Desfecho

34 3 0
                                    

Encaro meu prato intocado por tem demais, enquanto a agente Mendes nos diz o andamento do caso. Afortunadamente a descrição que o Nico me passou deu uma pista de onde devem procurar, mas isso já faz três dias e as chances de o resgatarem com vida só diminuem. Vejo meu pai apertar levemente a mão de Maria,  respiro fundo enquanto a agente prossegue.
- A princípio acreditamos que ele podia estar em São Francisco, por causa da descrição. Porém parece que Minos estava em Los Angeles, provavelmente procurando pela irmã, Nico deve ter ouvido sobre sua localização e precisou contar. Mas ele não teve sucesso e acabou voltando para São Francisco, estamos chegando perto de seu esconderijo, já sabemos que fica na região norte.
- Faz três dias desde que contei o que ele viu, e vocês disseram que era em São Francisco. Como só estão perto da localização agora? Quando o encontrarem vai ser tarde demais! (Digo aflito)
- Filho, por favor... Vamos encontrá-lo ( meu pai tenta me acalmar)
- Você não sabe o que eles estavam fazendo... E eu o deixei lá sozinho.
  Volto a me flagelar com a culpa e a impotência, e meu pai me abraça garantindo que vai ficar tudo bem. Eu me arrependo tanto de termos brigado, de não ter visto que ele estava negociando minha liberdade, jamais o deixaria , mas preciso acreditar que vamos encontrá-lo e de que ele está bem, ele sobreviveu antes e agora não vai ser diferente.

##

Ao abrir os olhos sinto uma pontada na cabeça, tento levar a mão a testa e percebo que estou preso, meus braços estão para trás e meus pulsos ferreamente amarrados, me sento sentindo todo meu corpo doer, o quarto parece mais claustrofóbico do que nunca, uma eternidade se passa enquanto fico jogado no chão estudando o teto, de repente uma explosão me faz ter um sobressalto e fico totalmente alerta.
Escuto gritos, tiros, e o completo caos acima de mim, e então a porta é aberta revelando um Minos com curativos no lado esquerdo do rosto e expressão insana.
- Vamos! Rápido! (Ele diz afoito me apontando um revólver e indicando o corredor)
Saímos do quarto e nem tenho tempo de piscar a claridade para fora dos meus olhos, quando sinto o cano da arma em minhas costas e ele começa a me empurrar parar sairmos mais rápido. Percorremos um bom caminho até avistarmos uma pista com um helicóptero, o piloto faz um sinal para entrarmos logo.
Vejo a enorme casa onde estive preso, as grandes árvores ao seu redor e escuto tiros ao longe, quando estamos prestes a levantar vôo, o helicóptero sofre um baque no chão com o piloto que é atingido, olho atordoado Minos trocar de lugar com ele e tentar alçar vôo. Olho para fora e não estamos muito longe do chão, sem pensar me jogo para fora, sinto uma dor aguda na perna, mas me forço a me arrastar para longe, ouço tiros e percebo que Minos está disparando em minha direção quando leva um tiro e cai em cima dos controles, a máquina dá alguns giros antes de cair de lado no solo.
Continuo me arrastando para longe, quando o helicóptero explode, o barulho me desnorteia e o calor tira meu ar, a última coisa que vejo é a fumaça subir ao céu.

##
  Estou com a equipe médica quando eles chegam, agentes e criminosos feridos, mas só corro em direção ao garoto que é tirado da ambulância na maca, chamo seu nome e ele abre os olhos sorrindo ao me ver, logo me afastam e o levam.
  Felizmente no dia seguinte já posso o visitar, ele está ferido mas não corre nenhum risco. Assistimos juntos ao noticiário, a impressa já estava investigando quando fui deixado em frente ao hospital da minha família, isso sem contar o julgamento do meu avô e todo o caso Minos, eles estavam alertas para qualquer outra manchete, e essa ocorreu ontem com a chegada de diversos feridos ao hospital de São Francisco e a operação no Monte Tamalpais, com isso a identidade do meu namorado foi revelada e sua participação no caso, está sendo um momento delicado e não sabemos o que fazer.

##
Os dias passam e as notícias não falam de outra coisa, pelo menos não voltam a expor minha identidade, o lado bom de ser de menor, mas a primeira notícia já fez seu estrago, meus amigos tentarem entrar em contato para saber se é verdade e se estou bem, nunca estive tão grato por ainda estar no hospital e com visitas restritas. Fisicamente não estou tão mal, alguns hematomas e fraturas, uma perna quebrada e desidratação, mas eles estão preocupados com minha saúde mental, eu acho que estou ótimo, mas já que o governo vai arcar com minhas contas médicas e não estou pronto para lidar com imprensa e com todos que eu conheço sabendo a verdade sobre mim, vou ficar aqui sem questionar nada.
Infelizmente o dia de receber alta chegou, saio escoltado por seguranças e cobrindo meu rosto, graças aos deuses não há imprensa na minha casa, ao longo dos dias alguns amigos vem me visitar, tudo o que não quero é que sintam pena de mim, no começo isso foi inevitável e me matava por dentro, mas passamos dessa fase e tudo o que recebi foi compreensão e apoio.
No dia em que tirei o gesso foi quando os julgamentos iniciaram, tive que estar de frente com Minos outra vez, o lado esquerdo do seu rosto estava desfigurado por mim e seu corpo estava queimado da explosão, e por mais que estivesse deplorável sua presença ainda me aterrorizava, talvez eu nunca perca isso, mas consegui dar meu depoimento, foram pelo menos três sessões dessa tortura.
Na última tive grandes dificuldades de contar o ocorrido, porque Hades estava presente, e quando terminei o relato me desestabilizou totalmente o ver chorando, lágrimas saiam de seus olhos em público e eu era a causa. De repente ele se levanta e aponta um revólver para Minos e dispara, o tribunal vira um caos, sou arrastado para fora, porque simplesmente não me movo quando me mandam, hipnotizado pela cena a minha frente.

Anjo Caído ( Nico Di Angelo) Donde viven las historias. Descúbrelo ahora