III: Como distrair a atenção da população

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'"Ocorreu esta semana o assassinato de Madalena Fernandes. Novamente, o caso foi uma das tentativas do governo Marquense de ocultar o crime de seus iguais. O coronel Umberto Fernandes assassinou a esposa e deixou o local do crime com a tranquilidade que seu dinheiro poderia oferecer. Vemos mais uma vez um destes crimes de sangue que mancham a honra desta cidade em vias de desenvolvimento. O corpo de dona Madalena Fernandes foi levado ao cemitério da Magris, mas ao contrário do que deveria ser, ninguém foi deixar uma flor sequer à mulher que deixou este mundo por opressão masculina. Um crime desleal, sem nenhuma condição de ser aceito nesta cidade que será as bases do progresso Magreense."

Henrique fez uma careta e deixou que o jornal baixasse por si só. Olhou o coronel Felisberto, seu amigo de longa data, e soltou a fumaça do charuto. 

— Jornalista de meia tigela. — se chateou. 

— Coloque Cosme para lhe fazer ver a razão. 

— Posso não. — gesticulou com a cabeça. — Iria gerar mais falatório ainda. Tem que colocar um reproche nesse jornal. Tenho é que arranjar outro mote para essa cidade se ocupar. 

— O povo esquece fácil, intendente. — concordou o coronel Januário. — Eu mesmo nem estava lá. 

— Façamos um favor à sociedade. Um dia de festa para espairecer. Coloquemos uma data religiosa, a favor da Virgem. 

— A Virgem que se ocupe de calar esse moleque abusado. — levantou. 

— Minha mulher se colocará imediatamente para promover um baile. — Felisberto levantou também.

— Um baile vai demorar muito. — reclamou. — Preciso de alguma coisa para amanhã. Assim, esse jornalzinho não vai passar de papel para limpar a bunda. 

— Se preocupe não, — gesticulou. — Irina vai preparar tudo para amanhã. 

Henrique cambaleou até à porta, já era velho e mandava naquela cidade há muito tempo. Era o chefe de uma larga família, três filhos homens e quatro netos. 

— Senhor, — o jagunço abaixou a cabeça ao vir correndo pela traseira da casa. — o programa eleitoral do senhor Martin Mendes. 

O intendente começava a quase ter um treco. Pegava o papel e lia-o quase como se seu coração parasse. 

— Eu estou... — buscava ar. — Há mais de setenta anos nesta cidade. Eu sou cultivador de ouro negro há sessenta anos, meus senhores. As pedras preciosas dessa cidade vieram das minhas mãos! Esta terra leva meu nome nas entrelinhas. Senhores...

— Isto não passa de lixo. — Cristóvão Osório puxava o papel, amassava e jogava no chão. — Magia. — lia de relance. — Magia. 

— A magia nunca vai passar por esta cidade! — Henrique bateu na porta do escritório. 

— Um baile me parece bem. Além disso, poderemos todos dar as boas-vindas à viúva Santos. 

— A viúva Santos. — Henrique riu, se acalmando notavelmente. — Se ao menos o grande Júlio Santos não fosse meu amigo. 

— Amigo debaixo de terra já não é impedimento. — Felisberto passou um olhar atrevido ao amigo. Henrique retribuiu o olhar e riu.

— Realmente a viúva Santos é bem conservada. — acariciou a barba branca com maldade. 

— Bem conservada. — o senhor Osório brincou com as sobrancelhas. 

— Então façam um baile, eu mesmo irei presidir. 

— Chamemos o Inscantunam e façamos ele presidir o baile, assim ele está à frente dos boatos e o senhor será o intendente inocente apenas desfrutando de uma noite agradável com vossa família. 

Magris A história de uma cidadeOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz