Como nos velhos tempos

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Falar que Nicolas dormiria em minha casa era surpreendente para mim, me levava diretamente ao passado, onde nossas únicas preocupações eram virar a noite em claro e comer a maior quantidade de doces possíveis. 

Quando éramos pequenos, minha mãe viajava constantemente, me deixando sozinha com minhas babás. Eu amava, adorava a liberdade que me era oferecida por duas semanas e dedicava grande parte do meu tempo aos acampamentos que eu fazia ao lado do meu melhor amigo. Marta as vezes nos levava para a fazenda da família em busca de oferecer uma versão de acampamento mais próxima da real, porém ficar no quintal de casa também era satisfatório. 

Desde que começou seu tratamento, nunca mais tínhamos passado a noite fora.

Quando expus meus planos, minha mãe me analisou por alguns segundos e concordou, me dispensando com um aceno logo em seguida. Não comentou nada sobre nossa última conversa, o que me aliviou. Ainda era claro que Elise estava receosa em me ver com Nicolas, mas sabia que eu não daria o braço a torcer. 

Era uma época de movimento em meio as modelos e eu sabia que sua agenda estava lotada. Então, depois de uma pequena barganha - uma sessão de fotos em família na terça feira sem nenhum resmungo ou cara feia - fui liberada para fazer o que eu quisesse no quintal, contando que isso não atrapalhasse seus planos, claro. 

Como eu já tinha os materiais necessários para o acampamento, me ocupei em pegar os alimentos. Pesquisei na internet algumas ideias de lanches que não matasse meu amigo (sem ironia) e liguei para a mãe dele em busca de dicas. Fiz uma salada de frutas, sanduíches naturais e Marta me garantiu que iria trazer um bolo de laranja que ela mesmo fez.

Apesar de o meu amigo me garantir que estava tudo bem, eu tinha sérias dúvidas sobre isso. Não era a primeira vez que ele piorava, mas insistia em mentir dizendo que estava melhor apenas para me deixar tranquila. Arrumei tudo em meu quintal e estava tão focada em pendurar as luzes na barraca que não vi meu melhor amigo se aproximar e falar:

- Está tudo incrível.

- Como você esta? - questionei enquanto ajeitava os cobertores na barraca.

- Só me sinto um pouco cansado - ele deu de ombros e depositou o bolo na mesinha do lado de fora. 

- Pode se sentar - apontei para os cobertores.

- Você está linda sabia? - me elogiou de repente.

Fiquei tímida diante do elogio. Desde que voltara do hospital, apenas tinha tomado um banho e substituído a farda por um vestido amarelo simples e sapatilhas pretas. Não pensei em me maquiar, nem em finalizar meu cabelo, mas era bom saber que estava bonita para ele. Ajeitei uma das almofadas e elogiei:

- Obrigada, você também está muito lindo. Agora, posso saber o motivo do elogio?

- Não - sorriu misterioso.

Revirei os olhos e finalizei a arrumação das coisas. O dia estava chegando ao fim, então me sentei ao lado de Nicolas e observei o pôr do sol. O céu estava ganhando seus tons alaranjados, a casa silenciosa e o clima esfriava lentamente. Meu amigo pegou uma maçã e me ofereceu. Aceitei e dei uma mordida, mastigando devagar antes de comentar:

- Senti falta disso.

- Da maçã? - Nicolas brincou e lancei um olhar irritado em troca - Desculpa, também senti falta dos nossos acampamentos.

- Quando éramos crianças - entreguei a maçã para ele - Você tinha medo das árvores no escuro, duvido muito que sentia falta disso. 

- São assustadores ok? -  fez careta - Você sempre riu de mim.

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