Fazendo as pazes

231 132 270
                                    

Eu definitivamente não esperava acordar ouvindo o som da campainha, muito menos descer e me deparar com uma criatura pálida, que um dia já foi loira e de olhos verdes animados me encarando. Ainda estava claro, o sol reluzia em sua magnitude e poucas nuvens enfeitavam aquela imensidão azul. Era um dia injustamente bonito, e se não fosse o meu humor terrível, não hesitaria em me sentar na grama e aproveitar aquela tarde. Mas ele estava ali, mãos para trás e um olhar magoado. Instantaneamente o dia pareceu perder parte da cor, como um aviso de que certas coisas estavam fora dos trilhos. Engoli seco, lembrando da nossa briga de mais cedo.

O que fazer agora? Ignorar todas as palavras ditas? Fingir que nunca ocorreu briga nenhuma? Pedir desculpas?

Talvez, em outra vida, fosse mais simples. Mas agora? Agora eu poderia perder meu amigo a qualquer momento, sem ao menos ter uma chance de despedida decente. Agora ele claramente havia desistido, e com isso, deixado evidente de que não tínhamos tanto tempo assim. Então valeria a pena essa disputa por orgulho? Meu cérebro simplesmente estava confuso e eu fiquei paralisada. Não discutia muito com meu amigo, então não sabia ao certo como reagir agora. Nicolas inclinou a cabeça e sussurrou:

- Oi Alicia.

- Oi - murmurei - Entra.

Ele me analisou vagarosamente, como se tivéssemos todo o tempo do mundo naquele momento, e assentiu. Quando foi a última vez que meu amigo pisou em minha casa? Será que ainda lembrava-se de como meu quarto era? Quantas vezes Elise decidiu mudar a decoração dessa sala desde o isolamento de Nicolas? Tantas coisas mudaram a nossa volta que eu nem sabia agir de forma indiferente. Dei espaço para o rapaz entrar e o observei olhar a sala - agora vazia - com cautela. Eu não fazia ideia de onde minha mãe estava, e se aquele fotógrafo abusado já tinha ido embora, mas esse era a menor das minhas preocupações agra. Meu amigo soltou um assobio baixo e comentou:

- Sua casa continua parecendo que saiu de uma revista tosca.

- Que bom que sua adorável opinião pela minha casa não mudou - rebati sarcástica - Fique a vontade, quer uma água? Um suco?

- Não, obrigado - ele umedeceu os lábios - Vim porquê precisava conversar com você e minha mãe estava saindo na mesma hora.

- E seu celular? - franzi a testa - Por que não me ligou?

- Sei que não atenderia - bufou - E seria possível conversar por ligação depois de tudo o que falamos? Acho difícil. 

Irritava-me o fato de que Nicolas me conhecia tanto assim, pois não conseguia disfarçar o quanto estava certo. Eu não o atenderia mesmo, provavelmente manteria meu celular desligado até me sentir pronta para mais uma rodada de palavras ácidas. Me inclinei no aparador que enfeitava o hall de entrada, tomando cuidado para não esbarrar em nenhuma miniatura de viagens que Elise tanto exibia e tentei fingir descaso. 

- É - dei de ombros - Tem razão.

Um silêncio desconfortável se instalou ali, e observei Nicolas fingir interesse em um dos grandes quadros da minha mãe. Apesar do clima quente, ele vestia um moletom enorme, que cobria completamente sua silhueta. Meu peito apertou ao lembrar que ele fazia isso por causa da magreza e minha raiva se dissolveu como açúcar na água. Meu amigo tinha seus problemas, e novamente, minha mente sinalizou de que eu não tinha direito de me meter neles.

Talvez essa lembrança tivesse amolecido algo em mim, pois decidi ignorar nossa briga de mais cedo e tentar amenizar o clima entre nós. Claro, eu estava magoada, mas como ignorar o fato de que ele possuía razão? Era a sua vida, quem eu era para exigir mais tempo ao seu lado? Que direito eu tinha para comprar  esse tempo? Porém, não sabia ao certo o que fazer e o que conversar com Nicolas. Por fim, mordi o lábio inferior e o chamei:

A ListaWhere stories live. Discover now