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P.O.V's Chloe.

Encaro a campainha pelo que parece uma eternidade, então decido que é hora de me render e tocá-la de uma vez. Conto os segundos. Estou chegando no 50 quando a porta finalmente se abre e Dustin me encara. 

-Chloe!!!! -Ele grita meu nome e me abraça como se não me visse há anos. Pra ser mais exata, dois anos. 

-Oi para você também. -Sorrio enquanto deixo ele me abraçar. O garoto cresceu uns bons centímetros desde a última vez. -Não acredito que você está maior que eu! E olha só, seus dentes estão todos aí! 

-Eu sou um homem já. -Ele me solta e flexiona os braços. -Hormônios é meu sobrenome.

-Claro que é.

-A mamãe sabia que você estava vindo para casa? 

-Não. Nem eu sabia até dois dias atrás. -Dou de ombros. -Onde ela está? 

-Saiu, foi ao salão de beleza. Ela tem um encontro com aquele cara esquisito da farmácia. -Dustin faz uma careta. 

-O Lee lambido? 

-Ele mesmo. 

Eu e meu irmão fazemos a mesma cara de nojo e caímos na risada. Ele me oferece ajuda com as malas e levamos tudo para meu antigo quarto. Me sento na cama e tiro meus tênis, depois de horas dirigindo até aqui, só quero dormir. 

-Você veio para ficar dessa vez? -Dustin me pergunta. 

-Espero que sim, Dustinzinho. 

-E quem vai ficar com a tia Melissa? 

A dúvida dele parece tão legítima que me pergunto se é realmente necessário contar a ele.

-A tia Mel morreu, Dus. Já faz quase três meses.

A expressão de meu irmão muda e ele desmonta na cama ao meu lado. 

-O que? O que aconteceu? 

-A mamãe não te contou? -Pergunto, ele faz que não com a cabeça. -O câncer venceu, afinal. Sinto muito, Dusty. 

Ele deita a cabeça no meu colo e eu faço carinho nos cachinhos dele. Droga, a mamãe deve ter tido um bom motivo para não contar, mas não consigo pensar em nenhum que seja bom o suficiente. 

Acabei de chegar e já trouxe más notícias comigo. Eu nunca trouxe alegria para Hawkins, não é atoa que Hawkins nunca me recompensa com coisas boas. 

Acordo do meu cochilo com o walkie-talkie do Dustin chiando. Já se passaram quatro horas desde que cheguei, meu irmão está dormindo ao meu lado. Eu pego o aparelho e respondo ao chiado. 

-O Dustin está dormindo. Câmbio. 

-Que? Quem está falando?

-É a Chloe. Irmã do Dustin. -Esclareço. -Com quem eu estou falando?

-Oi, Chloe. É o Lucas.

-Lucas Sinclair, quanto tempo. Como está a vida? Câmbio.

Ouço Dustin resmungando ao meu lado e então ele estende a mão. Lucas está respondendo que a vida está uma loucura quando meu irmão o interrompe. 

-As madames querem um chá para acompanhar a fofoca? -Ele diz. -O que você quer, Lucas? Câmbio. 

Eu dou risada e saio do quarto, ouço barulho na cozinha e sigo até lá. 

-Mãe? 

-Oi, querida! Não quis te acordar. -Ela sorri, seca as mãos em um pano e abre os braços. Eu a aperto e deixo que ela me aperte também. Apesar de ter passado 5 anos longe da minha mãe, ela é minha referência de lar. -Eu senti tanto a sua falta, querida!

-Eu também, mãe. 

Eu me solto dela e sento em uma cadeira, ela se apoia na pia, me olhando com pena. 

-Sinto muito pela sua tia. -Ela diz. 

Tia Melissa era irmã do meu pai, ela e minha mãe nunca se deram bem, mas consigo ver genuinamente que ela sente muito. Eu dou de ombros, como se não fosse nada. Como se eu não tivesse passado dois meses em um luto profundo. Como se eu não tivesse acordado para a realidade só no momento em que meu pai apareceu e me colocou para fora da casa da tia Mel. Eu tive dois dias para pegar todas as minhas coisas e me mandar. Eu pensava que nunca mais ia precisar voltar para Hawkins, para toda a bagunça e mistério que encobre essa cidade.

Minha mãe pergunta sobre tudo e eu conto. Conto sobre a faculdade, que eu ia começar depois do verão e tive que deixar para trás; conto sobre meu namorado, agora ex; conto sobre as amizades que tive ao longo da vida; Sobre minha rotina com a tia Mel e o negócio dela, vendendo sabe-se Deus o quê para homens estranhos que mal falavam nosso idioma. Digo que preciso colocar minha vida nos eixos, preciso de um emprego, talvez me candidatar para alguma faculdade aqui perto. Ela me abraça de novo e me diz pra ter calma, para tirar um tempo para mim antes. 

Eu fico nos braços da minha mãe pelo que parece horas, sentindo o peso do mundo finalmente sair dos meus ombros. Aqui eu posso voltar a ser uma garota comum de 20 anos. Claudia Henderson está me dando a oportunidade de ser jovem de novo. E eu vou aproveitar.

Sinto mais um par de braços se juntando a nós e dou risada enquanto Dustin tenta entrar no meio do nosso abraço. 

-Abraços quentinhos, maravilha. Eu detesto ter que estragar o momento, mas eu preciso de ajuda. 

-Ajuda? -Eu e mamãe dissemos em uníssono.

-Uma carona, na verdade.

-Pra onde? -Pergunto. 

-Palace Arcade. -Dustin sorri. -Noite de jogos.

-Você já não tem o clubinho de D&D amanhã? -Mamãe pergunta. 

-Tenho, mãe. Mas hoje vamos jogar no Arcade antes do show extra do Eddie. 

-Eddie? Clubinho de D&D? -Eu pergunto. -O que foi que eu perdi? 

Dustin ri e pergunta se posso dar uma carona para ele. Eu digo que sim, mas só se eu puder ficar pra jogar e preciso de um banho antes de ir. Hawkins é mais quente nessa época do ano e preciso tirar esse moletom logo. 

Procuro pelos meus cosméticos na mala e os organizo no meu banheiro. Tenho muita coisa para colocar no lugar, mas já está anoitecendo e isso pode esperar. Pego um vestido preto de alcinhas, sem detalhes e uma bota. Vou colocar a mesma jaqueta de couro que eu sempre uso. Bom, em Hawkins ela ainda é novidade. 

Depois de sair do banho e me trocar, chamo pelo Dustin. Minha mãe avisa que vai sair e pergunta se podemos comer em algum lugar. 

-Mãe, não se preocupa com isso. -Beijo o rosto dela. -Divirta-se no seu encontro. 

Ela sorri e suspira, acho que ela se sente aliviada por ter alguém pra dividir o fardo agora. 

-DUSTIN, VAMOS! -Eu grito pela décima vez. 

-Ele deve estar conversando com a Suzie -Minha mãe ri. 

-Suzie? 

-A namorada dele. 

-Espera… o Dustin tem namorada? Mas que por…

To love a boy IWhere stories live. Discover now