-capítulo 15-

736 59 61
                                    

Rhye passou dois dias encarando o teto do quarto, xingando a sua mãe, as bruxas curandeiras e a vida, em geral.

Fazia quase dois dias desde que suas garras de ferro latejaram pela última vez. Depois do incidente na torre da aliança, Manon a levara até a enfermaria do palácio, onde passara quase quatro horas berrando, exigindo saber o que havia de errado com a filha.

Um pouco assustadas, as curandeiras tinham se apressado em fazer um exame completo em Rhye. E descobriram, rufem os tambores...

Porcaria nenhuma.

Não havia nada que explicasse o porque dela ter aqueles espasmos incontroláveis de dor, nas suas garras de ferro, ainda por cima. Rhye era uma bruxa saudável, com um corpo afiado como uma espada. Não era nada que já não soubesse, é claro... mas ainda assim fora um alívio.

Rhye não mencionara, no entanto, o gelo que vira nas pedras da torre. Tinha certeza de que fora só uma alucinação causada pelo cansaço... e não queria que sua mãe pensasse que ela estava ficando maluca.

Até porque Manon não ficara muito satisfeita com aquele diagnóstico. E urrara com as médicas, coisas como "Como é que não sabem o que tem de errado com ela? Eu pago vocês para que?", "Bruxa saudável? Eu vou te mostrar o que é uma bruxa saudável", além do favorito pessoal de Rhye, "É melhor arrumarem uma desculpinha melhor da próxima vez, antes que eu transforme vocês em adubo para as flores de Abraxos".

Como não estavam a fim de serem transformadas em adubo, as curandeiras logo vieram com uma ideia de tratamento. Rhye deveria passar cinco dias em casa, descansando, comendo alfafa e lendo até a vista doer.

A bruxa enterrou sua cabeça na almofada, gemendo ruidosamente. Ainda faltavam três dias, mas ela já estava subindo pelas paredes. Não havia absolutamente nada para fazer naquela merda de torre!

Enquanto ela descansava, sua aliança estava treinando. E boatos sem dúvida corriam pelo palácio a respeito da natureza da sua misteriosa doença. Da sua fraqueza.

Rhye se levantou da cama, atirando o travesseiro para longe com raiva. Ele se chocou contra um dos seus vasos, estilhaçando a cerâmica em milhões de pedaços.

Ela odiava aquilo. Odiava se sentir presa, inútil, confinada. Aquela torre era tão pequena, tão terrivelmente apertada. Por enquanto, Rhye estava segurando as pontas, mas não sabia quanto mais aguentaria. Às  vezes, ela se perguntava se...

Uma batida insistente soou na porta de Rhye.

O corpo da bruxa paralisou. Sem perder tempo, ela foi desencadeada na direção da porta, a excitação borbulhando em suas veias.

Talvez fosse a sua aliança, vindo visitá-la! Talvez fosse Petrah Sangre Azul, sua madrinha, ou até mesmo Manon, disposta a deixar a filha voltar à rotina! Sério, sua mãe reclamava dos feéricos, mas era tão superprotetora quanto um.

Porém, assim que abriu a porta, Rhye se arrependeu imediatamente da sua decisão.

Um príncipe de cabelos loiros, pele pálida e olhos cinzentos manchados de dourado a encarava através do batente. Branton Crochan, seu antigo amante.

Ah, merda. Era por esses e outros motivos que ela precisava arrumar um olho-mágico.

—Bom ver você, Rhiannon— os olhos de Branton se dirigiram para a capa vermelha que a jovem usava —Dia ruim?

Maldito. Ele sabia muito bem o que o manto Crochan significava para Rhye. A bruxa quase nunca o usava, porque era imprático na hora do voo e não combinava com todas as suas roupas. Só colocava a capa quando precisava do conforto daqueles lindos padrões cor de carmesim.

WILDFIREWhere stories live. Discover now