𝐏𝐞𝐥𝐨 𝐐𝐮𝐚𝐥 𝐚 𝐌𝐞𝐥𝐨𝐝𝐢𝐚 𝐓𝐨𝐜𝐚

21 4 21
                                    

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Uma melodia desafinada de piano é tocada, sem ritmo, sem pé e nem cabeça, sem começo e sem fim.

A cobertura do apartamento é silenciosa, um helicóptero ecoa próximo, o vento está pesado e faz com que eu feche o zíper do meu moletom, Os fios de ouro de Benjamin são jogados para o lado pela brisa, não importa o quanto ele o ajeite, a brisa insiste que ficaria mais lindo com o cabelo para o lado. Mag se aproxima da espreguiçadeira em que estamos sentados tentando decifrar o que descobrimos ontem a noite.

Eu encaro Benjamin tentar se concentrar para tentar repetir no piano digital o que a parede nos mostra. Uma espécie de agonia sobe à cabeça vendo os erros que comete enquanto toca nas teclas do piano, não sei se já tive alguma experiência com pianos mas de alguma forma, sei exatamente cada erro que ele comete.

Tudo estava escuro, eu ouvia aplausos, minhas mãos estavam sendo esquentadas por luvas, minhas têmporas estavam lisas, o público não conseguia resistir a mim, minhas mãos faziam arte, era puro talento na ponta dos dedos, era o talento de dois artistas que vazavam pela abominação que era o meu sangue. Eu era o desejo de consumo das orquestras que me assistiam, eu era o desejo de consumo de qualquer um daquela plateia abaixo de mim, abaixo do palco, abaixo das luzes que me penetravam e que me exibiam para a adoração deles. Tudo era vermelho, preto e dourado.

Mas o piano era branco e não era manchado pelas minhas mão ensanguentadas. As luvas as cobriam com elegância.

Apesar do meu desconforto, não me permitia errar uma tecla sequer. Eu não podia. Eu não aceitava. Eu odiava.

Massageei minha têmpora.

A sensação de ter saído de meu corpo, evaporado e ter me encontrado em outro universo, tão paralelo a este se fora. Vermelho, preto e dourado. Azul, branco e dourado.

A melodia desafinada de Benjamin continuava.

— Não, ainda está tudo errado. — Digo em meu limite.

— Odeio perguntar isso de novo, mas...você tem certeza de que aqueles pontos brancos na parede são notas musicais? Francamente, não consigo ver nada além disso. — Benjamin coloca o Ipad de lado para pegar mais uma vez a imagem da parede e dos pontos brancos em minhas mãos. Dou um longo suspiro colocando o bloco de notas de lado e pegando um bagel do prato ao meu lado, dando logo uma enorme mordida.

— Sm ten crtz...claro! — Digo de boca cheia.

— Desculpe, o quê?

— Sim, tenho certeza. — Engulo de uma vez enquanto penso em algo — Desculpe, parece que como enquanto estou estressada...muito, aparentemente. Não conte a Ethan, mas eu roubei seus biscoitos de chocolate que tentou esconder de nós.

— Meus lábios são mais silenciosos que um necrotério. — Ele ri enquanto faz um sinal com as mãos, levando o dedo indicador e polegar de uma ponta a outra acima de seus lábios como um zíper.

Caçadores de MemóriasOnde histórias criam vida. Descubra agora