Surtos

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Acordei com o sol praticamente me cegando. O som das ondas imediatamente preencheu meus ouvidos e por mais confusa que eu estivesse, sorri. Rolei na areia e senti o corpo de Nicolas ao meu lado. Por alguns segundos, contemplei meu namorado (céus, é meu namorado!) dormir. Seu rosto tinha alguns resquícios de areia e sua pele estava levemente avermelhada. 

Até que aos poucos eu fui lembrando do que tínhamos feito e de que ainda estávamos na praia. Me sentei depressa, vendo algumas pessoas correndo no calçadão com seus cachorros, um homem vendendo água de coco e pouquíssimas pessoas se banhando. O pânico me atingiu e não fui muito delicada ao acordar Nicolas:

- Estamos ferrados, muito, muito ferrados. Levanta pelo amor de deus.

- Oi? – ele piscou confuso.

- Ai merda – fiquei de pé – Que horas devem ser? Sua mãe vai nos matar. Como foi que dormimos aqui? Droga, droga, droga.

- Calma – meu namorado se sentou – Que horas são? Tenho certeza de que ainda podemos chegar ao hospital antes da minha mãe.

- Meu celular está descarregado – mordi meu lábio aflita – Vamos atrás do meu motorista, a gente tem que correr.

Pegamos nossas coisas e corremos de forma desajeitada até a parte calçada da praia. Não tinha nenhum sinal do motorista da minha mãe, e me xinguei baixinho por não ter combinado nenhum horário com ele. Provavelmente o homem pensou que eu pediria algum táxi. Esfreguei meu rosto irritada, como pude ser tão burra?

Porém, agora não dava para aguardar o seu retorno, então sinalizei para o primeiro táxi que surgiu na minha frente. Para o meu azar, ele não parou. Comecei a andar mais rápido, tentando chamar a atenção de algum taxista. Era impressionante como tudo dava errado no momento em que estamos com pressa, pois a alça da minha bolsa rasgou, esparramando meus pertences.

Comecei a catar o máximo de coisas o mais rápido que conseguia, mas abandonei a maioria dos itens que usamos na madrugada. Nicolas me alcançou e se apoiou em mim com certa dificuldade, pedindo sem fôlego:

- Vai... Um pouco... Mais... Devagar.

- O que foi? – o encarei preocupada – Você está bem?

- Não – sua respiração estava falhada – Preciso tomar meus remédios, acho que já passou da hora na verdade.

Meu desespero triplicou e contive minha vontade de chorar. Os remédios dele estavam no hospital e provavelmente ele perdeu o horário de tomar alguns. Por sorte, um taxista nos viu e veio ao nosso encontro. Entramos no carro e falei da forma mais convincente que consegui:

- Chegaremos logo e você vai poder se medicar. Não se preocupe está bem? Vai dar tudo certo.

Eu ainda estava me xingando mentalmente por todo esse deslize. Fala sério, como que eu me permiti dormir assim? Sempre passei muitas madrugadas em claro, e justo nessa eu dormia dessa forma? O quão patético era isso? Tínhamos que voltar para o hospital cedo e eu não fazia a mínima ideia do quanto estávamos atrasados. 

Fechei meus olhos com força e desejei que o moço dirigisse ainda mais rápido, minha mente martelava a essa altura, me xingando de tudo o que era nome. Senti meu namorado segurar meu rosto e sussurrar:

- Vou ficar bem meu amor.

Forcei-me a sorrir para ele e minutos depois chegamos ao hospital. Toda a esperança que ainda restava naquele momento acabara de morrer. Tive total certeza que a cor abandonou meu rosto assim que vi Marta na calçada.

Ela não estava em seu melhor momento: as unhas roídas deixavam evidente a carne marcada que sangrava levemente, o cabelo estava bagunçado de um jeito que denunciava que Marta tinha ficado constantemente passando a mão ali e o rosto estava banhado de lágrimas. Ela andava de um lado para outro, com o celular próximo ao ouvido, como se estivesse conversando com alguém.

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