Nasce o Sol

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- Tem certeza que está tudo bem? – Nicolas questionou pela milésima vez.

- Tenho – encarei a janela do carro – Relaxa.

Foi realmente difícil tirar meu amigo do hospital, mas enfim achei uma enfermeira disposta a nos "ajudar" (depois de uma boa quantia) a sair. Ela garantiu ao médico que o examina a noite que Nicolas estava bem e nos guiou ao elevador dos funcionários, nos deixando em segurança no estacionamento do hospital onde o motorista nos esperava. 

Foi um pouco assustador sair assim no meio da noite, mas Nicolas carregava consigo os remédios que precisava ingerir e a tabela de horários escrita às pressas em um caderninho. Além disso, a enfermeira realmente examinou meu amigo, constatando que ele não teria problemas em passar algumas horas longe.

Mesmo assim, passei a maior parte do tempo calada, com medo de estragar tudo caso deixasse meu mau humor transparecer. A briga com minha mãe martelava em minha mente sem um pingo de piedade, me deixando cada vez mais inquieta. Como Elise teve coragem de me bater daquele jeito?

Nicolas me encarou por um momento e perguntou:

- Você está bem?

- Sim Nicolas – suspirei e forcei um sorriso – Só estou um pouco cansada, ok? Agora pode se acalmar e parar de perguntar a mesma coisa a cada cinco segundos. 

- Se você quiser voltar... – ele começou.

- Não – o interrompi e segurei sua mão – Eu só... Me estressei com minha mãe hoje. Está tudo bem, acredite. Minha relação com ela está um pouco tensa mas isso é normal hm? Nada fora do nosso cotidiano. 

- Tá certo – meu amigo me puxou para perto e beijou meu ombro – Espero que você goste de sair hoje comigo, tenho a sensação de que vai ser muito legal. Nunca fui à praia nesse horário, mas estou bem animado.

Estranhei tanta disposição para ir à praia, Nicolas costumava fazer cara feia e eu já tinha me preparado para todo o debate que teríamos caso ele se recusasse a ir. Mas não, meu amigo fez tudo direitinho e não soltou nenhuma reclamação. 

Era madrugada e as ruas estavam desertas. O clima estava agradável e não demorou a chegarmos. Desci correndo, sentindo a areia fazer cócegas em meus pés. O vento frio levou embora minha raiva e suspirei maravilhada, a natureza tinha esse poder maravilhoso de acalmar qualquer sensação ruim. Meu amigo estava mais lento enquanto caminhava ao meu lado, porém não me incomodei com isso. Segurei sua mão e nos afastamos do motorista lentamente.

Abri minha mochila e tirei dois casacos dali, pois estava realmente frio. Estendi um cobertor no chão e nos aninhamos nele. A praia estava deserta, parecia que apenas nós dois éramos loucos o suficiente de estarmos ali naquele horário. Nicolas respirou fundo e afirmou:

- Precisamos conversar.

- O que foi? – fiquei tensa.

- Você se arrepende? – seus dedos estavam esbranquiçados diante o esforço para se manter calmo.

- Como assim? – fiz careta.

- Se arrepende de estar comigo? – ele foi mais claro.

- Não – nem precisei pensar na resposta – Eu amo você.

- Sei que meus dias podem estar contados e isso é assustador – Nicolas respirou fundo, analisando meu rosto – Mas queria saber se você não se arrepende do caminho que estamos tomando. De... arriscar sair da nossa amizade e sentir coisas novas. Eu estou doente e agora moro em um hospital, não tenho muito a te oferecer. Não sou o rapaz que pode te levar em passeios, comer fora ou agir como um cara saudável. Tenho algumas limitações. Então quero saber se isso não é um peso para ti.

- Nicolas – sorri e segurei seu queixo – Nunca me arrependeria de estar com você. Mesmo que nossos encontros sejam em uma sala de hospital, no seu quarto ou no meu. Qualquer lugar se torna incrível quando estamos juntos.

- Eu te amo – sua voz saiu embargada.

- Eu te amo – afirmei.

- Você é a melhor coisa que me aconteceu Alícia – senti seus lábios em minha testa – E mesmo que meus dias não sejam tão longos, quero dedicá-los a você. 

Meu amigo me deu alguns segundos para absorver cada palavra antes de prosseguir baixinho:

- Acredito que não escolhemos a quem pertencemos, que simplesmente acontece. Que, de uma hora para a outra, nos damos conta que não conseguimos pensar em outra pessoa ou desejar outro alguém. Acho que foi dessa forma que aconteceu entre a gente, que me tornei seu sem nem ao menos perceber - ele sorriu fraco - Mesmo sem saber, pertenci a você desde o momento em que te vi. Desde quando éramos crianças, sei que meu coração sempre foi seu. Mesmo antes de sentir o que era amor, eu te amava Alícia. E, nunca imaginei que estaríamos assim hoje. Mas tenho total certeza de que não haveria outra escolha para mim: sempre seria seu. E isso é incrível, pois não conheci nenhuma outra mulher que carregasse tanta luz dentro de si, que me amasse com tanta intensidade e cuidasse de mim de forma tão genuína. 

Pisquei atônita, surpresa demais para falar algo. 

- E eu entendi que eu também te amo dessa forma - continuou - Também quero cuidar de ti e segurar sua mão quando precisar. Quero ser seu porto seguro, o motivo do seu sorriso e quero semear a esperança de que teremos um futuro incrível juntos. Por isso Alícia, você quer ser minha namorada?

Não me dei conta de que estava chorando até sentir o gosto salgado em minha boca. Quando segurei seu rosto, estava tão nervosa e meus dedos tremiam. Meu melhor amigo não desviou os olhos do meu quando retornou a falar:

- Sei que não posso te oferecer a eternidade ao meu lado, não nessa vida. Mas, se quiser, posso dedicar todos os meus dias a semear o nosso amor.

- Ah Nicolas – suspirei encantada – Eu adoraria ser sua namorada.

Nos beijamos e senti seu corpo relaxar com o toque. A felicidade dominava cada parte do meu ser que eu não conseguia explicar. Nicolas, meu melhor amigo e namorado, retirou um par de alianças do bolso e segurou minha mão. Eram perfeitas, prateadas e a minha tinha uma pequena joia encrustada. Singelo e delicado.

Ele também tremia, em uma mistura de frio e alegria. Tudo se tornava tão especial porque estávamos completamente sozinhos. Era apenas eu e ele, nosso amor sendo enfim oficializado. Ao colocar a aliança, Nicolas prometeu:

- Todos os meus dias serão seus.

- Todos os meus dias serão seus – também prometi.

Voltamos a nos beijar e ouvimos o doce som das ondas atrás de nós. Sentimos os raios de sol nos beijar preguiçosamente e, naquele momento, não havia problemas que diminuíssem minha felicidade. Era o lugar perfeito, na hora perfeita, com a pessoa perfeita.

Encarei meu namorado e senti a felicidade esmagar meu peito, eu estava tão feliz que me sentia em êxtase.

E uma esperança surgiu em meu coração.

Como os raios de sol que nos banhavam.









Oiii, olha só quem apareceu. Como vocês estão? Eu espero que sim. 

Esse foi um dos poucos capítulos que eu não modifiquei quase nada (por isso ele é tão pequeno também). Mas sinceramente, achei a escrita tão pura que não me atrevi a mexer muito. 

É com certeza o meu capítulo favorito, pois escrevi pensando em um alguém muito especial que definitivamente me inspira todos os dias. 

Me digam o que estão achando, suas opiniões sobre esse pedido de namoro e o que acham que vai acontecer. 

Beijos de luz e bebam água ❣


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