Número Dez

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Ficamos entre beijos e carícias por um tempo, apenas curtindo nossa presença. Meu amigo enfim me convenceu a continuar com a lista, por mais que eu não estivesse tão empolgada assim. Eu estava tensa, mas logo me dei por vencida e fui à busca do meu cartaz. Tanto glitter em um local como aquele parecia hipocrisia.

Engoli um nó que se formava em minha garganta e entreguei o décimo envelope. O cartaz já estava praticamente vazio, os envelopes abertos me traziam um misto de sensações. Tanta coisa aconteceu nas últimas semanas, tantas emoções... Era impressionante como tínhamos mudado desde o início daquilo. Ele umedeceu os lábios e murmurou:

- Tá tão perto do fim...

- Parece que o universo está tirando sarro da minha cara – bufei frustrada – A lista no fim e você preso nesse hospital, não foi assim que imaginei nosso encerramento. 

- Vamos tentar esquecer esse detalhe, por favor – Nicolas pediu - Terminaremos a lista, a não ser que seu último envelope seja "viajar pelo mundo inteiro dentro de uma van". 

- Ok, vou tentar mudar esse último item sem você ver – fingi ceder – Leia logo esse envelope.

- Número dez – passou a ler – Ver o sol nascer na praia.

Era por isso que eu achava que não era possível concluir a lista, e vi seu corpo hesitar quando também se deu conta disso. Me odiei por ter colocado um item como esse, como não previ que ele poderia estar mal? Caramba, Nicolas tinha câncer! Era impossível concretizar esse item, então teríamos que pular.

O que me irritava pra valer, pois eu pensei em cada item com cuidado. Mas, novamente, outra situação fora do meu controle aconteceu e agora nossa lista estaria incompleta. Comecei a ensaiar um pedido de desculpas, dizendo que não sabia que estaríamos nessa situação e tal, mas Nicolas abriu um sorriso malicioso e afirmou:

- Tenho uma ideia.

- Que ideia? – franzi a testa.

- É bem arriscado – ele afirmou – Mas é o único jeito de dar tudo certo. E sem querer ser chato, mas eu adoraria que terminássemos essa lista decentemente. Sua mania de perfeccionismo teria um surto se pulássemos algum item e por mais que esse seja terrivelmente clichê eu adorei.

- Prossiga com seus elogios e ofensas destinados a mim – incentivei sarcástica.

- Vamos dar uma pequena fuga – Nicolas esfregou as mãos – Voltaremos de manhã e minha mãe nem vai suspeitar. Você também é uma das minhas acompanhantes aqui no hospital, pode tomar algumas decisões. 

- Isso é loucura – arregalei os olhos - Vão ligar para sua mãe cara, e ela vai me matar lentamente quando me encontrar. 

- Não importa – ele rebateu – Quero ver o sol nascer com você na praia. Qual é, já disseram que eu não saio daqui mesmo, que diferença faz burlar uma regrinha? Nunca tive o luxo de simplesmente ir embora desse lugar em definitivo, então quero apenas aproveitar uma noite legal antes de me furarem de novo com mais remédios. 

Hesitei com medo de que essa fuga acabasse piorando a saúde dele (que já estava longe de ser boa). Nicolas estava tão frágil e aparentava tão cansado que eu me sentia meio mal de estar exigindo isso dele. Nos últimos dias vieram uma enxurrada de péssimas notícias, e agora eu estava tentando mantê-lo aqui? Era o certo a se fazer, mas não era nada legal. 

Porém, uma parte egoísta de mim – a qual eu estava realmente decidida a dar ouvidos – argumentava que eu tinha poucos momentos restantes com ele, e que deveria aproveitar. Sim, iria quebrar regras. Sim, Marta me mataria. Sim, provavelmente eu seria acusada de sequestro. Mas eu iria me arrepender caso não tentasse. 

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