XXVI: Enfrentamento direto

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Josefina começou a perceber que estava por todos os lados sendo seguida. Despediu de Gertrudes e se escondeu em casa. 

Olhou tudo ao redor e franziu o cenho. Andou até à janela e pela cortina viu os homens se desvanecer. Correu para o andar de cima e largou a bolsa da escola em cima da cama. 

— Mãe! — gritou procurando em seu quarto, mas não encontrando. — Mãe!

— Eu acho que ela está lá em baixo. — Lucrécia saiu do quarto. — Mariano está dormindo. 

— Desculpa. — franziu o cenho. — Havia dois homens me perseguindo hoje o dia inteiro. Mesmo de manhã quando minha mãe me levou à escola. 

— Isso deve ser coisa do vovô. Por causa do senhor Martin Mendes, depois do que aconteceu ontem...

— Mas o senhor Martin não está interessado em mim. — franziu outra vez. — E onde está o vovô? 

— Voltou de seu banho de sol e deve estar tirando a sesta. 

— Sesta? Como se pode dormir tranquilo deixando sua neta ser perseguida por dois... Ah. — balançou a cabeça negativamente e suspirou indo embora. 

Murilo novamente estava rondando Nicoleta. Onde ela ia, ele ia. E se ela parava, ele também parava. 

— Pare, por favor. — olhou o cunhado. — Deixe-me em paz. 

— Eu não consigo, Nicoleta. Sabe disso. Deixe-me tocá-la, deixe. — tentou segurá-la pelo quadril, mas ela correu pela cozinha, assustada. 

— Não, Murilo. — gritou entredentes e agradecida pela servente passar naquele momento com uma bacia. 

A loira corria até o próximo cômodo dando a volta pela pequena estufa para voltar ao salão onde havia o corredor para a entrada onde estava a escada para o andar seguinte. 

Murilo dava a volta pelo outro lado e a agarrava pelo corredor. 

— Por favor, me deixe. Respeite seu irmão. Me respeite. 

— Eu sei que me quer. — a girou, colocava de costas para si encaixando seu corpo no dela. A puxava os cabelos claros e fazia-a se olhar no espelho que tinha à frente. — Veja. Veja como está. Sabe que está sedenta. — tentava descer sua mão entre suas pernas. 

— Murilo, seu irmão vai lhe matar por este desrespeito. — falou baixinho ficando sem ar. 

— Meu irmão é invertido. Por isso adora ficar na fazenda. — sorriu na orelha dela. — Ele não gosta de você, ele não quer você. Eu quero. 

— Murilo. — deu uma cotovelada e respirou fundo antes de continuar correndo. 

Seu sapato de tamanco batia contra a madeira da escada. O barulho ecoava. 

— Nicoleta! — ele ia atrás dela. 

— Mainha. — Josefina aparecia no topo da escada e a mãe se apressou a sorrir. — O que está acontecendo? Por que está gritando com minha mãe, tio Murilo? 

— Eu? — ele ficou desconcertado apesar do abuso da sobrinha. — Eu só disse à sua mãe que como minha cunhada ela deveria acompanhar minha esposa à modista. Um absurdo ela nunca acompanhar Olinda. 

— Eu já tenho demasiados vestidos, obrigada. Meu marido os escolhe a dedo. 

— Pois claro, com aquele jeito dele. — resmungou revirando os olhos. 

— Mas que gritaria é essa? — Henrique cambaleou para fora do quarto. — É "mãe" para lá, "mãe" para cá. "Nicoleta", "Mainha", o que vem a ser este barulho irritante? 

Magris A história de uma cidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora