tão escuro que dificilmente uma luz pode se infiltrar e então a verdade se perde no meio de tanta mentira e no fim não sei mas diferenciar o verdadeiro do falso tudo se mistura de um jeito que me faz pensar se o que estou  vivendo não passa de uma grande farsa

Algumas coisas simplesmente não podem ser contornadas

O sangue não mente e mudar os rumos das coisas não é possível então tudo que resta é seguir o chamado do líquido da vida

- Espero que goste - Davika diz ao colocar um prato em minha frente ela contorna a mesa e se senta a minha frente fazendo minha mente se confundir

- Você... você não vai me acompanhar no jantar? - provo um pouco de sua comida e sorrio em apreciação

Seus olhos miram em mim e sem desviar Davika me encara como uma feroz predadora só a espera que sua presa fraqueje para dar o golpe de misericórdia e um estranho sentimento que não consigo definir aquece meu coração pois agora vejo como se parece alguém que pode me proteger não só com uma ferocidade que assusta mais também com uma inteligência que quase se iguala a da famosa besta que todos temem Davika obviamente sabe mais do que aparenta mas se continuar calada ela pode se tornar um trunfo

- Não estou com fome - ela tamborila seus dedos sobre a mesa e continua com seus olhos postos sob mim

Mastigo bem a carne cozida com perfeição e já farto com suas escassas palavras eu decido colocar um ponto final nisso tudo

- Você está chateada - comento depois de abandonar os talheres - Eu não menti Alexandro escorregou no chão do banheiro não sei o que quer que diga não estou mentindo

Bem o mundo é feito de ilusões

E as usarei a meu favor como puder

- Oz - meu nome é pronunciado com firmeza não deixando dúvidas sobre as forças de suas palavras - Eu e você não somos tão diferentes ambos guardamos segredos ambos vivemos e respiramos a mentira e juntos fomos consumidos pela trapaça, enganos e Falsidade mas acima de tudo nós precisamos encontrar uma direção que nos permita nos despir de tudo isso para sermos o que nossas almas são verdadeiramente e não o que projetamos ao mundo

Não posso ter esse privilégio

Serei abatido na primeira oportunidade que tiverem

- Você não acha que isso é impossível? - pergunto esquecendo completamente a deliciosa comida servida - Com nove anos eu e meu pai fomos emboscados quase morri por que meu sangue é raro sabe Davika é realmente difícil achar pessoas com sangue dourado mas meu pai achou e graças a isso estou vivo tenho 24 anos e por várias vezes tentaram me matar sou o que sou eu me tornei isso... - bato com a palma da mão em meu peito -... Por conta de meu pai e não saberia o que mais fazer

Nos ajudamos mutuamente

Meu pai me protege e eu faço o que manda

- Esse é o negócio Oz - Davika se levanta e agarra um saco de batatinhas do armário - Eu sei que você é mais que isso - ela passa por mim e segue para o corredor me deixando sozinho na cozinha

Droga em vez de concertar a situação agora parece que piorei

Davika com sua aparência pode ser confundida com uma flor delicada mas sua resistência é feito de um material mais forte sua vontade de ferro e pensamentos perspicazes ainda a levaram longe ou então serão a causa de sua morte

- Precisamos ter um bom relacionamento

Davika é meu escudo

E  não podemos ficar brigados

Várias ideias voam por minha mente em uma tentativa de agradá-la mas Davika não é uma mulher comum e tentar dar flores parece uma ofensa então o que dar a uma pessoa que é imune a fragilidade feminina e que é tão capaz quanto qualquer homem?

Uma única palavra me vem a mente e a imagem do arsenal do meu pai pisca repetidamente em minha cabeça fazendo uma ideia se iluminar e um sorriso se esticar

Bem Davika apesar de não admitir tem o sono pesado

- Ela nem irá notar que estou faltando na cama - murmuro feliz com os rumos de meus pensamentos e mesmo que saiba que é uma péssima ideia ainda sim sigo firme com minha decisão de fazê-la ver fazê-la por fim enxergar o quão benéfico é nossa relação

Por que sim

Eu vou usá-la a meu favor e não tenho vergonha de admitir isso

Corto o bife e com ele ainda espetado pelo garfo eu o admiro com um sentimento diferente ao qual não sei nomear por que ninguém nunca fez nada para me agradar... a não ser que meu pai estivesse por perto  mas Davika se esforçou para fazer um jantar para mim ela tem suas próprias opiniões e não segue o fluxo e mais uma vez eu me pergunto o que trás brilho ao seu olhar pois uma mulher forte como ela merece ter alguém igualmente forte não para ser um estorvo mas para ajudá-la a carregar o peso de suas ações

No que mais essa mulher é boa?

Levo o alimento a boca e mastigo com uma animação recém descoberta

- Desde que não saia por aí contando coisas que não deve nós não teremos problemas - murmuro para o vazio da cozinha

Se ela souber 1% do que a família Dafoe esconde isso já é o suficiente para nos colocar em um mundo de problemas os jornais nos massacrariam os polícias fariam festa e a população ficaria horrorizada com o que se esconde no submundo

- Não, é melhor permanecer no escuro por que só assim eles terão a ilusão de segurança

Afinal quem quer descobrir que em sua casa se esconde um monstro  só a espera de que a noite caia para faze-lo ver que ninguém nunca está a salvo?

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