Número Cinco

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Eu já me encontrava super atrasada, então assim que fui liberada, saí correndo. Se me perguntassem qualquer coisa que o professor falou na última aula, eu não saberia responder. Não consegui prestar atenção em nenhuma palavra durante a aula de história, tendo em vista que meu foco era a hora que simplesmente não passava. 

Hoje Nicolas tinha passado mal e sua mãe tinha me ligado questionando se eu poderia fazer companhia para ele enquanto ela trabalhava, não era a primeira vez que isso acontecia, mas meu melhor amigo aparentava estar tão bem nos últimos dias que a notícia me pegou desprevenida. Mesmo sem perceber, eu havia me apegado a ideia de que ele estaria melhorando, então não iríamos mais passar por isso. 

Aceitei o pedido de Marta na hora, porém, minha aula tinha demorado mais que o normal. Justo hoje o professor havia decidido passar alguns minutos do horário, tagarelando sem parar sobre um trabalho (ou seria prova?) em dupla. Eu não me importei, peguei minha mochila e corri até o hospital, que graças a Deus, ficava a apenas uma quadra de distância.

Quando enfim cheguei, podia sentir meu cabelo grudado na testa e uma fina camada de suor que cobria meu corpo. O sol de meio dia parecia estar disposto a me derreter, mas eu não esperei para pegar o ônibus. Amarrei meus cachos em um coque alto e respirei fundo enquanto caminhava até a recepção.

Depois de uma rápida conversa com a enfermeira e de beber uns três copos de água, pude ir ver Nicolas. Caminhei devagar pelo corredor, minha euforia era enorme para saber o que estava acontecendo com ele, mas eu sabia que não era ético fazer barulho estando tão perto de outros pacientes. 

Bati de leve na porta, esperando permissão para entrar. Consegui ouvir um farfalhar de roupas e meu amigo falar:

- Entre.

- Desculpa o atraso - pedi com delicadeza - Minha aula demorou demais.

- Tudo bem - meu amigo fechou os olhos - Você não demorou muito, poderia ter vindo com mais calma, pela sua cara parece que correu até aqui. 

- Como você esta? - me aproximei hesitante e coloquei minha mochila de lado.

- Já estive pior - Nicolas afirmou, mas seus olhos se negavam a encontrar os meus. 

- Nicolas... - comecei e respirei fundo - O que aconteceu com você afinal? Estava tão bem no nosso último café juntos e parecia tão corado...

- Digamos que o que eu ando comendo não combinou com um dos meus remédios - ele suspirou - E aí tive uma reação contrária ao tratamento que estava fazendo.

- Ai meu Deus - pus a mão na boca em completo choque - Me desculpa, não imaginava que isso poderia acontecer.

Minhas palavras soavam no mínimo tolas a essa altura do campeonato. Contive o impulso de estapear minha própria testa, como eu pude ser tão burra? Era óbvio que ele não podia estar agindo como uma pessoa normal, nem comendo aquela quantidade absurda de doces depois de tanto tempo em uma dieta rígida. 

- Relaxa – meu amigo descartou meu pedido com um aceno - Vou ficar bem, minha mãe nem sequer me deu sermão dessa vez.

- Tem certeza? - engoli em seco, ainda me sentindo atordoada. 

Não gostava da ideia de ter meu amigo no hospital, principalmente se fosse minha culpa. A lista deveria fazê-lo ficar bem, não piorar toda a situação. Meus planos nunca foram colocar sua saúde já prejudicada em risco, então me sentia idiota por não ter percebido o quanto estava sendo ingênua em oferecer comidas foras de sua dieta. Toquei sua pele fina e isso pareceu incomodar ele. Recuei meio sem jeito e perguntei:

- O que foi?

- Nada - mentiu.

- Sei quando você está mentindo - o informei.

A ListaWhere stories live. Discover now