IX: Os Inscantunam's

10 5 0
                                    




— A senhorita Santos me convidou para beber chá em sua casa. — Cordélia anunciou se colocando à frente da mãe que estava enrolando salgados enquanto Gregório falsificava bebidas de maior qualidade para colocar um pouco mais de teor alcoólico. — A senhora me permite ir?

— Sim. 

— "Sim", o quê? — franziu o tio Camilo subindo as escadas da casa e trazendo a caixa para o sobrinho descer com as bebidas. 

— Cordélia vai visitar uma colega. Santos, não?

— Sim. — sorriu.

— Esse nome já está muito falado dentro desta casa. 

— Mas se eu... — Clotilde enrugou o cenho. — Camilo, se não quer que ela vá diga diretamente. Eu não vejo problema nenhum. 

— O problema não somos nós, são eles. — olhou pela janela a praça do chafariz. Pensava sobre tudo o que ouvia dentro daquele bar, as formas que os homens falavam sobre as meninas, sobre as prostitutas, sobre o casamento, era o terror e maior pesadelo de Camilo ver Cordélia ser desonrada por algum deles. — Severino vai te levar. Para evitar conflitos. 

— Mas papai, Severino está sempre olhando Josefina como se fosse a beijar loucamente. Não posso ser acompanhada por ele!

— E nem só. — Camilo coçou o peito. — Eu vou lhe levar porque Gregório também não se pode contar. — fez uma careta e deixou a caixa e o pano que levava por cima do ombro. 

— Passe perfume. — a mulher ordenou. 

A mãe espirrou perfume em torno do marido e os dois foram para a praça. Camilo ia levando a filha pela rua e ainda pensava em como preocupado estava. Ao chegar na casa Santos e ver a senhora Eva, se tranquilizou. Cordélia olhava o pai com um sorriso sem graça e as três meninas davam um adeusinho enquanto Camilo pensava sobre o pesadelo do homem pai de três meninas ou mais. 

— Deverá ser o próximo jantar importante. 

— Eu fui à modista ontem. — Josefina contou. — Mamãe falou que os filhos do coronel Cristóvão vão jantar em nossa casa esta semana. 

— Quem são? — franziu com o cenho. 

— Valentim e Vicente. 

— Será que eles foram para alguma escola de magia? — Josefina franziu o cenho. 

— Com dois anos? Melhor duvidar que foram formar em direito. 

— Antes fossem pedreiros. Já que as obras dos Inscantunam não terminam nunca. 

— Se eles são de Magix, porquê estão crescendo negócios aqui? 

— Dinheiro, Gertrudes. Dinheiro. Vovô jantou com ele ontem à noite. — confidenciou. — Mas é segredo. Os Inscantunam's já são demasiado ricos. Meu avô está armando alguma coisa.  

— Segredo porquê? — franziu Cordélia. 

— Porque meu avô é o dono desta cidade e o Inscantunam está construindo a cidade. Mas vejo no olhar do senhor Inscantunam que está aterrorizado. No jantar, ele ficava constantemente olhando os revólveres na cintura do Costa. Mas o problema é o aspirante Martin. 

— Que beijou a sua mão? 

— A sua mão, queres dizer. 

— Culpa de Severino. A intenção dele era beijar a si. 

— Se meu avô souber disso, ele matará o senhor Mendes sem pensar duas vezes. 

— Falemos de outra coisa. — Gertrudes pediu. — Vamos, — levou as meninas até o armário. — tem sempre que usar luvas, Cordélia. 

— Mas está calor. — franziu. 

— Uma dama nunca sai sem as luvas, o chapéu, o leque, as meias e os saltos. — entregou um par de coisas e buscou uma caixa. — Uma dama sempre está com sua aparência frágil e olhos lacrimejantes, por isso leve sempre estes frascos. — mostrou. — Uma dama sempre sorri pouco, se sorrir muito os senhores perdem o interesse. Uma dama está sempre quieta e nunca sozinha com um homem, apenas se for da família. Uma dama nunca toca a um senhor encostando a pele. Uma dama não deve se dar ao capricho de olhar demasiado a ninguém e certamente não devemos nem sequer citar magia em lugar nenhum. 

— Mas essas regras são... — se preparava para reclamar quando recordou das indicações de sua mãe. — Adequadas à sociedade de Magris. 

— Isso não significa que gostamos delas. — suspirou Gertrudes. — E não esqueça do pó. — mostrou o frasco. 

— Para a pele? — franziu. — A minha mãe prefere rouge. 

— Não é para a pele. — Josefina riu. — É para provocar um desmaio. 

Cordélia abriu a boca chocada. 

— Falemos de coisas mais interessantes. Me conte sobre a Magia, se é de Sjar, faz magia por certo. 

Josefina olhava a nova amiga com interesse. Pensava no irmão dela, tinha que planejar alguma coisa para se verem novamente.  O ato de se apaixonar não era surpresa para a menina Marques, porém há um tipo de fascinação que faz todo o mundo se encher de cor, faz um coração voltar a palpitar. Não tinha a certeza se era recíproco, mas sabia que seria divertido. E há coisas que só se vêm com o coração.

Magris A história de uma cidadeWhere stories live. Discover now