-capítulo 16-

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Rhye não sabia a quantas horas estava no céu.

Só que o ar esfriara. O o solo abaixo não era mais dunas nem campinas, mas florestas de pinheiro nevadas, cobertas pela primeira neve da estação. Se pudesse confiar nas formações do relevo, ela devia estar à leste das Montanhas Anascaul, na terra conhecida como Desertos Congelados.

Território de Terrasen. Territórios humanos.

Mas a princesa não ligava se aquilo era Terrasen, Adarlan ou até o maldito Império dos Desertos. Tudo o que importava era a brisa fria batendo contra seu rosto, o estrondo constante das asas de Lorelei e as árvores passando abaixo, na velocidade de um furação.

Cada fôlego era uma libertação. Rhye se banhou naquilo, no ar gelado das alturas, na sensação de disparar como um comete entre as nuvens.

Havia... uma espécie de fio que a guiava. Uma trilha de cheiro e gosto que marcava os ventos e cujo brilho dourado parecia tão real à herdeira quanto o dorso de Lorelei.

Há horas Rhye seguia aquela corda de pinho e neve. E quando ela finalmente sentiu que ultrapassava as fronteiras do Reino das Bruxas, que os montes de neve no chão se tornavam mais espessos...

Rhye sorriu e inclinou as costas para trás, deitando-se na sela. O dorso de Lorelei subia e descia, emanando um calor reconfortante. O barulho das asas batendo parecia uma cantiga de ninar.

Mas, ao encarar o céu límpido do deserto, por algum motivo... os pensamentos dela voltaram para a torre da aliança. Para a treinadora Yona.

—Foi estranho, não foi?— perguntou para Lorelei —A treinadora ter agido daquela maneira. Por que ela teria sorrido? Eu estava desobedecendo ordens ão fazia sentido ela estar feliz!

A serpente alada apenas deixou escapar um leve ronronar, Rhiannon passou a mão pelas escamas rígidas da asa do animal. Atrás de si, seu manto Crochan esvoaçava como uma cortina vermelha ao vento.

—Acha que eu agi mal?— seus olhos estavam fixos no céu —Quer dizer, a Yona obviamente ficou feliz ao me ver sair do palácio. Talvez vá arrumar uma maneira de usar isso contra mim. Ou contra minha mãe, vai saber!

Se a serpente alada pudesse falar, Rhye já sabia o que ela diria. "Pare de ser dramática! As alianças devem ter feito alguma aposta. Quem adivinhasse quanto tempo você aguentaria trancada sem surtar ganha um traje de montaria novo".

Rhye gargalhou. O pior é que a possibilidade não podia ser completamente descartada. Naquela manhã, suas criadas de fato haviam parecido interessadas nas intenções de voo da princesa.

—Se estiver certa, Lorry, então é você quem vai ganhar um traje de montaria novo. O Abraxos tem seda de aranha enxertada nas asas. A minha serpente alada mereceria no mínimo algo igualmente chique...

Lorelei deu um pinote. E o corpo de Rhye deslizou para a frente, seus joelhos se enfiando bruscamente dentro dos estribos.

—Mas o que..?.— assim que recuperou o equilíbrio, a bruxa ergueu a cabeça —É só uma brincadeira, não vou te obrigar a usar Seda da Aranha! Será que você poderia...

Mas a serpente alada grunhiu, como que a mandando calar a boca. E Rhye percebeu que os olhos de Lorelei estavam distantes, observando fixamente um amontoado de nuvens cinzentas no horizonte...

Onde algo se aproximava.

A bruxa estreitou os olhos. Não dava para ver direito, com toda àquela paisagem nevada refletindo o sol, mas parecia... uma nuvem de tempestade?

O céu estava limpo. De onde aquilo tinha vindo? E... porque parecia estar ficando maior?

A asa esquerda de Lorelei se ergueu e o corpo da montaria entortou, começando a dar meia-volta.

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