Animal

-Capítulo 16-

Só espero que sua tenacidade não seja um problema

Guardo tantas coisas que se descobertas elas nos arruinariam meu pai é o temido Oliver Dafoe e ter seu dedo apontado para si é uma sentença de morte então por que sinto como se aos poucos eu estou me matando? Conhecer Davika me deu um novo fôlego sua beleza é inquestionável mas sua força interna me faz perguntar se é possível que seja capaz de lidar com as sombras que me perseguem prontas para me arrastarem para a escuridão de meus pensamentos

- Sua pele é tão macia - murmuro ao acariciar sua bochecha

Seu sono é tranquilo Davika dorme como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo e só agora depois de passar boa parte da noite com uma estranha obsessão por observá-la dormindo é que me encontro pronto para fazer meu caminho pela noite não sei como acabei reparando em cada detalhe cada mínimo traço seu que a torna tão bela mas sem ter forças para me impedir de repente eu me vejo admirando tudo que a torna única mas que em conjunto a faz ser tão digna de ser retratada em um quadro 

Se eu fosse diferente talvez a convidasse para sair 

Quem sabe se eu não fosse um panaca eu teria alguma chance 

Não, não posso pensar assim

Algumas coisas só não estão destinadas a acontecer

- Como seria a sensação de beijá-la? - pergunto para o silêncio do quarto sem ter nenhuma resposta - Aposto que seria glorioso

Não sou o que chamariam de comum tenho 24 anos e apesar de querer saber como o amor realmente se parece nunca dei a oportunidade para que as mulheres me conquistassem pois o jogo que estou jogando é extremamente perigoso para se permitir  distrair

Desejo o amor como algo novo a experimentar mas ao mesmo tempo que quero descobrir esse sentimento que tanto faz homens entrar em conflito e mulheres cometerem loucuras eu também não sei se sou capaz de lidar com isso pois sou antissocial e minha vida é um distúrbio do que se possa achar normal

- E também não é como se Davika iria querer se corromper e perder tudo que tem só para permitir que tenhamos uma chance

Não ela não iria

Desanimado com esse novo pensamento dou um último olhar em sua direção e com o único objetivo de fazer as coisas melhores eu fecho a porta do quarto com todo cuidado para que não desperte e assim sem emitir um único som sigo para a porta da frente onde uma brisa gelada balança meu cabelo e com ela vem o frescor

A noite é o que mais tem de perigoso animais selvagens rondam as ruas em busca de uma presa o ser humano é perverso e não mede as consequências de seus atos e por isso deixar minha guarda costas se embrenhar em meus pensamentos é um erro

Sérgio será destruído e logo não precisarei da falsa proteção de Davika

Somos polos opostos ela representa a lei e eu sou o herdeiro do crime

Os guardas estão apostos não para me trancar dentro de casa mas sim para a segurança de quem tentar invadir então ninguém tenta me impedir quando começo a caminhar pela calçada de cabeça baixa de repente assustado com a direção de meus pensamentos por que sem explicação nenhuma Davika foi de uma companhia irritante para uma mulher muito beijável

Meus pensamentos são tão perigosos que sem perceber ainda pensando em Davika quase perco a sutil mudança no ar por que agora me encontro sendo vigiado por um predador sou um animal acuado sem onde se esconder tendo só uma calda para me perseguir então sem lutar contra o instinto de sobrevivência minhas pernas percorrem rapidamente o caminho até a casa de meu pai sem nunca deixar de olhar para trás e desse modo dando início ao jogo que só os fortes sobrevivem

- Como ele me achou novamente? - murmuro ofegante com a pequena corrida que faço

Duas vezes em menos de 24 horas

Essa é meu dia de sorte

A noite avança com a linda lua nos iluminando e cada vez mais que chego perto da casa de meu pai eu sinto como se ele estivesse brincando comigo para depois me esmagar como algo sem valor

Meu coração bombeia sangue com grande rapidez e uma decisão precisa ser tomada ou busco coragem de onde não tenho ou enfrento essa situação como um homem que meu pai se orgulharia mas no fim essa decisão é tirada de mim pois caminhando logo atrás de mim como uma sombra vem Alexandro e pela sua expressão de escárnio eu já sei que não gostarei de sua visita

Não não não

Isso não pode estar acontecendo

Ainda não está na hora

Meus pés ficam plantados no chão e não consigo sem piscar por medo de Alexandro fazer qualquer movimento e mais uma vez eu me vejo como uma possível vítima agora não só das circunstâncias mas também de assassinato pois seus olhos gritam que querem tirar sangue

- Veja bem se não é o garotinho do Oliver andando sozinho pela noite - ele zomba - Pensei que seu pai fosse mais cauteloso

Tenho uma ótima réplica para dá-lo mas aqui eu sou uma vítima indefesa e não posso antagoniza-lo por isso fecho a boca antes que possa dizer algo que me arrependa

Estava tão perto

Lamento ao olhar para o fim da rua

Alexandro é vicioso, cruel e adora dar esperanças as suas vítimas antes que as mate por tudo que sei a seu respeito não tenho dúvidas que caso eu fosse outro meu fim seria trágico

- Meu pai não me tem sob uma coleira Alexandro eu faço o que quero ninguém me controla - digo em um sorriso apertado com medo que alguém esteja nos vendo

A morte vem cavalgando trazendo dor, desespero e ódio por onde passa mas são as pessoas que ficam que devemos ter um cuidado melhor pois da vingança nasce um inimigo forte pronto para levá-lo ao chão

- Faça o seu melhor - digo a Alexandro o pegando de surpresa

Mais palavras não são ditas pois agora ambos temos nossos próprios objetivos em mente ele quer cumprir uma ordem e eu quero viver da arte