𝐏𝐫𝐨́𝐥𝐨𝐠𝐨

299 51 167
                                    

A chuva grossa batia contra as telhas mas mesmo assim conseguia senti-la

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

A chuva grossa batia contra as telhas mas mesmo assim conseguia senti-la.

O frio passa pelo meu pescoço, o vento está forte comparado a antes. Não tenho certeza se é o lugar que é escuro ou se realmente é a noite exposta que escurece ainda mais a minha visão por trás do tecido molhado que esconde meus olhos da realidade.

O fato é que estou em algum lugar.

Em algum lugar a qual não consigo distinguir pelas sensações que percorrem minha pele. Estou tremendo de medo e frio, fazendo com que minha pele molhada da chuva misturada com o meu próprio suor por persistir em fugir se arrepiar.

Eu só gostaria que as coisas voltassem a ser como eram...

Lembranças. Únicas coisas que me restam.

A música e as melodias misturam-se entre elas.

O som da chuva começa a ser um vasto som perturbador entre o silêncio que, repentinamente, é quebrado pelo som de passos que se aproximam em um ritmo maçante que choca a água de pequenas poças abaixo de seus pés.

Posso sentir meu coração, desesperado e atormentado, temendo com o que mais pode me acontecer.

Qual poderia ser a próxima morte?

As correntes em meus pulsos tilintam em um brusco movimento em tentativa de me soltar novamente. Os passos ficam mais altos e os movimentos ficam mais desesperados. O pedaço de pano que impossibilita minha visão atrapalha na tentativa de querer abandonar as correntes em minhas mãos. E quanto mais tento, mais fracasso.

Estou começando a me machucar mais do que já estou machucada. Torturada e atordoada pela dor, a lembrança dos chutes e os espancamentos traz de volta a dor e o latejar das feridas. A dor me faz enfraquecer, mas me esforço para manter-me de pé abafando o tecido em minha boca a qual segura meus berros e gritos de socorro.

Tudo fica silencioso de repente. Os passos pararam e a chuva enfraqueceu.

E então, uma voz de timbre grosso e familiar ecoa pelo lugar. É o mesmo cara que me ameaçou de me machucar caso eu me mexesse ou sequer respirasse.

- Seu cliente concorda com o valor, certo?

- Se não concordasse, eu não estaria aqui. - A voz de um homem visivelmente um pouco mais jovem responde com desdém.

Posso sentir o agressor próximo a mim. De repente, ele puxa as correntes presas aos meus pulsos com extrema brutalidade, me puxando para o seu lado. Sem conseguir ver meus próprios passos e com dor, tropeço sentindo minhas pernas fracas e trêmulas bambolearem antes de me equilibrar sobre o meu próprio peso e assim ficar como querem que eu fique. Como me ameaçaram para ficar quando este homem específico estivesse entre nós.

- Muito bem... aqui está a sua mercadoria.

- Mas o qu... - O homem grunhe - Isso é algum tipo de piada? É uma pessoa!

- E...?

- Eu não sou um palhaço assim como também não sou um maldito sequestrador. Uma pessoa, ainda por cima viva, nunca foi parte do negócio!

- É assim mesmo? Então você não se importaria se eu vendê-la a outra pessoa, se importaria?

Silêncio.

A ansiedade faz com que meu sangue ferva, faça com que esperar seja impossível, faça com que aquele momento em que chorei pelo primeiro ato de violência seja vingado de uma vez. A paz que nunca conquistei seja adquirida de uma forma ou de outra.

Morrendo ou vivendo.

Enrolo as correntes nas mãos. Do pano fino e molhado, enxergo sua silhueta.

- MOÇA, SAI DAÍ!! - Aquele homem que por algum motivo me defendeu, grita.

Sinto meu corpo ser arremessado no chão. Minhas costelas batem contra o chão e no mesmo instante me encolho ali, contorcendo-me de dor.

A venda em meus olhos e boca caíram, mas mesmo assim não consigo ver e muito menos respirar normalmente. Vejo telhas quebradas e um céu escuro e nublado, uma lua covarde sob nuvens negras e caliginosas me observa enquanto vejo tudo sobre mim girar enquanto volto a ser torturada.

Minha cabeça dói e meus olhos ficam pesados. Mas o que procuro focar é o silêncio total e contínuo.

A chuva fica mais forte.

Sem forças e desistindo de tudo e qualquer coisa, desejo estar morta. Desejo que esta última pancada me leve à morte. Desejo que quando fechar os olhos...

...eu esteja morta.

Fecho meus olhos dando um último adeus às estrelas inexistentes desta fria e desgraçada noite.

Algo toca meu pescoço com cuidado, acima da minha artéria carótida, mas não tenho reação. Não tenho reação até mesmo quando sou retirada do chão em que minhas costas estão fixas.

Desde aí, me rendo à total inconsciência...

...então tudo fica mórbido e sombrio.

então tudo fica mórbido e sombrio

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Caçadores de MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora