Ela estava sozinha quando ele veio e tornou seus dias menos solitários.
Ele achou que estava morto por dentro quando ela surgiu e esquentou seu coração.
Ela lhe deu um motivo para continuar.
Ele lhe deu um motivo para sorrir.
E então, eles caíram.
...
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PASSADO | LUCAS GRAHAM
AÇÕES DELIBERADAS machucam mais do que tragédias inevitáveis. E o abandono machuca mais que o luto. Porque a morte nos rouba pessoas que, provavelmente, não iriam nos deixar se tivessem uma escolha, e a ausência dessas apenas nos deixa um buraco no peito que aprendemos a conviver com o tempo. O abandono, no entanto, é feito por pessoas que nunca imaginamos que estavam planejando ir embora, e quando elas se vão, nos sentimos insuficiente, o tipo de lixo indesejável que não serve nem mesmo para ser reciclado.
Foi o que aconteceu comigo.
No dia 02 de março de 2012, pouco menos de três semanas após o nascimento de seu filho caçula, Lyra partiu sem olhar para trás.
Eu deveria ter notado que algo estava errado quando não a encontrei em seu quarto depois que cheguei da escola naquele dia. Ou quando a mesma não apareceu para o jantar. Ou, pelo menos, quando as empregadas alimentaram o filhote do diabo em seu lugar. Porra. Ele chorou a noite inteira e ela nunca apareceu para acalmar seus soluços como em todas as outras vezes. Estava óbvio. Para caralho. Ainda assim, precisei ouvir as cozinheiras sussurrando, de todas as maneiras, sobre o egoísmo da Sra. Torrance ao abandonar duas crianças com um monstro como Dominic Torrance, para, somente então, perceber que minha mãe tinha surpreendido todo mundo e fugido.
Meu mundo desabou.
Meu pai estava morto e minha mãe não me queria.
Não que eu pudesse realmente culpá-la. Lyra havia se casado de novo apenas pela promessa que havia feito ao meu pai. Tentar me manter confortável e seguro custou sua alma e a mulher precisou ir embora antes que também custasse sua vida. Mas ela era minha mãe, porra. Por mais que tentasse muito, eu não conseguia entender como ela podia ter me deixado pra trás com um psicopata que claramente me quer morto.
A princípio, permaneci com a cabeça entorpecida demais para raciocinar que merda estava realmente acontecendo. Não parecia real. Suas coisas permaneciam intocadas em seu quarto, as joias na penteadeira, os cosméticos no banheiro, as roupas no closet. Era como se nada tivesse mudado. Embora, tivesse. Dominic voltou a beber muito mais do que o normal e suas ordens para que encontrassem "a vadia da Lyra" o quanto antes, passaram a estremecer as paredes da mansão frequentemente. E para completar, Jake Torrance, meu meio-irmãozinho, se tornou um bebê chorão insuportável. Nem mesmo sua nova babá era capaz de fazê-lo calar a boca por mais de 3 horas contínuas, e ficar na casa se tornou apenas uma tortura infernal.
Mas eu não podia sair. Tinha medo de me deparar com Dominic esperando do lado de fora do meu quarto, pronto para me transformar em seu novo saco de pancadas ou simplesmente me matar como vingança.
