𝐄𝐩𝐢́𝐥𝐨𝐠𝐨

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2 meses depois...

  As memórias misturam-se com as melodias enquanto caminho fazendo pequenas orações. 

O ar gelado beija meu rosto agora com feições mais belas, os olhos marcados por rímel e os lábios com uma leve camada de gloss enquanto minhas maçãs do rosto se tornaram mais rosadas e meu corpo um pouco mais fardo.

O vento passa suave pelo meu rosto mas chicoteia meu cabelo que foi descolorido e pintado novamente, porém agora com a minha cor natural de cabelo. Confesso ainda sentir um pouco de saudade  daquele loiro platinado, mas talvez sinta mais falta, principalmente, daquele moreno escuro, daquele belo cabelo cor de piche que foi desbotando com o tempo e me obrigou a dar uma repaginada novamente.

 O vento também mexe com a saia do meu vestido preto opaco, comprado com a fortuna que consegui desbloquear daquela conta bancária que Yoshi iria reter de mim.

  A grama está muito verde, está viva, tão diferente daqueles que a ocupam...

  ...e talvez daquela que a pisa.

  Em uma mão, seguro minha bolsa, e em outra, um buquê de Proteas.

 Pesquisei muito sobre as flores que iria comprar, quero que este dia seja importante para mim pelo simples fato de que quero que tudo o que ocorreu comigo, tudo e mais um pouco das tragédias que vivi em um passado que luto todos os dias para não lembrar desde o caso do cassino, enfim acabe. 

 Não há mais as correntes das torturas físicas e psicológicas que permaneceram comigo por doze longos anos. E é com a lembrança disso que estarei velando esta parte do meu passado. 

A flor de Protea significa força, incentivo de coragem e energia em alguém que luta há muito tempo, a flor além de ser linda e incomum, inspira superação. Achei que faria sentido leva-las para cá, acho enjoativo o padrão de rosas brancas ou vermelhas...

  Aquela garota merece muito mais que apenas simples rosas.

  É uma despedida estranha, mas de certa forma, me causa uma sensação de leveza. Claro, não esquecerei dos atos e das palavras cruéis de Yoshi, será um trauma que carregarei até aqui, mas pelo menos estarei seguindo em frente longe das garras dele, talvez até procurando formas especialistas para superar tudo isso.

  Avanço o gramado com pequenos dentes-de-leões florescendo do solo úmido.

  Passo por tantas e outras lápides, todas simples, todas rodeando aquelas três feitas de mármore e granito, visivelmente tão caras. E ali em frente àquelas três, eu paro e faço uma reverência e distribuo um pouco das flores para os três túmulos.

Primeiro para aquele onde o epitáfio está marcado como Thomas M. Howard, o segundo onde marca Anna M. Howard e, por último, o verdadeiro motivo para eu estar em um cemitério em uma tarde de sol de quarta-feira, o epitáfio marcando o nome de Elizie M. Howard, 18/12/1997 – 2014. A única pessoa ali daquele cemitério que não teve um dia exato de morte. Uma garota que não teve a oportunidade de viver a vida e de apenas sobreviver a ela.

  Aquela garota sim é filha de Thomas e Anna, eu apenas fui uma lembrança do que eles queriam projetar como sua filha.

  Me ajoelho ao lado da lápide de granito com detalhes em mármore de Elizie. Mesmo não sabendo no que estou a acreditar, faço uma pequena oração para que os anjos acolham aquela parte de mim, que ela se junte bem com aqueles que um dia amei. 

  A brisa que passa por mim esfria as lágrimas mornas e salgadas. Não demora muito até que me entregue por completo aos soluços.

  Sinto uma mão quente sobre meu ombro. Ela o aperta enquanto seu polegar o acaricia.

  Viro-me para trás para encarar Ben que segura algumas rosas. Ele não diz nada, apenas sorri de forma reconfortante e de meus ombros suas mãos deslizam pelas minhas costas até passar por mim para deixar as flores nas lápides de meus pais e por último para Elizie. Ele está todo de preto também, a camisa de botões, o casaco leve os tênis e a calça. Ethan e Jacob, que também estão vestidos de preto, o seguem para deixar suas flores para as três lápides. Quando eles passam por mim, também me dão um leve sorriso. As flores que Ethan coloca sobre as lápides são muito semelhantes àquelas que ele me trouxera quando nos "conhecemos" e Jacob deixa algumas suas rosas brancas e tulipas.

  Eu os observo prestando as suas próprias homenagens com um sorriso grato, sentindo as linhas que as minhas lágrimas trilharam sobre as minhas bochechas vermelhas.

  Em toda a trajetória desde que chegamos aqui, eles se mantiveram calados, tão na deles, mostrando o quão sérios e respeitosos estavam quanto ao momento, que esqueci de suas presenças. Me senti tão sozinha que quase implorei para queEthan e Ben que brigassem por algum motivo aleatoriamente bobo, que Jacob os mandasse calar a boca enquanto eu ria por dentro.

  Levanto meu joelho, me levantando do chão, e os três vêm em minha direção me puxando com cuidado. Eu olho para eles por alguns segundos, os olhos brilhando com gratidão, então, sem perceber apenas me jogo em seus braços, abraçando-os com força.

Apesar de surpreendidos no começo, eles retribuem o abraço. No meio daqueles calores, respirações e batimentos entrelaçados não havia intrigas, não havia diferenças, não havia o criminoso, o enfermeiro e o policial que estiveram comigo enquanto tentávamos descobrir quem estava por trás de todo o inferno que me seguia, são apenas os homens que tenho orgulho de chamá-los de amigos.

  — Obrigada — Sussurro em seus meios, sentindo as agradáveis fragrâncias de seus perfumes e de suas roupas, todas com as mesmas cores combinando com as minhas, suas mãos passando pela minha cabeça e minhas costas de forma reconfortante — Obrigada por tudo, de verdade.

  — Sabe que não há por que agradecer. — Jacob diz passando a mão pelo meu cabelo, as bochechas vermelhas e um carinho terno.

  – Sim, eu tenho. Tenho muitos motivos para agradecer.

  Óbvio que tenho.

Devo agradecer por mesmo depois de tudo, mesmo não tendo mais motivos para continuarem me seguindo, eles ainda quiseram estar ao meu lado. Eles quiseram mudar nossas relações. Mudar a relação de apenas paciente e enfermeiro, caso e detetive, vítima e "criminoso" para apenas amigos.

Talvez até mais que isso.

Talvez uma segunda família.


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