𝐒𝐞𝐠𝐮𝐧𝐝𝐚 𝐌𝐞𝐦𝐨́𝐫𝐢𝐚

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Meu ritmo cardíaco era opressor enquanto sentia minha cabeça ceder à exaustão, à fome e à dor intensa que ainda poderia sentir em cada membro do meu corpo preso.

Me sentia observada, mas não por alguém, uma pessoa.

Era uma parede.

Só isso que havia ali e que poderia sentir me observar de volta enquanto me encontrasse em um estado tão deplorável quanto este.

As palavras e pontos pichados nela rasgavam a minha alma, era o meu poder me autodestruindo, minha fonte de sobrevivência me matando aos poucos, puxando meu fôlego e me devolvendo em asco.

Como poderia respirar neste lugar? Como poderia permanecer aqui sabendo que minha liberdade se resumiria a um tiro na minha cabeça?

Estou cedendo à derrota óbvia, mas algo ainda faz minha cervical se elevar, fazendo minha cabeça levantar, junto ao corpo mole que, amarrado a uma cadeira, se torna rijo.

O meu próprio medo me acordara para que não precisasse vivenciar mais uma vez o pesadelo se instalando dentro de mim, causando-me espasmos que me faziam implorar para que cessassem aquele defloramento ao meu corpo.

O senti próximo a mim, seu cheiro se misturava ao da podridão que me cercava. Sua presença fez meus ossos vacilarem, meu sangue fervilhar e seu toque em minhas costas fez minha coluna arquear com um arrepio que se apossava de meu torso como o ódio que já estava corroendo minha carne numa intensidade avassaladora.

Passara por trás de mim e quando esteve frente a frente comigo, se abaixara para que igualasse nossas estaturas. Queria me engolir com seus olhos, mas mesmo assim eu o encarava de volta como a uma presa prestes a ser a fonte de alimento para o seu predador.

Apesar de fraca, meu olhar não vacila ao seu, minha defesa são as palavras que ainda tenho a ousadia de cuspir contra ele. Mas até quando a sua paciência aguentaria quanto à minha negação?

Tirou um isqueiro e um maço de cigarro do bolso interno do paletó, quando recém acendido o agitara ao alto da minha cabeça, as cinzas caem pelo meu cabelo molhado enquanto me olha esperando quaisquer reação. O vejo abrir um sorriso amarelo após baforar em meu rosto, o cheiro do cigarro me sufocando em seguida, se misturando ao cheiro de podre deste lugar.

Certo, eu a trouxe aqui, querida, para decifrar o código. Você pode fazer isso ou não?

Não o respondo.

— Eu me lembro de ter lhe dado seis horas. — voltou a falar e a baforar contra minha face — Isso não é o suficiente?

— E eu me lembro de dizer para você ir e se foder você mesmo. Posso ser contratada, mas não trabalho para criminosos...principalmente para canalhas como você. Me sequestrar e me amarrar não é a melhor maneira de me pedir ajuda. E você me enoja. — Respondo enfrentando a repulsa provocada.

O vejo suspirar e soltar um riso, não como se estivesse se divertindo com isso, não como se achasse graça de algo. Era raiva.

Tão forte quanto o estrondo de uma onda se chocando contra uma rocha em meio a uma tempestade violenta em pleno mar e mais rápido que o bater de asas de uma borboleta, meu rosto é lançado para o lado contrário, a adrenalina me impede de sentir a ardência e posso sentir a lateral do meu lábio inferior adormecer e algo quente escorrer dentre ele. Com o rosto jogado e vacilando em meio a tontura momentânea, cuspo o sangue.

Lentamente, levanto a cabeça observando o homem à minha frente me olhar com um sorriso malicioso enquanto chacoalha o punho que me surrou. O anel em seu dedo anelar tem um brilho carmesim belo, provando que meu sangue é tão valioso que é capaz de trazer beleza ao que já é arruinado.

— Eu realmente não quero fazer isso, machucar um rosto tão lindo como esse é um verdadeiro pecado...mas às vezes você deixa a desejar. Então pare de insistir e me ajude, não piore mais as coisas!

— Faça o que quiser. Me espanque o quanto quiser, me mate! Assim não terá o que tanto quer, não é? Você pagará caro por isso. — Rebato, ofegante.

— Receio, jovem senhorita, não ser um homem com quem se possa negociar. — O homem aponta para a parede — Seis horas. Eu quero respostas. E eu espero que você as tenha quando eu voltar, senão...

Terás o que tanto quer...

...se é que quer.


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Caçadores de MemóriasWhere stories live. Discover now