estático

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Amanheceu e o garoto não dormiu, na verdade ele mal se moveu desde que escutou a porta da casa bater, ele ficou lá, estático, tentando assimilar que o que ele sempre quis aconteceu, seu pai nunca mais vai o machucar, mas isso não o deixa com nenhum sentimento positivo, ele se sente abandonado e traído, sabe que virão atrás dele caso não encontrem Hades, e por mais que isso gele seu estômago ele não consegue se mover, seja para planejar algo mirabolante que o tire dessa ou para pensar em fugir, não, ele só fica petrificado exatamente onde o pai o deixou, a conversa em um looping em sua cabeça, a única coisa que o traz de volta a realidade é a voz da sua mãe o chamando do quarto.
Ele pisca as lágrimas retidas em seus olhos e vai até o quarto da mãe, vê o que ela precisa e diz que não sabe onde Hades está quando ela pergunta, logo dá seus remédios e vai preparar o café da manhã, ele age no automático, prepara o café e leva até sua mãe, a observa comer e divaga sobre como ela vai reagir ao notar que seu marido foi embora, de repente é tirado de seu devaneio pela voz preocupada dela perguntando se hoje não tem aula, ele olha o relógio e vê que provavelmente vai se atrasar até chegar lá, mas sabe que se ficar em casa ela vai ficar preocupada, então checa se ela não precisa de mais nada e vai tomar um banho.
Depois de deixar a água fria escorrer por seu corpo em uma tentativa falha de o despertar da letargia, ele vê que chegou a escola, quando seu primo segura seu braço o puxando para uma sala vazia o tirando dos corredores. Percy o encosta contra a porta e lhe dá um beijo lascivo, passa as mãos pelo seu tronco debaixo da camisa, não parece perceber que o outro não corresponde.
- Você demorou hoje, tive que inventar uma desculpa para sair da sala quando te vi passando no corredor. ( Ele diz em seu pescoço) É bom que ficamos até a hora do intervalo, você já perdeu a primeira aula, e eu posso dar uma desculpa dizendo que me senti mal (ele continua falando, imerso em sentir o outro e acalmar seus hormônios) Esses dias longe de você foram uma tortura, mas Anabeth não sai do meu pé (ele diz rindo enquanto sua mão invade a calça alheia)
Ao perceber que o garoto não está excitado como ele, o maior para suas carícias e finalmente olha para o rosto de Nico, que está com um olhar distante até Percy segurar seu rosto e perguntar o que aconteceu, e então, não conseguindo mais adormecer suas emoções ao acreditar que está com alguém que se importa com ele, o garoto solta um soluço engasgado e começa a chorar, seu corpo treme e seus soluços ficam altos, o de olhos mar não sabe o que fazer, ele continua perguntando o que aconteceu e assistindo o outro chorar, então hesitante o abraça e Nico chora em seu peito, parece se passar horas até ele interromper o choro constante e tentar explicar o que aconteceu.
-Meu...(ele funga e se recompõe como pode) meu pai foi embora, e eu deveria estar feliz, mas...ele falou comigo, falou de verdade, com sentimentos, não só gritou e exigiu que eu não demonstrasse reação ou me bateria, ele chegou perto de fazer um discurso e disse que se importava, que amava a gente do jeito dele, e então... (ele engole o choro) ele saiu pela porta e não vai mais voltar. (Ele fica em silêncio um momento tentando controlar a vontade de voltar a chorar)
- Eu sinto muito Ni (o garoto se vê obrigado a dizer não suportando o silêncio)Mas...não é melhor assim? Quer dizer...ele só te maltratava...
- Ele disse que tinha esperança que isso me deixasse forte (ele interrompe o outro) Ele é um babaca, eu sei, mas ainda é o meu pai. (E volta a chorar, mas agora controlado, só com as lágrimas escorrendo pelo seu rosto silenciosas)
Percy o abraça forte e acaricia suas costas de forma reconfortante, " eu sinto muito" ele volta a dizer.
- E isso nem é o pior (ele diz com a voz abafada pela camisa alheia)
Percy se tensa e engole em seco antes de perguntar.
- O que é o pior?
- Ele não foi porque quis...ele deixou dívidas, problemas. Iriam o matar se não pagasse, por isso ele se foi. E agora...virão atrás de mim, virão atrás da minha mãe (e dessa vez o choro desconsolado retorna)
Eles ficam na sala escondida até depois do intervalo, Nico tentando se acalmar e Percy dizendo que vai ficar tudo bem. De repente alguém gira a maçaneta, eles se desgrudam, Percy ajeita a camisa úmida e Nico tenta desesperadamente secar suas lágrimas que não param de cair silenciosas pelo rosto, então se desencosta da porta e um professor a abre, ele olha para os alunos atentamente e não diz nada quando faz sinal para eles saírem, mas os acompanha ainda silencioso até suas respectivas salas.
Enquanto caminha de volta para casa, ele lembra vagamente da repreensão da professora quando entrou na sala atrasado, e dela calando seu discurso ao perceber o estado do garoto, ele revê os olhares curiosos e de pena dos seus colegas, de Tyson (irmão mais novo de Percy e seu colega de turma) perguntar se ele estava bem, então ele só enterrou a cabeça na mochila em cima da carteira e se desligou da realidade, só lembra de ser trazido de volta por Tyson avisando que a aula acabou, e então como em um piscar de olhos ele está caminhando para casa. Está pensando no que vai dizer quando Minos aparecer na sua casa, quando é surpreendido por alguém o agarrando e forçando um pano no seu rosto, ele se contorce e se agarra na porta da van que estão tentando o colocar, porém acaba soltando sozinho quando sua visão fica preta e seu corpo sem peso.

Anjo Caído ( Nico Di Angelo) Where stories live. Discover now