-capítulo 8-

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O sol nascente deu boas vindas à aliança conforme elas voaram rumo às muralhas da cidade das bruxas.

Rhye inclinou a cabeça para trás, sentindo o beijo gelado do vento em seu rosto. Casa, cada centímetro dela pareceu sussurrar. Você está em casa.

Abaixo, as duas estéreis haviam sido substituídas por colinas verdejantes, que desembocavam em um oceano cinza e revolto. O cheiro de água salgada preenchia o ar, assim como o perfume adocicado dos lírios do deserto.

Aos poucos, a cidade foi ficando cada vez maior. Até ocupar todo o campo de visão.

Rhye não podia negar que era uma visão impressionante. Era difícil acreditar que, a apenas 22 anos, aquele lugar não passara de ruínas.

Do outro lado das enormes muralhas de granito, se erguiam centenas de torres e torrinhas de pedra, todas impossivelmente altas, como se quisessem tocar o próprio céu. Bandeirolas azuis tremeluziam por cima das ruas amplas e arejadas. No céu, vassouras e serpentes aladas disparavam, carregando de tudo, desde mercadorias até mantimentos e materiais de construção.

A cidade era toda feita de pedra, com formidáveis arcos, abóbadas e passarelas góticas. Os telhados das casas eram pontiagudos, como chapéus de feiticeira. Gárgulas e entalhes cercavam as fachadas, protegendo-as dos invasores. A arquitetura parecia algo saído de uma antiga lenda.

Mas não eram as muralhas, as torres ou até mesmo as serpentes aladas que tornavam a Cidade das Bruxas tão formidável.

Não... era o fato de que aquele lugar só tinha sido recuperado por elas mediante séculos de guerra, luta e sacrifício. Um sacrifício que jamais seria esquecido.

Rhye fez uma saudação respeitosa para o obelisco que se erguia na pradaria florida, iluminado pela primeira luz da manhã. Na superfície do mármore, treze nomes haviam sido gravados:

Imogen. Ghislaine. Linnea. Kaya. Thea. Briar. Edda. Fallon. Faline. Vesta. Sorrel. Asterin.

E logo abaixo daqueles nomes:

À aquelas que foram a luz na escuridão. Que elas descansem entre as estrelas.

A luz na escuridão... não foram poucas as vezes que Rhye se pegara refletindo sobre o significado daquelas palavras. Elas tinham sido escolhidas pela própria rainha, para honrar o sacrifício das lendárias Treze, que executara a Renúncia para atrasar os exércitos de Erawan e salvar Erilea da destruição.

A princesa esperava que, do Além Mundo, a aliança da sua mãe estivesse ciente do quanto o seu sacrifício valera a pena.

Porque não eram apenas as construções exuberantes que tornavam aquela cidade tão especial. Nas ruas, música tocava e crianças corriam, livres como o próprio vento. Todos os clãs, unidos em algo maior.

Graças à Manon Bico Negro, as bruxas finalmente tinham voltado para casa. E Rhye tinha muito orgulho de ser filha da pessoa que tornara tudo aquilo possível. Sua mãe era tão irada! E como a jovem jamais chegara a conhecer o pai, isso tinha que valer de alguma coisa.

—Ah... eu só espero que a Glennis não brigue conosco por termos nos atrasado— comentou Tiora, que voava bem atrás de Rhye —Ainda tenho tantas manobras de voo nas quais preciso trabalhar...

Manobras de voo? A herdeira riu pelo nariz. Depois de uma noite tumultuada como aquela, tudo o que queria era cair na cama. Embora provavelmente não fosse conseguir nem pregar o olho.

Uma nova era. As palavras daquele humano continuavam reverberando na sua cabeça. O que será que ele quisera dizer com aquilo? E porque olhara para Rhye de um jeito tão estranho... como se soubesse de algo que a bruxa desconhecia?

WILDFIREWhere stories live. Discover now