Número Sete

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Três dias se passaram desde a adoção e eu já estava muito apegada à Tapioca. Agora, parte dos meus dias se tornou unicamente para cuidar do meu cachorro. Ele era definitivamente animado, acordava logo cedo e me fazia sair da cama para caminhar pelo quintal, comeu algumas das minhas sandálias e tive que me assegurar de que qualquer coisinha pequena, e de alguma forma mastigável, estivesse em uma altura segura.

Despertei ao sentir suas lambidas em minha face, latindo animado e pulando no meu colchão. Esfreguei meus olhos enquanto tentava me defender das suas investidas no meu rosto. Ao longe eu conseguia ouvir a chuva que açoitava minha janela desde a madrugada. 

Estava um friozinho tão gostoso que eu provavelmente teria acordado somente depois das dez, mas Tapioca estava decidido em me tirar o sério.

- Tapioca sai de cima de mim - resmunguei e como resposta recebi uma lambida em meu nariz.

Eu não reclamava, qualquer raiva por ter sido acordada evaporava no momento em que eu via seu rostinho fofo. Ri que nem uma besta ao encarar meu cachorro saltitando, animado pelo dia que iniciava. A cama estava devidamente bagunçada e eu conseguia ver meu ursinho no canto do quarto. 

- Isso não foi nada gentil da sua parte sua bolinha de pelo danada - fingi reclamar - O que Fred vai pensar de você depois desse atentado a vida dele?

Puxei meu cachorro para uma sessão de beijos, pois mesmo com o quarto revirado, eu estava feliz. Além de que os estragos feitos não era nada tão... destrutivo assim. Ou talvez eu estivesse realmente relevando as coisas para aquela carinha fofa.

Me dirigi ao meu banheiro e tomei um banho rápido, escovando meus dentes e vestindo uma roupa confortável. A chuva servia de desculpa perfeita para faltar a aula, então me preparei para um dia preguiçoso embaixo das cobertas.

Essa semana eu estava decidida a treinar alguns truques com meu cachorrinho, e quem sabe até convencê-lo a se manter longe do ralo do banheiro. Fiquei tão concentrada em ensinar Tapioca a se sentar que não vi Nicolas chegar. Ele se apoiou na porta e perguntou:

- Podemos conversar?

Instantaneamente fiquei tensa, ele não parecia nem um pouco feliz. Me perguntei se estava com dor ou se havia acontecido algo extremamente sério. Umedeci meus lábios e tentei parecer forte para o que viria.

- Claro - notei seu semblante sério - O que aconteceu?

- Estou com medo - ele confessou.

- Medo? - franzi a testa.

- Um dia Alícia - Nicolas abriu um sorriso triste - Um dia você vai entender.

- Ok então - concordei meio hesitante – Você quer falar sobre isso ou outra coisa?

- Outra coisa – meu amigo escolheu.

- Bem – pensei um pouco - Tá afim de mais um item na lista?

- Hoje? – me encarou surpreso.

- Sim – concordei.

Sei que não era o dia marcado, porém não era sempre que chovia dessa forma e eu tinha que aproveitar. Fiquei de pé e fui até o meu cartaz, pegando o envelope e entregando ao meu melhor amigo. O mesmo suspirou, ainda visivelmente desanimado com algo e leu:

- Número sete, brincar na chuva.

- Acho que não tem dia melhor para isso – afirmei e apontei para a janela.

Meu amigo nem hesitou, fazia muito tempo que não brincávamos dessa forma. Nicolas pegou Tapioca no colo e descemos para a sala. Minha mãe estava esparramada no sofá, com o celular em mãos e um pote de salada no colo. Era bizarro alguém comer salada assim logo pela manhã? Sim, mas Elise estava em período de alta nos desfiles, se ganhasse mais algum peso com certeza surtaria. 

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