Número Onze

107 72 44
                                    

Levou um tempo, mas logo estávamos sendo realocados para a casa de Nicolas. Apesar de Marta não querer permanecer no hospital, foi decidido que Nicolas evitaria ao máximo sair de casa. De qualquer forma, ainda foi um alívio enorme para nós, pois eu conseguia notar o meu namorado infinitamente mais confortável em sua casa do que naquele lugar apático. 

Eu meio que não saía mais do seu lado, indo para casa apenas para dormir e ir para a escola. Desconfiava que Marta havia conversado com minha mãe, pois a mesma passou a ficar quieta e guardou suas piadinhas ridículas para si. 

Agora, estávamos na sala esparramados no tapete, felizes por que o remédio tinha parado a dor por um instante. Não havia nenhuma timidez entre nós dois, e agora passávamos grande parte das tardes trocando beijos e carinho. Meu namorado me beijou de leve e perguntou:

- O que faremos quando a lista acabar?

- Podemos criar outra – sugeri – Ou sei lá, fazer alguma comemoração.

- Gostei – ele fechou os olhos por um momento – Cadê o próximo envelope?

Fiquei de pé e corri para o seu quarto em busca do cartaz. Um misto de emoções me percorreu ao perceber que estava tão perto de finalizar, restavam apenas dois envelopes ali. Retirei o penúltimo com cuidado e voltei para perto do meu namorado. Ele me deu outro selinho e leu em voz alta:

- Sair com os amigos.

- Nesse teremos que fazer uma pequena alteração, e nem adianta teimar pois se fugirmos de novo a sua mãe vai nos matar – afirmei antes que algum plano maluco surgisse – Mas é só chamar o pessoal para cá que vai ficar tudo certo.

- É, pode ser – Nicolas concordou e bocejou – Você pode agilizar isso enquanto eu dou um cochilo? Esse remédio me deixa estranho.

- Tudo bem – concordei.

Não demorou muito tempo para que eu conseguisse chamar o pessoal, Nicolas não tinha muitos amigos. Uma hora depois, Cristina, Marcos e Ricardo estavam na sala. Era bizarro ter aquele trio junto, principalmente pelo fato de que desde nosso encontro de pedido de desculpas, ainda não tínhamos saído assim. Não era nenhum incômodo ver Cristina, mas de toda forma, eu sabia que ela se sentia um pouquinho deslocada, igual ao Marcos. Já Ricardo, céus, mal nos falávamos durante as aulas. 

Mesmo que de forma inconsciente, eu tinha alguma noção de que estava negligenciando a minha vida escolar para ficar na casa do meu namorado, mas não queria abrir mão disso. Talvez eu pudesse equilibrar, chamá-los mais vezes quem sabe. Acordei meu namorado com delicadeza e abri a porta para a última pessoa entrar. Theo corou ao me ver e fiquei confusa por vê-lo ali. Mariana se aproximou dele e explicou:

- Começamos a namorar, espero que não tenha nenhum problema se ele ficar aqui com a gente.

- Claro que não tem problema – fui sincera – Fiquem a vontade. Fico feliz que enfim tenha encontrado alguém para sossegar esse seu facho Theo!

- Você sabe que eu amo a ideia de ter uma vida tranquila e ter um time de futebol de pequenos pela casa, hm? - o rapaz debochou. 

- Espero ser madrinha de todos - fingi empolgação. 

De todos ali, ele era o que eu mais mantinha contato. Claro, depois da piora de Nicolas eu havia ficado mais ausente, mas ainda trocávamos mensagens. Theo com toda a certeza foi uma das surpresas maravilhosas que a lista me proporcionou, e é muito bom saber que seu coração agora seria bem cuidado.

Levamos um tempo para decidir qual filme ver, e depois de uns quinze minutos, optamos por um filme infantil. Fiz pipoca para a galera e selecionei as frutas que estavam na dieta de Nicolas (depois de prometer a Marta que não iríamos mais comer porcarias). Meu namorado beijou meu rosto e agradeceu:

- Muito obrigada linda.

