Para não perder o hábito de me despedir

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Quando me falavam que ninguém escapa da morte, eu me imaginava defunta. Nunca tinha refletido sobre quem está do lado de fora do caixão, com os lenços sujos na mão. 

Naquele dia, eu. Havia um alguém querido deitado em uma caixa de madeira bem entalhada. Não pude negar que, em algum lugar incoerente dentro de mim, eu esperei que essa pessoa fosse abrir os olhos novamente. Pois não abriu. E nós nunca mais nos vimos. Nós nos conhecíamos há tantos, tantos anos…

A irreversibilidade da vida é um verdadeiro soco na cara. Quando você se dá conta, seu nariz já está quebrado, latejando de dor, e o sangue já se espalhou pelo chão.

Quem vai limpar essa sujeira agora?

Sou míope e decidi que naquele dia eu deixaria os óculos e as lentes de contato em casa. É que eu não queria ver todos aqueles rostos desmanchados de dor. De fato, eu só vi borrões perambulantes, figuras abstratas jazendo em cadeiras esparsas.

Mas eu pude ouvir. Sabiam que o timbre da tristeza pode ser ouvido de longe? Não há consolo - temos de aceitar que ninguém aqui é surdo.

O medo é amante do fim do ser e nosso mais fiel perseguidor. A hora vai chegar. De qual lado você vai estar – dentro ou fora do caixão -, é apenas uma questão de tempo. E, nesse aspecto, sinto informar que relógio nenhum no mundo é capaz de dizer que horas são.

 E, nesse aspecto, sinto informar que relógio nenhum no mundo é capaz de dizer que horas são

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