A moda agora é voltar-se para o ego e cultivar urtigas dentro do próprio umbigo.
Quanto a mim, preferi plantar tulipas. Não no umbigo, porque não poderia permitir que tamanha beleza ficasse enterrada num buraco; plantei no caminho dos outros, na esperança de que fossem vistas florescendo com vigor.Mas que grande equívoco. Mal sabia eu que o caminho alheio era de solo infértil e clima adverso.
Deparei-me com desertos áridos, uma violência para as minhas delicadas flores que tanto prezavam por lugares temperados - e se me refiro aqui a temperatura, a tempero ou a ambos, cabe ao leitor interpretar.
Pois minhas tulipas morreram.
Quanto às urtigas, alastraram-se. Espalharam uma urticária aflitiva e azucrinante. E não há antialérgico no mundo que seja capaz de fazê-la sumir. As urtigas estão naquele "bom dia" que o porteiro não recebeu, na lata de refrigerante abandonada na areia da praia, nas brigas de bar, nos lençóis de motel que segredam traições, no medo que as pessoas têm de confiar o coração a outrem. Estão no meu jardim enraizando desalento.
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Todas as Sereias são Perversas
PoetryColetânea de textos reflexivos. Obra revoltada, insolente, perturbada e de sagacidade aguda. Cabe acrescentar, inclusive, que é heterogênea, pois nem tudo aqui é só acidez - também há espaço para resiliência. Escrita por alter egos, esconde em suas...