Número Nove

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Dias se passaram desde a escrita das cartas e resolvi tirar um tempo para mim mesma. Passeei com Théo e com Cristina, fiz alguns trabalhos escolares e ensinei Tapioca a se sentar e dar a patinha. Enquanto isso, tentei colocar meus pensamentos em ordem e entender tudo o que estava acontecendo comigo internamente. 

Penteei meu cabelo devagar e encarei meu reflexo. De alguma forma, eu estava perdendo peso, o que me entristecia, afinal, mesmo não estando no peso ideal para a sociedade (e minha mãe) eu achava meu corpo muito bonito. Meus cachos pareciam sem vida e minha pele negra não tinha mais tanto brilho assim. Provavelmente era fruto do meu estresse e noites sem dormir decentemente.

Antes do meu amigo chegar, finalizei minhas atividades pendentes e me joguei na cama com um livro de história. Minha mãe seguia no meu pé quanto aos estudos e eu sabia que tinha que me manter na linha. As provas se aproximavam e caso eu tirasse nota ruim, Elise iria me matar. Havia até acompanhado ela em um evento ontem, sorrindo e posando para as fotos. Tapioca veio até mim e lambeu meu rosto. Abri um pequeno sorriso e sussurrei:

- Vai ficar tudo bem não é?

- Falando sozinha Alícia? – Nicolas debochou.

-Está me espionando agora? – rebati.

- Talvez – ele deu de ombros – Você é linda, então me dou o luxo de te admirar de vez em quando.

- Isso soou bem estranho – fiz careta – Parece que você é obcecado por mim, está segurando alguma faca atrás das costas pronto para me atacar?

- Sou completamente obcecado, eu diria – ele riu - Mas sem a parte da faca, não ousaria estragar seu belo rostinho. Se não, o que eu admiraria todas as noites antes de dormir?

O observei se aproximar e sentar ao meu lado. Estava nítido seu bom humor, nem sequer enrolou para vim me ver depois da minha mensagem pela manhã. Tapioca logo me trocou por ele, claramente Nicolas era o preferido. Não só Nicolas, mas Cristina, Théo... Qualquer um antes de mim. Revirei os olhos, perdoando meu cachorro por preferir meu amigo, quem não resistiria a esse charme não é mesmo?

- Desculpa ter chegado mais cedo – meu amigo coçou a nuca – Minha mãe precisou de mim e acabou me dando carona até sua casa antes de ir ao trabalho. Se eu não topasse, teria que vim a pé ou...

- Relaxa – pedi e fechei meu livro de história – Fica a vontade, você nunca atrapalha.

Não era mentira, tudo se tornada secundário quando meu amigo chegava. Sem falar que eu havia estudado por duas horas seguidas, provavelmente o meu novo recorde. Mesmo que não fosse de propósito, meu amigo dominava toda a minha atenção.

Observei enquanto Tapioca saltitava no colchão com o ursinho na boca, atraindo todo o carinho de Nicolas. Claramente não era só eu que se dedicava tanto assim a agradar o rapaz, meu cachorro se remexia como se sua vida dependesse daquele cafuné. Nicolas me olhou por um tempo e desviou o olhar para o meu guarda roupa, soltando um estalo de surpresa.

Na porta, pendurei um vestido vermelho em um cabide de um jeito que não amassasse. O tecido plissado avermelhado ainda carregava alguns detalhes abaixo do busto, pequenas pedrinhas como se fossem uma espécie de espartilho. [Foto de inspiração na multimídia] Não era meu estilo esse tipo de roupa, mas eu tinha separado por um motivo especial. Meu amigo estalou a língua e perguntou:

- Por que você tem um vestido tão chique assim? 

- Em breve você vai descobrir – respondi.

- Não deveria fazer todo esse suspense – ele bufou – Vamos, me dê pelo menos uma dica, algum casamento? Evento da sua mãe? Aliás, devo admitir que você ficou impecável na entrevista de ontem. 

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