cativeiro

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  Acho que a pior parte disso tudo é não ter a menor noção de tempo, sem relógios ou janelas para espiar sua passagem, só posso imaginar quanto tempo se passou e se ele já está a salvo. Não me arrependo nem por um minuto do que fiz, mas estar aqui sozinho é enlouquecedor, sinto que deveria ter me despedido melhor, dito mais coisas, sido mais sincero...
A qualquer momento vão vir me buscar, para mim parece que se passou uma eternidade desde que o levaram, mas estou aproveitando cada instante antes que Minos exija que cumpra o acordo. Depois de horas agonizantes sendo afogado e eletrocutado, ele percebeu que eu não diria nada caso não negociasse, e eu só quis a liberdade do Will, não era para ele estar aqui em primeiro lugar, cheguei até a apelar dizendo que Cronos não gostaria que tivessem pego seu neto, mas o importante é que funcionou, bem...eu quero acreditar que funcionou.
  Se eu fosse medir o tempo pelas vezes em que adormeci, quase enlouqueci e pelo buraco na minha barriga, diria que estou aqui por no mínimo uma semana, mas sei que não faz tanto tempo. Tenho um sobressalto com o som que a porta faz ao ser aberta, não me movo um centímetro ao observar Minos entrar no quarto e Philip me encarar com desprezo da porta.
- O loirinho está são e salvo! Agora você tem que me passar o endereço. (Ele diz se abaixando para me encarar)
O encaro de volta fingindo que sei o que estou fazendo, mas minha mente está em branco, há gelo em meu estômago, e minha boca está seca. Tenho a plena certeza de que essa é a linha de chegada, esse é meu fim.
- Como vou saber que você cumpriu sua parte?
- Você exige demais para quem está preso.
Ele rebate irritado, porém me mostra uma foto do Will desacordado jogado em frente ao hospital da sua família. O gelo em meu estômago se converte em fogo e se move para minha garganta, controlo as lágrimas que tentam escapar mas sou inconsciente do meu sorriso.
  - Não fique tão feliz, quem garante que ele está vivo?
- O..o que? (Questiono atônito)
- Quem sabe...(ele dá de ombros)
- Você não...ele não está. VOCÊ ESTA MENTINDO! (Avanço em sua direção)
- Relaxa, garoto! (Philip aparece segurando meu ombro e com o revólver em minha direção)
- Calma, Angelo! Eu estou mentindo. Só queria tirar aquele sorrisinho idiota do seu rosto.
- Ele está vivo?
- Sim, são e salvo conforme o prometido. Agora me diz, onde está a Medusa?
Fico em silêncio enquanto ele me olha expectante, suas ameaças começam e me forço a responder algo.
- Só sei que é em Los Angeles, ok?
- Como assim?
- Eles me passaram o endereço errado, você sabe, mas ouvi que ela está em Los Angeles.
- Se você estiver me enganando...(ele deixa a ameça no ar) como vou procurar em toda essa área?
- Preciso de mais alguma coisa! (Ele exige perdendo a paciência e avançando em minha direção)
- É tudo que eu sei, eu juro!
- Vamos refrescar sua memória, Nico. (Ele promete e sai)

Passo mais alguns meses preso com meus próprios pensamentos e tendo o desespero como companhia, mas na verdade devem ter sido dias ou só horas. As únicas duas vezes em que não estive sozinho foram quando Philip tentou refrescar minha memória, seus métodos são pouco ortodoxos e nenhuma clínica decente os aplicaria, incluem surras, choques e afogamento, o repertório não é muito diverso mas posso dizer que é brutal, gosto de fantasiar que as conversas com ele são sessões que teria em uma clínica psiquiátrica, a única fuga real que tenho é quando imagino que estou em casa outra vez, ou na praia com o Will antes daquela ligação.
Queria ter lhe dito o que conversei com o Percy, mas não era meu segredo para contar, meu ex problemático e agora amigo, está em um triângulo amoroso, ele basicamente não sabe se gosta da Calipso ou do Léo, e o mais complicado é que esses dois meio que namoram, e o Percy ainda não se aceitou, apesar de todos já saberem sobre sua orientação desde que estávamos enrolados. Eu brinquei que resolveria tudo com um trisal, mas no fim o levei a sério e disse para não ter medo de escolher o que o faz feliz... Será que eles perceberam que eu sumi? Gostaria que essa voltasse a ser uma das minhas preocupações, e não como caralhos vou sair daqui.

##
Estou afiando um garfo de plástico que escondi, me trouxeram uma refeição algumas horas atrás, agora acredito que faz dias em que estou aqui ou não começariam a se preocupar em me alimentar, ouço a porta ser destrancada e o escondo na roupa.
Minos entra tempestuoso no quarto, cambaleio para trás quando ele agarra minha camisa.
- Você mentiu para mim? (Ele grita em meu rosto) Não encontrei nenhum sinal de que ela possa estar em Los Angeles. Se estiver me enganando, eu juro que vai se arrepender amargamente!
- Eu não estou (me defendo apressado) Juro que foi lá que ouvi dizerem que ela está.
- Acha que sou idiota? Você já mentiu para mim antes... Qual é a poha do seu problema? Gosta de ser torturado? Por que não colabora?
- Estou colaborando, juro que estou dizendo a verdade!
- Eu preciso de mais! (Ele volta a gritar me imprensando contra a parede) Não vou a encontrar desse jeito!
Ele faz menção de me socar e fecho os olhos esperando o golpe, mas ele não vem.
- Ou será que você precisa que eu te lembre que você é meu? (Ele diz em meu ouvido)
  O terror me invade com essas palavras, suas mãos percorrem meu corpo e seu hálito perturbadoramente quente me enoja, lembranças que lutei para esquecer surgem em minha mente, estou paralisado, horrorizado, sentindo que vou desmaiar e desejando isso para que não precise estar acordado. Não, isso não vai acontecer! Não pode acontecer, eu não aguento passar por isso de novo. Quando suas mãos frias invadem minha calça e iniciam uma massagem asquerosa em meu membro, pego o garfo que afiei a ponta e enfio com tudo em seu rosto.
Seu grito estridente é suficiente para eu perceber o que fiz e olhar admirado sua mão segurando o lado esquerdo do seu rosto ensanguentado. Philip entra correndo e olha de mim para ele por um momento, logo reagindo e o socorrendo enquanto ameaça disparar caso eu me mova, mais seguranças entram, e um Minos enraivecido começa a gritar com todos e decretar minha morte, consigo ver que furei seu olho esquerdo e cortei sua bochecha, isso me traz certa satisfação antes que o escoltem para fora e comecem a me espancar.

Anjo Caído ( Nico Di Angelo) Where stories live. Discover now