|CAPÍTULO 01|

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"Ele foi uma vitima assim como o restante de nós."

Desconhecido

PASSADO | LUCAS GRAHAM

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PASSADO | LUCAS GRAHAM

                     UMA VEZ ME disseram que o luto é o único evento na vida de alguém que não vai embora com o tempo, ele apenas se dispersa o suficiente para te deixar enxergar o entorno e seguir seu caminho. O luto troca o chão firme sob seus pés por uma corda bamba e te faz andar todos os dias sobre um precipício sem fim. Ele também te faz esquecer como é estar vivo, te faz achar que não merece estar vivo. E ele te mata, te mata a cada segundo sem realmente te matar. Mas quando seu peito finalmente para de se mexer, isso vem como um presente, porque respirar por mais um minuto sem aquela pessoa é como estar no inferno.

O dia em que recebemos a notícia da morte do vovô e da vovó foi um dos piores momentos das nossas vidas. Naquela manhã, dois anos atrás, minha mãe tinha ido me pegar mais cedo na escola. Seus olhos estavam vermelhos, o rosto mais pálido que o normal e seus dedos tremiam em volta do meu pulso enquanto caminhávamos para o carro em completo silêncio. Eu sabia que algo estava errado desde o primeiro segundo em que a vi. No entanto, imaginei que a tristeza rodeando-a se tratava de mais uma daquelas raras ligações de cinco minutos com os Callegari.

Eu estava errado, é claro.

O carro do papai estava em frente à garagem quando chegamos em casa. Ele não deveria estar, não em horário de expediente. Então, antes de alcançarmos a porta, mamãe me contou o que tinha acontecido. A vovó e vovô Graham estavam indo passar alguns dias em Veneza quando o avião deles caiu no mar. Mais de cem passageiros. Nenhum sobrevivente. Ao encontrarmos o papai em nossa sala de estar, o mundo inteiro parecia ter despencado sobre seus ombros. Nunca serei capaz de esquecer a sua figura derrotada sentada no sofá com o rosto enterrado entre as mãos. O noticiário tinha passado a informação enquanto ele estava atendendo um cliente em um café perto do seu escritório. Ele disse que não se lembra de ter deixado o café, de ter entrado no carro, nem das dezenas de ligações que fez para o celular do vovô. Ele não lembra como chegou em casa. Ou de como abriu a porta e se jogou nos braços da esposa. A ligação foi o que tornou tudo real. O aviso de que as pessoas que o criaram infelizmente não haviam sobrevivido.

A tragédia arrancou um pedaço de todos, mas ela apenas destruiu o meu pai. A viagem para a Itália foi um presente dele, e além de lidar com o luto, ele também teve que lidar com a culpa. Bem, agora, consigo entender perfeitamente como ele se sentiu. E suas palavras amarguradas durante o velório do vovô e da vovó nunca fizeram tanto sentido.

O luto mata, mesmo sem matar. E ele te faz achar que não merece estar vivo...

― Dominic será bom para nós. ― A voz calma e completamente decidida da mamãe flutua até o meu lado da mesa, chamando minha atenção de volta para a conversa.

When We FallWhere stories live. Discover now