Capítulo 48 - O pior dia do luto

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Anteriomente:

"Vamos nos levantar? Tomar um café, antes que o Léo acorde"

"Eu... gostaria de ficar aqui hoje, mais quietinha, sabe? Não estou com muita fome, amor." – Marília estava mais quieta naquela manhã, preferiu ficar na cama pelo menos pela manhã, Murilo levou o café na cama e fez seu desjejum com ela. A morena se encolheu na cama e Murilo a aconchegou em seu peitoral.

O pior dia do luto, não é o dia exato, não é um dia após, muito menos um ano após. O pior dia do luto, é um dia qualquer, uma lembrança qualquer, pois o luto nunca acaba, as vezes acordamos bem, acordamos com diversas lembranças, essas que nos fazem sorrir ao lembrar que aquela pessoa tão amada gostava daquela mesma coisa, que compartilhou aquela lembrança conosco, e isso nos faz bem, nós pensamos "Nossa, fulano adorou fazer isso, foi hilário aquele dia". E as vezes, esta mesma lembrança, nos destrói de dentro para fora de tantas saudades, uma frase, um cheiro, um objeto, letra de música, qualquer coisa nos faz lembrar de quem amamos e não podemos mais abraçar que não em sonhos. Era assim que Marília sentia-se naquele dia, sentia-se fraca, não gostaria de sair da cama, Murilo estava lhe dando forças, lhe fazendo carinhos. Bahia e Silveira faziam muita falta, ela lembrava mais quando via Laura ou Bernardo, os filhos de ambos, se parecem tanto com os respectivos pais.



Neste dia, Marília preferiu ficar na cama, fez as refeições no quarto, na companhia de Murilo e Léo que, de tempos em tempos ia no quarto ver seus pais, Murilo ligou para o assessor de sua noiva e remarcou a reunião para um dia que a cantora estivesse mais disposta.

Marília estava deitada, recebendo um carinho de Murilo em seus cabelos, Léo estava na parte de baixo da casa junto com a avó e o tio

"Quer que eu chame as gêmeas, meu amor? Eu posso chamar elas, o Mioto, Henrique, Juliano, o Hugo, Guilherme. A gente faz uma sessão cinema aqui, faz umas pizzas, hm? O que acha?" – Murilo tentou animar a noiva, uma festa sempre a animava

"Oh meu amor, eu sei que a sua intenção é boa, certo? Mas hoje eu quero ficar quietinha, só com você e com o Léo" – Marília explicou o porquê de não querer que o noivo chame ninguém para lhes fazer companhia, Murilo concordou com a amada, e assim permaneceram, abraçados o restante do dia.

Marília não estava disposta e Murilo entendia, as vezes o luto o pegava de jeito também, é muito difícil perder quem se ama e permanecer com um sorriso no rosto, fazendo o possível para estar forte. A fatalidade do dia 5 a pegou de jeito, talvez ela mais que a todos, e apenas com sua família sabendo – incluso Murilo, Maiara, Maraisa, Gustavo M., Henrique e Juliano – Marília enviava auxílio financeiro e psicológico as famílias dos dois pilotos que foram a óbito. A filha do piloto já concordou em dar uma ou outra entrevista para a imprensa, não falando do auxílio, a pedido da cantora, mas fizera questão de exaltar a rainha da sofrência e sua imensa bondade e coração de ouro, a jovem falou também que não guarda magoas de ninguém, pois não existem culpados, o único culpado é o destino, e a ele, não se pode culpar, pois ele sabe o que faz.

O luto tem dessas, alguns dias são anestésicos, e tem dias que serão como uma tortura, um minuto será como uma hora, esses dias se estendem e quando isso acontece não existe lugar melhor que a sua cama, não existe dia e nem hora, ele não avisa quando a anestesia está acabando. Marília tomou consciência nos últimos tempos que, perder alguém é como enfrentar um abalo sísmico, um furacão, avalanche, e depois, procurar por entre aqueles escombros a sua versão antiga, a de antes daquela confusão, sabendo que nunca vai acha-la, pois, ela foi embora junto com o furacão

O dia parecia que não queria passar, a cabeça de Marília estava a mil por hora, talvez o "sonho" com Bahia tivesse acarretado isso, a cantora não saberia dizer, o fato é: este dia estava passando como um bicho preguiça escalando uma árvore.

Durante o dia, Léo ia até o quarto da mãe, brincava com a mesma na cama, Marília estimulava a fala da criança, e apenas isso fazia com que a morena ao menos se sentasse na cama, o bebê estava quietinho hoje, não pediu nada inusitado para comer, não se mexeu muito, mexia-se quando Léo ou Murilo interagiam ou tocavam na barriga de Marília. Naquela noite, Marília foi dormir pensando "Tomara que amanhã seja melhor".



Boa noite, como eu disse, eu quis explorar mais a parte do luto, não é todos os dias que estamos bem, todos sabemos muito bem disso. Tenho certeza que todos nós procuramos até hoje a nossa versão de antes do dia 05/11 e ainda não achamos.

O capítulo foi pequeno justamente por querer que este fosse apenas sobre um dia de luto, um dia em que a dose de anestesia acabou sem aviso prévio, um dia difícil de sair da cama, o que é compreensível e totalmente normal.

Nesse processo, o Murilo, as gêmeas e até o Léo com sua pureza irão ajudar a Marília. 

Me contem o que estão achando.

Boa leitura!

O efeito borboletaWhere stories live. Discover now