Número Três

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A presença de Nicolas em meu quarto não era mais tão estranha assim, pelo contrário, me trazia uma sensação de conforto e paz. Ele estava sentado em meu tapete enquanto mordiscava um pedaço de chocolate. Sua face carregava uma expressão contente enquanto cantarolava a música que tocava no youtube. As mangas do seu moletom estavam dobradas na altura do cotovelo, o que era um tanto impressionante. Sobre o seu colo, mais um dos meus envelopes repousava ali.

Era um desafio bem diferenciado, algo que eu nunca me imaginei fazendo. Mas eu estava realmente ansiosa com isso, queria ver se conseguiria realmente surpreender o rapaz. Meu amigo repousou a barra de chocolate na vasilha de doces, o pegou com cuidado e questionou mais para si do que para mim:

- Como foi que do nada passei a ter medo desses envelopes?

- Relaxa - pedi e dei de ombros - Não é como se fosse te morder. Eu acho.

Em troca da minha piadinha, recebi um olhar de falsa irritação, apesar do sorriso que surgia em seus lábios.  Meu amigo não falou mais nada, apenas abriu o envelope devagar. Demorou um pouco para ler em voz alta:

- Número três: encontro com uma pessoa desconhecida.

- Eu gosto dessa ideia - fui logo me defendendo - E sei o local perfeito para isso, então não pense em arregar. 

- Não sei se é uma boa  - ele me olhou incrédulo - Encontro com desconhecidos? E se eu for sequestrado e morto? E se a pessoa tiver uma doença?

- Ninguém vai sequestrar alguém tão irritante - rebati e encarei minhas unhas em um falso descaso - Te devolveriam no mesmo minuto. 

- Você que pensa, eu sou incrivelmente lindo - meu melhor amigo fingiu jogar o cabelo para o lado - Quem não quer esse corpinho?

- Sim, é realmente lindo, mas pedi para uma colega arranjar duas pessoas pra gente - bufei - Vão ser dois amigos dela, não sequestradores, ok? Se algo der errado eu falarei com ela. 

- Admito que você foi um pouco inteligente - Nicolas provocou - Seu plano é bem perspicaz. 

- Engraçadinho - revirei os olhos - Enfim, vai se arrumar que em breve nós saímos.

- N-nós? - ele hesitou - Você também vai? 

- Claro - ri - Estou fazendo todos os itens com você, por que nesse eu não iria?

Meu amigo me lançou um olhar estranho que não consegui identificar o que significava. De repente ele havia ficado diferente, sério, quieto. Pensei em questionar, mas antes que eu pudesse fazer isso, ele murmurou uma concordância e saiu. Observei estática meu amigo sair do meu quarto sem ao menos falar mais nada e ouvi o baque da porta. Não sei quanto tempo passei ali encarando a madeira clara, mas Nicolas não voltou. 

Franzi a testa confusa enquanto seguia para o banheiro, o que raios havia acontecido? Nicolas mudara da água pro vinho, sem ao menos me explicar o que rolou. Argh, será que eu falei algo de errado? Não tinha como saber. Era um indicativo de que não iria ao encontro? Céus, será que ele pensou que estaria a sós com uma menina e ficou com raiva porquê eu vou?

Tomei um banho rápido, disposta a tentar acalmar meus pensamentos intrusos e sequei o cabelo. Como eu não estava a fim de me arrumar muito, vesti uma calça jeans, uma camisa e uma jaqueta. Finalizei meus cachos com calma, minha mente ainda focada no meu amigo. E se ele não viesse mais? Estaria com raiva? Por que estou tão apegada a esse maldito detalhe?

Apliquei uma leve camada de maquiagem e fiz careta. Era estranho estar saindo para um encontro. Claro, eu já havia beijado algumas vezes e saído em alguns encontros. Mas era a minha primeira vez fazendo um encontro á cegas dessa forma. Meu celular começou a tocar e logo atendi:

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