Capítulo 32

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Vento, fumaça e silêncio

Vento, fumaça e silêncio

Vento, fumaça e silêncio

Três palavras

Três elementos do cenário

Meu corpo inflexível se move pelo piso, estou com o coração acelerado por batidas fenícias. Meu corpo parece um carasco, ele chora em meus ossos, fura minhas entranhas e suga minha energia.

Alinho a respiração, deslizo pelo corredor cinza, desnorteada, zonza, agarro meu peso a maçaneta da primeira porta que avisto, o clima é seco, o frio rasga minha pele quando o vento se casa com a fumaça, inspiro em busca de ar, sem rumo, giro a maçaneta e caminho as cegas.

Escuro

Morto

Escuro

Morto

Meus pés tremem, minha pele se torna plástico, quase a sinto rasgar em pequenos pedaços, minhas mãos frágeis parecem tremem diante de minha imaginação, inspiro, expiro, e tento relaxar.

Um passo

Dois passos

Três passos

Meu corpo parece pesado

Outro passo, o vento parede forte, o frio invade os filamentos de minha pele, minha fibra parece leve, meus sentidos perdidos. E ali, onde tudo não parece fazer sentido eu a vejo.

Deitada em uma poça de vómito, cabelos escuros cobrem sua face, seu corpo imóvel, sua pele pálida e morta.

Eu tento chorar

Eu tento gritar

Eu tento

Mas nenhum som corre por minha garganta, é tudo nato, morto e triste.

Meu peito ferve e estala correntes de dor enquanto brando e acalmou a respiração, o facto de negar a realidade dizima cada fragmento de meu corpo no momento, estou perdida. Perplexa. Sozinha.

Eu me abaixo devagar, meus olhos ardem e poças ácidas ameaçam fluir e molhar meu rosto, atordoada a toco.

Gelado

Gelado

Gelado

Eu sinto meus dedos retrairem e minha respiração falhar, quando sinto que finalmente entendi a realidade, meu corpo branda e o grito preso em minha garganta ecoa ríspido, firme e doloroso.

- Martina!

Escuto, forço meu corpo a se mover

- Caralho, acorde amor, por favor.

- Mãe.

Trémula

Perdida

Molhada

Abro os olhos rezando para que tudo não passe de um sonho, então o vejo, me olhando como se não entendesse tudo que acaba de acontecer, Brian se ajeita no lado oposto ao meu, seu olho clínico desce para cada parte de meu corpo em silêncio, posso sentir queimar e resistir.

- Você precisa de ajuda.

Balanço negando

- Foi tudo premeditado. - eu digo, sem ao menos saber do que realmente ele quer falar. - Eu não sei.

Ele suspira

- Você sabe sim. - afirma convicto. - Você tentou se suicidar ontem e hoje ao que parece estava presa em um sonho.

Nosso Último BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora