"Omnium calamitatum maxime dolendum est superfluum"(A mais lamentável de todas as perdas é a perda do tempo)
— Philip Chesterfiel
Mardok
— Kassandra... — Ela voltou – se para mim, o olhar vazio, a pele pálida e o corpo quase cadavérico pela má alimentação, pelo sofrimento. Kassandra nunca esteve tão magra. Pele e osso. Mesmo quando veio para o palácio ainda sim tinha algum viço, uma tez saudável. Suspirei percebendo o que meu descaso e desconfiança fez a única pessoa que me fez sentir vivo. Me fez ser mais que um guerreiro ou imperador. Me fez um homem completo. E me faria também um pai, se não fosse minha insensatez.
— O que fazes, Kasandra? Esse lugar é perigoso, venha comigo, por favor, pequena. Deixe – me consertar as coisas, sim? — Fiz menção em me aproximar, mas ela gritou fazendo – me estancar.
— Não! Fiques longe de mim... Não se aproximes de mim, nunca mais... Nunca mais... — Para meu desespero a vi titubear. Engoli em seco vendo as lágrimas banhando seu rosto magro, os olhos lindos tão opacos, a miríade de cores que eu tanto amava corroía – se em dor. Desprezei – me vendo no que aquela menina linda e inocente se transformou... No que a transformei.
— Kassandra... Por favor, deixe – me reparar tudo. — Disse mais uma vez sem saber como fazê – la descer.
— Podes trazer a minha filha de volta? Apenas isso pode reparar tudo que me fizestes. — Trinquei a mandíbula, porque era a única coisa no mundo que eu não poderia fazer.
— Anat... Não posso viver em um mundo onde você não exista. — Ela não pareceu afetada pelas minhas palavras, mas consegui avançar dois passos sem que ela de fato percebesse e se alarmasse.
— Tu podes ver, meu senhor? — E abriu as mãos mostrando o jardim em ruínas.
— Assim estou por dentro... Assim como esse jardim, estou em ruínas, estilhaçada, a única coisa que eu queria era a minha criança comigo. Vejas... Estou além do reparo, meu senhor, tudo que preciso é da minha Alba.
— Achas que nossa filha, irias querer que sua mãe se destruísse dessa forma? — Argumentei e Kassandra franziu o cenho parecendo confusa.
— Velei seu sono por muitas noites e tu falavas o quanto a nossa criança era linda e feliz. O quanto ela era uma boa menina, o quanto te amavas e o quanto tu a amavas, minha cigana, ela não iria querer ver - te se flagelar dessa forma. — Aleguei. Parte das minhas noites insones ouvi Kassandra chamar a nossa filha e descrever cada nuance que via na criança. Me apaixonei pelos relatos, me apaixonei pela minha filha. A criança que para a minha mais profunda vergonha, rejeitei. Com minha intransigência praticamente matei.
— Não ouses... Não ouses falar como se quisesses a minha criança. Você a renegou! A chamou de bastarda imunda, nos abandonou, me deixou para morrer. Deixou – me no chão sangrando a minha própria sorte. Lembra – se o que te disses naquela degradante ocasião, meu senhor? — Engoli em seco para o semblante duro da única pessoa que possuía meu mundo.
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Da guerra ao Amor
RandomNo início das guerras, forjado no calor da batalha, sem nenhum tipo de pudor, onde a violência impera e o sangue é mais fácil de ser achado do que água perecerá dois destinos, escolhas surgirão, decisões precipitarão tragédias e onde a vontade de...