Queria escrever sobre vazio, mas os suicidas já fizeram isso por mim em suas cartas de despedida. Poderia então, nesse caso, escrever fábulas. Ah, não, eu não poderia. Os discípulos de Deus se incumbiram dessa tarefa ao escreverem os Evangelhos.
Quem sabe eu me aventurasse a escrever leis, uma vez que estamos saturados de "eram umas vezes". Não essas leis do Sistema Judiciário, porque elas não funcionam; seriam leis da natureza.
Imagine poder voar (sem asas nem tampouco tripulando um avião) e desafiar a lei da gravitação universal que Newton nos trouxe com tanta ponderação. Seria prudente? Julgo que provavelmente não.
Pois como amiga da ciência, recuso-me a me indispor com o estimado físico e, quanto aos meus pés, prefiro mantê-los no chão, perfeitamente subjugados à gravidade.
Se não posso escrever sobre vazio, fábulas ou leis... Bingo. Vou escrever sobre mim. Era uma vez o vazio, que pelo princípio da inércia vagava e viveu morto para sempre.
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Todas as Sereias são Perversas
PoetryColetânea de textos reflexivos. Obra revoltada, insolente, perturbada e de sagacidade aguda. Cabe acrescentar, inclusive, que é heterogênea, pois nem tudo aqui é só acidez - também há espaço para resiliência. Escrita por alter egos, esconde em suas...