-capítulo 20-

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-MANON-

Manon Bico Negro não acreditava em fantasmas. Jamais creu na existência de assombrações.

Até aquele exato momento.

Quando o seu mundo inteiro desmoronara, ela estivera em sua sala de reuniões, cercada por outras vinte bruxas. A clima lá dentro era bagunçado, com as alianças debatendo em alto e bom som. Elas estavam reunidas em torno de uma mesa redonda, onde repousava um mapa do deserto.

Petrah Sangue Azul, a mão direita de Manon, fez um gesto indicando o mapa.

—Nos últimos dias, tivemos dezesseis grupos de caçadores humanos cruzando o rio Teligno. Eles saquearam nossas plantações na fronteira sul, e também atacaram um ninhal de serpentes aladas. Sua Majestade...— a bruxa fez uma pausa —Os humanos estão ficando mais atrevidos, adentrando cada vez mais profundamente no nosso território.

O olhar da rainha se fixou nos pontos alfinetados no mapa. Dezesseis alfinetes, um para cada invasão humana.

Ridículo. Era ridículo que elas, Dentes de Ferro poderosas, estivessem sendo saqueadas por meros vermes. A bruxa que Manon um dia fora tinha não teria hesitado em recorrer para a matança, em invadir o Império dos Desertos e ensinar uma boa lição àqueles humanos arrogantes. Mas ser a rainha unificadora de todos os clãs infelizmente significava que ela não podia mais resolver merdas como aquela apelando para o assassinato.

—Talvez— observou uma Sangue Azul —Devêssemos mandar um comunicado para a Alta Rainha Ansel. Dizer que não vamos mais tolerar...

No fundo da sala, alguém riu com escárnio.

A silhueta esquálida da treinadora Yona se destacou, conforme a mulher levantou se sua cadeira.

—Mandar um comunicado? E o que nós diríamos nesse seu comunicado? "Por favor, gentil rainha Ansel, mande o seu povo parar de atacar o nosso"?. Não sejam ingênuas. Nós somos bruxas. Não podemos choramingar e implorar aos humanos para que isso pare. Temos que agir.

—Permita-me lembrá-la, treinadora— a voz de Manon soou mais fria —Que está nessa reunião como conselheira, não como membra do Conselho das Bruxas. Logo, você tem um poder limitado para opinar.

Yona, no entanto, não se transtornou com o comentário.

—Os humanos vão continuar nos atacando. Vão continuar atacando nossos criadouros,, matando nossas montarias e roubando seus ovos. Será que não chegou a hora de dizermos basta? Por quanto tempo mais nós vamos tolerar a presença desses ratos nas nossas fronteiras? Por quanto tempo mais vamos tolerar que eles ocupem o deserto que por direito é nosso?

Vários acenos e murmúrios de aprovação se espalharam pela sala.

—Não preciso ser membra do conselho para saber que tenho razão— chiou a velha —Olhem para nosso reino! Está literalmente desmoronando. Nossas fronteiras estão sendo invadidas, nossas montarias estão sendo assassinadas. É apenas uma questão de tempo até que um exército humano bata à nossa porta e...

—Exército humano?— Petrah riu com escárnio —Sinceramente, Yona.

A treinadora não se deixou afetar pelo comentário.

—Agora eles matam serpentes aladas. Logo, começarão a matar bruxas também. E não se esqueça que Terrassen— a anciã bateu com as unhas no norte do mapa —montou um acampamento de legiões na nossa fronteira. Eles estão reunindo um exército. Um exército para nos atacar.

Sussurros preocupados percorreram a câmara.

—Mas... Terrassen é nossa aliada!— alguém protestou.

WILDFIREWhere stories live. Discover now