PARTE I - 11. DIETA DE SENTIMENTOS

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Boa leitura!

Dizem que um bom amigo muda vidas

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Dizem que um bom amigo muda vidas. Yixing costumava acreditar que tinha um bom amigo, embora o outro se recusasse a admitir, mas agora está começando a duvidar se estava bem arranjado.

Sentado em seu escritório, sozinho, pois Junmyeon levou Sehun para ser amamentado, segurava o pergaminho com mais força que o necessário, amassando um pouco a folha.

"Caro imperador Zhang,

Não se deve tomar decisões com a mente nublada por sentimentos, deve se afastar e se purificar para assim ver com clareza. A prioridade do imperador deve ser para com seu povo e família, não para com alguém que acabou de conhecer.

Minhas sinceras condolências,

Imperador Wu."

Mas o quê...? Yixing quase bufou, que tipo de conselho amoroso era esse? Contudo, esta parecia melhor que a última, que por sua vez era melhor que a primeira. A primeira simplesmente dizia que "os assuntos pessoais do imperador Zhang não são da conta de Jinse", mas com alguma insistência conseguiu arrancar algo de Yifan, o cabeça dura. Ele teima, teima, contudo tem um coração sensível sob as camadas e camadas de rocha sólida. Yixing se lamentou que alguém que nunca se apaixonou fosse seu confidente para questões de amor, pior, alguém que vivia em dieta de sentimentos.

Amassando a folha, Yixing tocou a carta na chama da vela e a jogou sobre um pratinho de porcelana, queimando até virar cinzas. Procedimento de segurança, tudo que recebia por escrito de Yifan sofria o mesmo destino. Não poderia arriscar nenhuma informação vazada, nem perder a confiança do imperador de Jinse.

Quando Junmyeon voltou, colocou o bebê no cercadinho no canto. Sehun se colocava de pé ali e brincava com pelúcias e brinquedos de madeira, quando não estava carente ou de mal humor, é claro. Vê-los interagir espantava qualquer nuvem de seu humor. Disfarçava, tentava manter a atenção no trabalho e em Junmyeon ao mesmo tempo. A quem queria enganar? Até mesmo evitou deveres fora do palácio durante os últimos meses para não ter que arriscar levá-lo fora dos muros, arriscar que alguém o reconhecesse.

Encontrou o olhar dele enquando divagava e desviou, como uma criança pega no flagra fazendo besteira. Sentiu o olhar dele ainda em si, portando deu-lhe a atenção mais uma vez.

— Não se preocupe, Sehun ficará bem aos meus cuidados — disse Junmyeon.

Yixing quase riu. Ele era tão doce, tão meigo, mesmo sua postura era fofa, derretia suas barreiras e as defesas de seu coração com a mesma facilidade com que o papel queima. Antes que desse por si, se levantou e ficou de pé e foi até ele.

— É quase tão indefeso quanto meu filho — disse. — Essas mãos... — Yixing segurou a palma macia, menor, terna, e a guiou para tocar a própria face. Sentindo sem desviar o olhar do rosto de Junmyeon. Aqueles dois olhos tão belos se tornaram maiores que o usual, as bochechas adquiriam uma cor semelhante a flor do pessegueiro. — São tão macias, não foram feitas para a batalha.

— Meu senhor? — Junmyeon pronunciou devagar, como se o medo apertasse a garganta.

— Seu, sim... — O pensamento escapou por entre os lábios junto com outro sorriso.

Junmyeon nada disse, mas seus olhos desviaram para o branco tecido que vestia e a tapeçaria no chão. O ar da sala parecia pesar-lhe nos ombros, o aroma do imperador era inevitável assim como a proximidade. Estava quente, quente em todo lugar.

Yixing recuou, mantendo as mãos unidas, não estava preparado ainda.

O ímpeto de falar, veio a Junmyeon, contudo, tinha os lábios pesados, firmemente atados. Não se abririam, não seria certo, embora soubesse exatamente o que queria dizer, não deveria, não. Aceitar em silêncio, sim, era o melhor para os dois.

— Me perdoe — disse Yixing, sem convicção alguma. Ao soltar as mãos, por fim, e fechar os punhos para manter tudo no devido lugar, não conseguiu manter contato visual nem por um segundo com o ser trêmulo a frente ao dizer: — Manterei vocês, os dois, seguros.

E foi como se o pequeno momento entre eles tivesse se esvaído como um delírio, como um sonho que jamais deveria ser mencionado.

Yixing saiu do escritório, precisava de ar, precisava clarear a mente. Com as mãos inquietas, não conseguiu ir muito longe, parou em um corredor vazio. Que loucura estava fazendo? Que tipo de ser humano era?

Agir sem pensar, guiado pelo momento, que péssima ideia! Assustou Junmyeon, tinha o olhar de um animalzinho acuado, e dava toda razão a ele. Sabia o que ele havia passado e ainda assim...! Se comportou mal, muito mal, pensava ter superado a adolescência impulsiva. Junmyeon estava ali para ser protegido, para que aqueles que o perseguem não possam tocá-lo, e o que fez? O toca! Era um maldito crápula! Canalha sem coração!

O que sentia por Junmyeon não poderia continuar, não se essa coisa suja continuasse a se infiltrar por entre as brechas. Talvez o conselho de Yifan não fosse uma completa porcaria, talvez uma dieta de sentimentos fosse exatamente o que precisava. Respirou fundo. De repente tomado por uma imensa sensação de vazio, uma falta com muitos nomes e rostos.

Atormentado, decidiu ir a cozinha, beber água ou qualquer coisa, se recompor. Estava envergonhando todos eles, estava envergonhando o sobrenome Zhang. Não podia continuar, não podia continuar.

Ao voltar para o escritório, manteve-se firme. Postura ereta, foco militar, não divagou de suas tarefas nenhuma vez. Só dedicava-lhe o olhar quando precisava dizer, ouvir ou quando Sehun reclamava. No momento de almoçar, não o convidou para sentar a mesa consigo. Ficou em silêncio, mesmo que seu coração estivesse apertando mais a cada momento. Era melhor assim se não podia controlar a si mesmo.

À noite, não ficou perto da porta para ouvi-lo cantar para Sehun, forçou-se a concentrar-se nas palavras do livro sobre dignidade, honra e deveres que era obrigado por seu pai a ler toda vez que cometia alguma besteira durante a adolescência.

Quando Junmyeon voltou para o quarto, mesmo sem olhar, os pensamentos de como o tecido branco da roupa de dormir o favorecia surgiram sem ser convidados. Os espantou a bofetadas com uma carranca, as sobrancelhas unidas como se fechassem a porta para eles.

O silêncio quase o deixou surdo, a vontade de olhar para a cama quase o esmagou, mas sobreviveu. Foi a primeira vez, percebeu com um peso no peito, foi a primeira vez que não conversaram. Mesmo na noite que o viu pela primeira vez trocaram algumas — vergonhosas — palavras.

Naquela noite só houve um vazio devastador. Era como estar sozinho.






N/a: Estou sensível  ;-;, me sinto má e cruel.

Branco e Vermelho ✤ SulayWhere stories live. Discover now