-capítulo 14-

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Com um suspiro, Evalin fechou a tampa do piano.

Pelas últimas 3 horas, sua mente continuara voltando para a reunião. Pelas últimas 3 horas, ela tentara tocar, sem resultado. Achara que talvez a música a ajudasse a ter ideias, a ver as coisas... mais claramente.

Mas tudo o que ela conseguira fora cansar os dedos, enquanto eles tamborilavam acima das teclas do piano, se recusando.a formar uma melodia.

—Por Wyrd... eu ainda não acredito que isso aconteceu contigo. De todos os homens do mundo, quais eram as chances de você ficado exatamente com ele?— a risada de Gwen soou ao longe —Tem certeza que não foi amaldiçoada pelos deuses

—Você não está ajudando— Evalin olhou irritada para a amiga, que estava folheando um dos seus livros, deitada da sua cama —Além do mais, quer sair de cima da minha cama?

—Mas as suas almofadas são tão macias— a jovem protestou, agarrando um travesseiro —Droga, eu te odeio por isso. As do meu quarto não são nem de perto tão confortáveis.

Gwen jogou a almofada na direção dela e Evalin riu, desviando por pouco. O travesseiro se chocou contra o piano e soltou uma nuvem de penas.

Como já estava anoitecendo, tecnicamente, a dama de companhia  não precisava estar ali. Mas ela  decidira permanecer... fosse para lhe dar apoio moral depois do fiasco da reunião, fosse para rir do seu sofrimento alheio. Gwen podia ser bem sádica, de vez em quando.

—Pela milésima vez, eu não fazia ideia que Marcus era um myceniano— disse a princesa —Como é que eu iria saber? Ele me disse que era um marinheiro. E eu tinha a reunião com Rolfe no dia seguinte, mas nem me ocorreu que Marcus podia ser um corsário— ela suspirou —Deuses, eu sou muito estúpida, não sou?

Ela se virou no banquinho para fitar a amiga— e os lábios vermelho-arroxeados de Gwen se contraíram em um sorrisinho.

—Não, não...— a lady conteve uma risada —Sério, você não é uma idiota. Todos precisamos relaxar de vez em quando e dormir com estranhos é uma forma tão justa quanto qualquer outra de fazê-lo. Além do mais... eu vi o cara. Ele é mesmo lindo de morrer.

—Ele tem um irmão mais velho. Não perca as esperanças— Evalin suspirou, enterrando a cabeça nas mãos. Ela se sentia tão horrivelmente burra. Como se não bastasse a humilhação que passara na frente de Marcus, Rolfe agora devia considerá-la uma piada. Ela vomitara no braseiro sagrado, pelos deuses!

Era só o seu primeiro dia como rainha. E, ainda assim, Eve já decepcionara a mãe de todas as maneiras possíveis.

—Ei. Ei, não fique assim— Gwen pareceu notar a sua cara fechada —Ainda não acabou, certo? Rolfe veio aqui pedir ajuda para encontrar o filho, não veio? Tudo o que você precisa fazer é ajudá-lo e tudo estará resolvido. Você vai ter o respeito dos mycenianos.

—Boa sorte com isso— Evalin resmungou —Rolfe está convencido do que Jonathan foi sequestrado. Pelos valg.

Para a surpresa da herdeira, ao invés de cair na gargalhada, Gwen empalideceu. Eve achava que era impossível, mas a pele alabastro da amiga ficou ainda mais clara, até atingir a tonalidade branca de papel:

—Rolfe acha... que os valg estão de volta? Os valg? Como Erawan e Maeve? Esses valg?

Era um medo completamente irracional, é claro. Mas ainda assim, Gwen tocou o anel que levava na mão esquerda, girando-o ao redor do dedo. Era um anel simples de ouro, pouco chamativo, mas que poderia ter sido confundido com uma aliança.

Não era nada disso, é claro. Aquele era um anel mágico forjado pela própria Silba, embebido com o poder de repelir os valg— o mesmo que Elide dera de presente à Aelin durante a Guerra, o mesmo que matara Maeve. Depois da guerra, a rainha o devolvera à Lady de Perranth, que por sua vez o dera para a filha.

WILDFIREWhere stories live. Discover now