Novas amizades

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O sol brilhava lindamente lá fora, de uma forma que em outros dias me deixaria encantada e me faria gastar longos minutos o admirando. 

Mas hoje era diferente. 

Levantei a contragosto e observei meu estado terrível. Fiz careta ao perceber que havia dormido maquiada (ou com o que sobrou depois da noite de choro) e senti minha cabeça latejar. Argh, meu mal humor me fazia querer voltar a chorar em posição fetal. Fechei as cortinas que acidentalmente deixei abertas ontem e xinguei baixinho por ter acordado cedo. Esfreguei o algodão com demaquilante no rosto e com muito custo removi aquelas manchas de rímel e me livrei daquela roupa idiota, seguindo com pressa para o banheiro. 

O que foi tudo aquilo?

Eu nem conseguia descrever o tamanho da minha vergonha por ter agido daquela forma, mas também estava brava com Nicolas. Não tínhamos mais doze anos, era ridículo brigar daquela forma por algo tão... besta. 

Depois do banho, vesti um short jeans e uma regata branca. Não estava com muita vontade de finalizar meu cabelo, e como dormi sem ao menos por a touca de cetim, meus cachos estavam desgrenhados. Fiz um coque alto, decidida a ignorar meu cabelo por hora e desci para a cozinha. 

Elise estava tomando seu café enquanto conversava animadamente com o maldito fotógrafo e meu pai lia um jornal enquanto ignorava qualquer pessoa que estava ali. Soltei um suspiro cansado e me aproximei da geladeira, pegando um cacho de uvas verdes. Meu plano inicial era roubar uma generosa fazia de lasanha que estava na geladeira, mas não era doida de fazer aquilo na frente dos meus pais.  

- Não vai se sentar para tomar café filha? - minha mãe perguntou animada - Comprei uma torta de frutas vermelhas maravilhosa. 

Observei a mesa, onde a tal torta repousava intacta e contive minha ironia. Sei muito bem o que ela queria, mas não estava disposta a render alguns cliques ao seu lado enquanto bancávamos a família de comercial de margarina. Enfiei três uvas na boca e fiz questão de falar enquanto mastigava:

- Não estou com tanta fome assim mãe. 

- Ah querida, não banque a rebelde hm? - se pôs de pé e veio até mim - Deveria ao menos ter se maquiado, está com uma cara horrível. Não dormiu bem? Seu rosto está tão inchado...

Revirei os olhos, eu não iria ter essa conversa com ela, não mesmo. Desviei minha atenção para Richard, que nos observava curioso. Droga, eu estava num beco sem saída. Elise me encarava com certa expectativa, talvez torcendo para que eu apenas me sentasse logo e tirasse a droga das fotos de uma vez. Por isso, coloquei um maldito sorriso falso no rosto e respondi:

- Certo mamãe, vamos tirar nossas fotos de família feliz. 

- Ótimo - me deu tapinhas amigáveis na bochecha - Animação ok? É para o meu novo trabalho.

Me sentei ainda irritada e posei ao lado da minha mãe, que colocou seu melhor sorriso no rosto. Era impressionante como tudo aquilo possuía uma falsidade enorme, como seu sorriso por mais que fosse enorme e com dentes alinhados, não trazia nem um pingo de alegria aos olhos. 

Senti os flashes em minha pele, me levando ao passado onde eu achava tudo aquilo uma grande animação e prometia a mim mesma que teria o mesmo destino que a mulher à minha frente no mercado da moda. 

Ah, como eu era idiota. 

Depois do que se pareceu uma eternidade, fui liberada. Nem sequer pensei em comer mais nada, apenas voltei ao quarto e peguei meu celular, meio que esperando uma mensagem de Nicolas. Mas a frustração veio em peso ao perceber que havia apenas mensagens de Mariana e Théo. Optei por responder ao rapaz. 

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