Número Oito

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Torci meu nariz para a pilha de dever de casa que estava acumulada encima da minha escrivaninha, um claro sinal de que eu precisava parar um tempo para estudar, por mais que fosse chato. Nunca fui uma péssima aluna, porém, nunca cheguei a ser a melhor (e nem me esforço para isso). 

Mas não poderia me dar o luxo de acumular tanta coisa assim, o final do ano letivo não estava longe de chegar e eu sabia que caso reprovasse significaria o fim da minha amizade com Nicolas. Sendo assim, prometi a mim mesma que faria algumas atividades assim que chegasse a casa.

Suspirei enquanto descia as escadas e fiz um belo trabalho ao ignorar meus pais que estavam no sofá conversando com mais alguns fotógrafos. Levei poucos minutos para chegar à sorveteria e sorri ao ver meu amigo me esperando. Ele me encarou de cima a baixo e falou:

- Você está linda.

- Obrigada – agradeci.

- Por que estamos aqui mesmo?- ele questionou e olhou o cardápio – O que a lista tem a ver com sorvete? Já tivemos um item bem parecido e não posso me entupir de açúcar como antes.

- Não é a comida do lugar – afirmei – É o lugar. Quero calmaria para você se inspirar e bem, podemos pedir um daqueles potes com várias frutas que a atendente monta. 

Vi sua cara de dúvida e depositei o envelope em suas mãos. Não seria um item tão leve como os próximos, mas senti a necessidade de adicionar esse item a lista. Com certeza aquilo me deixava nervosa, principalmente por estarmos em público e meu melhor amigo poderia reagir de forma meio estressada.

Nicolas abriu o envelope com carinho e leu em voz alta:

- Número oito: escrever despedidas para pessoas importantes.

Não falei nada, apenas esperei por sua reação. Meu amigo depositou o papel na mesa e ficou quieto, os olhos fixos na mesa decorada de granulados. Era engraçado estar em um clima estranho justamente em um lugar tão colorido, mas é essa a nossa situação atual.

Por algum tempo, o silêncio pairou entre nós. Me questionei o que Nicolas estaria pensando, se achou minha ideia genial, mórbida ou apenas clichê como nos filmes de adolescente. Bem, seja o que for, eu não conseguia deduzir de suas expressões. 

- Realmente não esperava por essa - enfim falou algo. 

- Achei que fosse algo necessário – me expliquei – E para ser sincera, quero ter algo seu para manter comigo sempre. Sei que tem vontade de simplesmente... partir e eu quero ter alguma coisa sua. Algo que foi realmente pensado e escrito para mim. 

- Alícia... – ele começou.

- Sei o que vai acontecer no final dessa lista, ou pelo menos é o que eu imagino – o interrompi – E está tudo bem, não vou mais lutar contra isso. Só... Me deixa ter uma despedida sabe? Para caso seu tratamento der errado ou...

- Não chore, por favor – ele tocou meu rosto.

Eu nem percebi que estava chorando, mas aquele assunto mexia demais comigo. Foi um item que quase não coloquei na lista, mas realmente queria ter alguma lembrança de Nicolas quando tudo acabasse.

- Desculpe – solucei.

Retirei dois cadernos da minha bolsa e espalhei meus itens de papelaria na mesa. Meu amigo continuava quieto, talvez com medo de falar algo que me magoasse ainda mais. Nicolas pegou uma caneta com certo receio e questionou:

- Você também vai escrever?

- Sim – confirmei - Afinal não sabemos o dia de amanhã né?

- É estranho pensar nisso – ele mordeu o lábio inferior – Em... Despedidas.

A ListaWhere stories live. Discover now