-capítulo 17-

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-EVALIN-

Sua filha estava se afogando num mar de luz.

Aelin tentava ir na direção dela, mas não conseguia. Alguma coisa a prendia e a arrastava para trás.

A luz a sufocava. Entrava por sua boca e por suas narinas...Era tudo igual a antes. Exatamente igual a antes. 

Nerissa não se debatia, não lutava para escapar. Apenas... flutuava em meio a um mar infinito de poder, de luz branca. Sua pele estava impossivelmente pálida e luminosa, e seus olhos estavam fechados.

E havia mais alguém ali. Era esse alguém que paralisava Nerissa, que a fazia esquecer do próprio nome, se perder no abismo do próprio poder...Estava frio dentro daquele abismo. Frio como uma noite estrelada.

—Nerissa!— Aelin berrou, e sua voz se perdeu em meio à intensidade do poder da filha —Nerissa, fuja! Isso não é o que você pensa, isso vai te destruir...

Mas Nerissa apenas estendeu a mão, o rosto inexpressivo enquanto um filete de luz condensada dançava por entre seus dedos.

—Filha...— o pânico disparou por cada centrômero do corpo da rainha.

—Eu não sou sua filha— Nerissa sussurrou, baixinho.

Não. Tudo menos isso, tudo menos isso. Sua filha, sua criança. Sua filha, que ela amava tanto.... 

Era igual a antes. Exatamente igual a antes.

E era sua culpa. Era tudo sua culpa. Fora Aelin que começa aquilo, que provocara forças que não conseguia compreender, que condenara Nerissa àquele inferno de luz branca...

Sua filha, sua filha...

Alguém estava rindo, gargalhando em êxtase com o sofrimento da rainha.

—Não!— Aelin urrava —Deixe-a em paz, deixe-a em paz! Foi tudo minha culpa. Por favor, me leve no lugar dela...

As gargalhadas apenas aumentaram. E Aelin sentiu um segundo antes de acontecer. Um trovão iniciado nas profundezas do universo. Milhares de portas se escancaram, portas dos mundos, das mentes, da magia...

E então, os olhos de Nerissa se escancaram com um estrondo.

E Aelin abriu os seus junto com ela.

*

Ela se levantou bruscamente da cama, os cabelos encharcados de suor frio com um grito silencioso ainda contido em sua garganta.

Nerissa. Aelin estivera lá, nas profundezas do poder da jovem. Tinha visto, tinha visto tudo...

—Coração de Fogo?— a voz, e o toque de Rowan em seu ombro foram uma âncora para arrastá-la para longe do pesadelo.

O rosto de seu parceiro se tornou nítido. Rowan estava ajoelhado bem à sua frente, os olhos verde-pinho tomados pela preocupação. Aelin soluçou baixinho.

—Ei. Ei— ele a puxou para perto de si —Está tudo bem, Coração de Fogo. Foi só um sonho. Já acabou.

A rainha assentiu, mas abraçou Rowan mesmo assim. Ao redor deles, as paredes curvas de madeira da cabine os envolviam carinhosamente. Navio... aquilo era um navio, não um poço de poder. E Nerissa estava em Terrasen, totalmente segura...

Ou o quão segura Nerissa jamais poderia estar.

Ao longo dos últimos anos, Aelin já tivera aquele mesmo pesadelo inúmeras vezes. Sempre acabava da mesma maneira. Com ela implorando desesperadamente para a voz que gargalhava, e com a voz torturando sua filha mais ainda.

WILDFIREWhere stories live. Discover now