Ela estava sozinha quando ele veio e tornou seus dias menos solitários.
Ele achou que estava morto por dentro quando ela surgiu e esquentou seu coração.
Ela lhe deu um motivo para continuar.
Ele lhe deu um motivo para sorrir.
E então, eles caíram.
...
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PASSADO | LUCAS GRAHAM
Nunca gostei de mudanças;
Elas são sempre exaustivas, caóticas e tão imprevisíveis quanto o humor do novo marido da minha mãe. Sem falar que, por causa dele, a mesma achou que seria razoável vender a casa do papai, me transferir de colégio no meio do ano e mudar para o outro lado da cidade como se não tivéssemos uma vida inteira antes disso.
A casa de Dominic, ou melhor, sua mansão de três andares, parece o próprio castelo do Drácula. Mas ainda é um belo lugar. Com móveis vitorianos, piso de madeira e um jardim capaz de tirar o fôlego de qualquer um que possua olhos, principalmente da amante de flores que habita em Lyra Torrance. O conjunto disso, no entanto, é onde está o verdadeiro problema. O bairro é cheio de casas como a dele, com pessoas como ele e viver em um mundo assim parece aterrorizantemente tedioso. Embora minha nova escola consiga ser ainda pior, é claro. No meu primeiro dia as únicas pessoas que tiveram a decência de conversar comigo, somente tagarelaram sobre suas viagens internacionais e perguntaram sobre quanto de patrimônio a minha família possuía. Pela primeira vez, meu cérebro não tinha uma resposta para uma questão simples. Quando meu pai ainda estava vivo, tínhamos uma condição econômica que nos permitia viajar uma vez por ano para qualquer lugar do país e me manter em um colégio de alto padrão. Então minha mãe se tornou a única provedora da nossa família e por um tempo passamos a sobreviver apenas da poupança e do seguro que James nos deixou. Tivemos que economizar em tudo e quando viu que ainda não era o suficiente, mamãe começou a dar aulas de etiqueta para os filhos das suas amigas. Mas agora que ela tem o sobrenome Torrance, isso automaticamente a torna uma das mulheres mais ricas da América Latina.
Mas o que eu tenho?
Dominic não me registrou como seu filho e nem quero que faça. Também não tenho ideia do quanto sobrou das economias do meu pai. E é provável que talvez não tenha sobrado nada.
Paro de divagar assim que noto um dos idiotas da minha classe se aproximando da mesa que estou sentado para matar o tempo do intervalo. Seu uniforme é uma bagunça de panos e só posso crer que ele o retirou de dentro de uma garrafa antes de vir para a escola essa manhã. E seu cabelo... Jesus, parece um ninho de tão deplorável. Lyra com certeza surtaria se me visse andando por aí assim.
― Hey, novato.
Zac Vega se senta na cadeira à minha frente e ergo uma sobrancelha para sua falta de educação. Primeiro: ele devia ter pedido para se sentar. Segundo: meu nome não é novato. Observo ele lançar um breve olhar para a mesa dos amigos do outro lado do refeitório, o pé balançando inquieto embaixo da mesa enquanto a expressão em seu rosto tenta se manter confiante. Quando o idiota retorna sua atenção para mim e diz o que quer, não estou nenhum pouco surpreso.
