-capítulo 6-

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Um nevoeiro escuro cobria as Ilhas Mortas.

Não era possível ver um palmo na frente do nariz. Até mesmo o Sol fora encoberto, se tornando nada mais do que um resquício de luz em meio à fumaça cor de carvão. Era como se algum Deus sombrio tivesse acendido uma fogueira e deixado as cinzas choverem sobre o Oceano.

Um mal agouro, era o que os poucos habitantes do arquipélago haviam sussurrado. Um aviso dos deuses.

Todos os navios haviam velejado para longe, temendo que a má visibilidade os levasse a colidir contra as pedras. Todos, menos um.

Ao longo da costa da erma ilha sul, a proa de uma embarcação ainda quebrava as ondas. As velas azuis eram como um farol em meio à fumaça negra. No topo do mastro, uma bandeira corsária havia sido erguida. Uma bandeira da frota myceniana.

Os marujos estavam de pé no convés, com lampiões acesos para iluminar o caminho. Conforme conduziam sua embarcação rumo ao coração do nevoeiro, nenhum deles ousou proferir uma palavra. Os únicos sons eram o rangido das velas e do leme de madeira.

Com as mãos no timão, o capitão guiava o barco com cautela. Bastaria um simples desvio para que eles fossem empalados nos recifes, se juntando aos espíritos de piratas mortos que, de acordo com as lendas, assombravam a região.

O jovem capitão, de nome Jonathan, estremeceu. Não pensaria em fantasmas naquele momento. Ou, ao menos, tentaria.

Havia dezesseis corsários naquele barco, todos tão valentes quanto o mar e a tempestade. Alguns já tinham velejado para terras distantes, tão misteriosas que nem mesmo haviam sido mapeadas. Não havia ali nenhum myceniano que já não tivesse provado seu valor diversas vezes, por meio de lutas sangrentas, das quais as cicatrizes muitos ainda carregavam.

Mas, mesmo assim, ao se aventurarem para dentro da escuridão, aqueles bravos homens e mulheres, criados no clamor do batalha... não conseguiram deixar de imaginar.  E com aquela criatividade fértil dos marinheiros, eles olharam para o nevoeiro... e se perguntaram o que poderia estar espreitando dentro dele.

Há apenas 22 anos, as Ilhas Mortas haviam sido uma base valg. Uma criadouro de aberrações demoníacas e criaturas saídas do reino do inferno.

Saltador das Ondas. era o nome gravado na lateral daquela embarcação. O barco era tão pequeno... tão indefeso. Que chance teria contra uma monstro das profundezas, contra a boca aberta e cheia de dentes de uma serpente marinha?

São apenas lendas, Johnathan se obrigou a lembrar, enquanto o navio reduzia a velocidade. Lendas tolas e absurdas. Não podem nos machucar.

Certo?

Com um grito do estivador, a âncora foi baixada. Cordas foram puxadas, ordens foram gritadas e lentamente, um pequeno bote foi descido até o mar.

Aquela sequência familiar de ações tranquilizou Jonathan. Quantas vezes ele já não tinha feito aquilo? Quantas vezes não se aventurara naquele arquipélago, apenas na companhia do irmão mais novo?

Claro, seu irmão não estava ali agora. Ele estava em Terassen, inspecionando a frota myceniana a mando do pai. Sem dúvida procurando alguma encrenca para se meter.

Mas o mar... era o território de Jonathan. Nada de ruim iria acontecer. O marujo ficaria bem.

Apesar do clima estranho, as águas estavam tranquilas. E a calma do capitão também foi restaurado quando ele desceu pela pequena escada de corda, até o bote que flutuava sobre as ondas, à sua espera.

Quatro outros marujos desceram com ele. Três homens e uma mulher. Todos belos guerreiros mycenianos, todos ainda na flor da idade.

Enquanto os cinco remavam lentamente com pequeno barco rumo à costa, o capitão tentou ao máximo não olhar para os piratas que ficaram no navio. Iluminadas pela fraca luz das tochas, as feições amedrontadas deles assumiram uma aparência sobrenatural.

WILDFIREWhere stories live. Discover now