19. Não há lugar para pena em uma guerra

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- Desgraçados! - Um grito sai de minha garganta pelo susto e pela raiva quando uma balista dispara um dardo em nossa direção.

Felizmente, Canibal desviou do objeto, que passou raspando o pescoço do animal. Senti meu dragão ficar tenso embaixo de mim, podendo sentir meu nervosismo e raiva. Canibal não era um dragão de guerra, apesar de ter sido uma fera selvagem temida por muitos durante vários anos; ele não possuía experiência em combate e não estava acostumado a sofrer ataques com balistas.

Me inclinei um pouco para tocar suas escamas em um carinho, sem desviar a atenção dos navios posicionados a baixo de nós. Eu não podia baixar a guarda, esses volantinos já haviam disparado contra mim e poderiam atacar novamente em um descuido meu. - Tudo bem, garoto. Acalme-se, hun? Lykirī, Mavros.

Foquei minha visão em uma balista que estava sendo posicionada em minha direção, pronta para atacar. Prendi minha respiração e comandei Canibal para desviar do ataque de Volantis. O dardo havia sido disparado e veio em uma velocidade absurdamente rápida, cortando o ar em direção à asa do meu dragão, quase o acertando. Porém, eu impulsionei o enorme dragão para baixo, desviando o dardo do mesmo e sentindo o vento gelado do objeto passar por mim, perto de minha cabeça. Tentei controlar os tremores que passaram pelo corpo para não perder o controle das minhas ações.

- Me desculpe, tio. Eu terei que te desobedecer. - Fiz Canibal diminuir a altura de nosso vôo, nos aproximando da água e, consequentemente, da frota de navios. O vôo rasante do dragão fez com que eu tivesse uma melhor visão dos volantinos que estavam a bordo dos navios.

A maioria da tripulação era composta de homens de diversas idades, desde jovens até velhos. Boa parte possuíam tatuagens em seus rostos, o que significava que eram escravos de Volantis. Escravos mandados diretamente para morte pelo interesse e fome de poder de seus governantes; certamente uma tristeza. Mas estávamos em uma guerra e sentir pena dos inimigos não era uma opção, ainda mais quando eles haviam tido a coragem de atacar o meu dragão.

- Dracarys, Mavros. - Não havia necessidade de gritar para que meu dragão entendesse o comando. Imediatamente, chamas verdes entraram no meu campo de visão e gritos ressoaram em meus ouvidos, se misturando ao rugido feroz de Canibal.

Os navios que foram atingidos diretamente pelo fogo do meu dragão se partiriam ao meio no mesmo instante, enquanto outros que estavam próximos queimavam junto à sua tripulação. Homens reduzidos à pó e outros pulando na água do mar na tentativa falha de salvar suas vidas. Uma cena horrível de se presenciar. Eu desejava que nada disso tivesse acontecido; preferia viver tranquilamente, passeando entre os corredores da Fortaleza Vermelha e furtando comida da cozinha, em Porto Real. Eu sentia falta disso.

Subi Canibal e olhei ao redor, percebendo que havia queimado somente 7 navios da frota que era formado, originalmente, por em torno de 60 navios de guerra. Eu não iria conseguir desviar se boa parte deles decidissem me atacar no mesmo momento. Do número total, quase metade possuíam balistas e isso significava que eram quase 30 navios com uma ou duas das bestas gigantes.

Um dardo havia sido disparado no exato momento que eu olhei; puxei as cordas da sela de Canibal para cima, fazendo o dragão voar mais alto para que ele pudesse desviar do ataque. Escuto um rugido do meu dragão, e me desespero: ele havia sido atingido, porém, eu não consegui identificar onde o animal tinha sido ferido por causa de seu tamanho.

- Lykirī, Mavros. Soves! - Dei o comando para o meu dragão para acalmá-lo, lágrimas haviam se formado em meus olhos. Não queria nem pensar se Canibal fosse atingido mais gravemente.

O dragão se movia em alta velocidade, se aproximando da costa para adentrar o continente. Soltei um grito quando Canibal chacoalhou e rugiu novamente, quase perdendo o controle no ar. Meu dragão fez uma descida brusca e se inclinou para o lado, me fazendo escorregar da sela e soltar uma mão das cordas, ficando pendurada. Rugi enquanto tentava me segurar desesperadamente, minhas pernas balançavam no ar, suspensas; enquanto meu coração palpitava rapidamente, quase saindo pela minha boca.

You Have My Soul - Aemond Targaryen Where stories live. Discover now