Três dias

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Ao ver sua amiga o encarar com um olhar preocupado enquanto espera sua resposta, a única coisa que ele pode pensar é que o máximo de tempo que conseguiu tirar para si mesmo foram três dias. Três longos e tristes dias que ele precisava, para conseguir colocar aquela noite na caixa velha e abandonada de memórias traumáticas para esquecer, para assim seguir em frente como se nada tivesse acontecido. Para ser sincero ele precisava de mais tempo, pensou em continuar dizendo que estava doente e deixando recados na geladeira para sua mãe avisando que tinha saído, e assim seguir até a semana acabar. Porém, sua auto proclamada melhor amiga, teve que pular a janela do seu quarto e o encontrar tomando sorvete com vodka enquanto maratonava Harry Potter. E é claro que ela está nesse exato momento esperando uma explicação do motivo dele estar machucado e escondido aqui.
Ele volta a realidade e oferece um pouco da bebida para ela, lhe indicando que sentasse porque a história é longa.
- Desde então, eu venho fazendo uns trabalhos para Minos, mas algo deu errado da última vez e ele decidiu testar se eu daria um bom saco de pancadas (ele termina com um sorriso triste)
  Ela o olha com um olhar de pena que ele pagaria o que fosse para não receber, é evidente que ela não sabe o que dizer ou como reagir.
- Mas alguém sabe disso? (Ela pergunta baixinho voltando seu olhar para ele)
  Ele faz que não com a cabeça, e ela só se levanta e lhe dá um abraço. O garoto fica parado por um momento, surpreso e meio sem jeito por não estar acostumado com demonstração de afeto, mas passado isso ele retribui o abraço apertado.
- Como posso ajudar, Nic? (Ela pergunta quase sussurrando)
- Já está ajudando (ele responde no mesmo tom e tem que se esforçar para as lágrimas não descerem)
Ela se afasta suavemente e segura em seus ombros, olhando em seus olhos ao dizer:
- Temos que ir a polícia Nico. Não, não faz essa cara. Você vai fazer um corpo de delito e vai contar o que aconteceu, e as mensagens podem servir de prova.
Ele lhe dá um olhar cansado antes de suspirar e negar com a cabeça.
- Eu já pensei nessas coisas, mas é mais complicado que isso Rey. Isso não vai dar em nada, ele tem contatos e eu não tenho provas o suficiente. E ele ameaçou ir atrás da minha mãe se eu fizesse qualquer coisa. Não posso colocar ela em perigo. Você não sabe do que ele é capaz, as coisas que ele faz...no que eu estou envolvido... é melhor você não saber.
- Você não tem que passar por isso sozinho. Me conta o que está acontecendo Nic. Por favor, deixa eu te ajudar!
  Ele desvia o olhar e nega de cabeça baixa.
-Não posso (responde com a voz embargada)
- Nico...
- Já assistiu Os segredos de Dumbledore? ( Ele levanta o rosto e pergunta com uma alegria forçada)
- Não, ainda não (ela responde e solta um suspiro antes de dizer) Só me promete que vai falar comigo se as coisas se complicarem,ok?
  Ele assente e faz um sinal para ela subir na cama enquanto ele coloca o filme. E assim eles passam o dia, comendo sorvete e terminando uma vodka enquanto vêem filme, quebrando a rotina de dias tristes e solitários.

  O moreno tem seu sono interrompido pelo celular tocando, ele o pega e automaticamente desliza a tela para desligar o alarme, porém acaba atendendo uma ligação e só se dá conta quando escuta a voz do outro lado.
- Oi, Angelo?
- Oi, sou eu (ele responde com a voz rouca)
- Te acordei?
- Quem é?
- Parece que te acordei, desculpa. É o Will. Tentei ligar antes mas não gravei o final do número que você me deu e tive que ficar testando até ligar para pessoa certa (ele ri sem jeito) Por sorte estava com um número na cabeça agora de manhã e resolvi tentar.
- Ah...( Ele não sabe o que sentir ao estar falando com a pessoa que lhe causou tantos problemas)
- Você estava dormindo, né? Desculpa te acordar,achei que estaria no colégio.
- É...eu não fui
- Ah... então,seu celular ainda está comigo. Posso te entregar ele hoje a tarde?
  O moreno fica mudo do outro lado da linha pensando no que responder, porém acaba decidindo aceitar e acabar logo com isso.
- Tudo bem, pode ser às 15h no (endereço)?
- Claro, até logo!
- Até! (Ele desliga e fica olhando para o teto enquanto assimila o que fez, e então resolve voltar a dormir)

P.O.V Will

Estou na praça de alimentação do shopping tomando um milkshake enquanto espero o Nico chegar.
Desvio meu olhar distraído do celular quando sinto alguém se aproximar, olho para trás e o vejo vindo até mim. Ele está vestido quase como o conheci, jeans e tênis, com um casaco cinza de capuz, seu rosto está escondido pelo cabelo negro e sedoso e olhar baixo, meu olhar não desvia de sua figura até ele sentar a minha frente e retirar os fones erguendo o olhar, seus olhos ônix se fixam nos meus, e logo seus lábios se movem e me tiram da ensonação. Não consigo deixar de notar alguns hematomas em seu rosto e me perguntar o que aconteceu.
- Oi, desculpe a demora (ele dá um leve sorriso ladino)
- Oi, não se preocupe, aproveitei para tomar um milkshake.
- Ah sim, achei que você ia estranhar o lugar que escolhi, mas a verdade é que estou morrendo por um hambúrguer.
- Ah, então esse foi o motivo de ter querido vir aqui. Pensei que tinha escolhido estrategicamente um lugar público e com testemunhas.
- Está insinuando que eu deveria tomar cuidado com você? Como quando se encontra estranhos com quem se fala pela internet?
-Quem sabe (ele dá de ombros) posso ser um serial killer.
- Não...você não tem cara de um assassino em série. Com esses cachinhos dourados e humor inabalável.
- É isso que quero que pensem. Por isso nunca fui pego (ele dá um sorriso presunçoso)
- Okay senhor possível assassino em série, cadê meu celular?
  O loiro entrega o celular e observa enquanto ele tenta ligar o celular descarregado.
- Tentei colocar para carregar mas a entrada é diferente.
- Não faz mal, em casa dou uma carga. (Ele olha para tela e vê que seu pedido está pronto) Já volto!

Então ele volta para mesa e eles conversam mais um pouco, e acabam passando o resto de tarde juntos, apesar do plano do mais novo ser somente recuperar o celular e ir embora com seu hambúrguer. Porém a conversa entre eles flui tão facilmente, que as horas passam rapidamente e o assunto nunca morre. Quando o sol está se pondo, cada um segue para sua casa, se sentindo mais leve e com um sorriso bobo no rosto.

Anjo Caído ( Nico Di Angelo) Onde histórias criam vida. Descubra agora