- Ei – Cristina fez careta – Não quero ficar de vela não em? Controlem esses hormônios.

- Vocês são uns chatos – bufei.

Rimos alto e voltamos a prestar atenção no filme. Era impressionante como Nicolas tinha mudado nas últimas semanas. Eu não pensaria que estaríamos assim, nos divertindo na sala com outras pessoas. Claro que eu sempre amei estar na companhia dele, mesmo antes de me declarar, mas saber que agora ele tinha voltado a se sentir confortável com mais pessoas me deixava feliz. 

Por tanto tempo era só eu e ele, e agora meu melhor amigo (e namorado) estava socializando.

Isso me bastava, me deixava realmente contente e com uma sensação de orgulho.

Mesmo com o pouco tempo que eu tinha com o meu namorado, eu já estava feliz. Percebi que não precisava de uma garantia da eternidade, eu estava disposta a durar pouco tempo se fosse ao lado dele. Sempre foi apenas eu e ele, e agora, não havia nenhuma barreira entre nós. Nosso amor me completava a cada dia, as pequenas coisas eram capazes de mudar todo o meu humor. 

- Alícia? Meu bem? 

- Oi – despertei do transe – O que foi?

- Algum problema? – meu namorado perguntou, os olhos fixos em mim.

- Não – neguei – O que foi?

- Você está ai parada olhando para o nada – Cristina riu - A parede se tornou tão interessante assim? 

- Que tal jogarmos um pouco? – Theo sugeriu – Cansei de ficar assistindo.

- Acho uma boa – Marcos concordou.

- Vamos para o meu quarto – Nicolas pediu – Já já minha mãe chega e vocês fazem muita zoada.

Enquanto o pessoal ia buscar o baralho e o uno na caixa de jogos que ficava na garagem, dei uma geral na sala. Empilhei a louça na pia e as lavei. Foi inevitável não me perder em pensamentos, eu estava tão feliz! Como tudo poderia mudar de uma forma tão boa assim? Nem parecia que era a minha vida, afinal eu me apeguei tanto a angústia que esse momento de plenitude me causava estranheza.

- Amor?

- Oi – sorri que nem uma idiota – Já estou acabando.

- Obrigado tá? – ele beijou meu ombro assim que me abraçou por trás – Não pensei que seria tão legal assim.

- Fiquei surpresa que todo mundo veio – guardei a louça.

- Eu amo você, minha garota – Nicolas sussurrou - E sou imensamente grato por sempre procurar me deixar feliz.

Me virei para encará-lo e o beijei. Descobri que nunca me cansaria de beijá-lo, que sempre sentiria meu coração aquecer e meu corpo relaxar. Quando recuei, sorri sem graça. Ele fez carinho em meu rosto e abriu a boca para falar algo, mas foi interrompido por um berro de Theo:

- Cuida aí casal, o jogo já vai começar.

- Estamos indo – Nicolas respondeu – Vocês estragaram meu momento!

- Eca – dessa vez foi Mariana – Cuidem logo.

- Vamos amor – pedi rindo – Não quero ter que ouvir nenhum sermão.

- Cancela esse negocio de ter amigos – meu namorado bufou - Vamos ficar apenas nós dois mesmo, é muito melhor.

- Relaxa tá bem? – sorri de lado – Logo teremos um momento a sós.

- Isso aí eu curti – ele se animou.

Seguimos para o quarto dele e encaramos nossos amigos. Peguei minhas cartas e observei a galera fazer o mesmo. Eu estava tão, tão feliz. Que, no fundo, desejei que esse sentimento durasse para sempre.





********************

Capítulo curtinho, mas muito especial para mim. Nem acredito que estamos chegando no final

A ListaOnde histórias criam vida. Descubra agora