XXVII: Quase morto

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— E ele vai ter a cara e coragem para me confrontar? — Henrique se apoiou na muleta ao se colocar de pé. 

Felisberto concordou com a cabeça e se levantou também. 

— Ele está indo para lá agora. — Cristóvão contou apontando para a porta. 

— Já coloquei os jagunços na frente da delegacia. Eles estão prontos para finalizar o bibliotecário. — informou afundado em seu mau humor.

— Se fosse assim tão fácil. — resmungou saindo. 

Cosme e Costa foram atrás.

— O aspirante nojento deve estar indo levar o bibliotecário. Melhor seria que Umberto saísse logo da cidade, ir passar uns tempos na fazendo não fará mal. 

— Eu já lhe avisei, Henrique. Umberto diz que vai matar o bibliotecário que desvirtuou Francisca. Está de tocaia na delegacia também. 

— Eu tenho que chegar antes dele, aquele moleque defensor da ralé vai se colocar na frente dele e aí a minha reputação fica manchada. — entrou no automóvel e arrancou. — Ontem ficou por isso mesmo, mas não hoje. 

Os coronéis se olharam e subiram em cima de seus cavalos para encontrar o intendente na casa de polícia. 

Henrique chegou a tempo de evitar um assassinato. Sussurrou algo a Costa e o homem saiu correndo para entregar seu recado. Tinha a perna que não se aguentava com a dor, mancava com padecimento tal que a cada passo parecia que ia cair. O curandeiro avisou que não deveria se levantar, mas o coronel só respeitava a própria lei. O tiro acima do joelho estava rodeado com álcool e fita, o fez estrear uma bengala com base de prata com desenhos de serpente circulando a madeira escura. 

Viu Martin do outro lado da rua com Tarcísio e Serafim. Cuspiu e acendeu um cigarro. 

O delegado viu o grupo controverso em sua cabine e já previa a confusão. 

— Nós viemos relatar o crime que ocorreu dias atrás na livraria. — gritou, já exaltado, nem tinha dormido e estava extremamente insultado e revolto com a situação da cidade. 

— Eu vim depor contra o coronel Umberto Almeida que me baleou no meu estabelecimento. 

— Como que lhe baleou? Um tiro só? — Henrique tentou abafar a situação, zombava do livreiro e vinha com seu joelho sofrido. — Quem não aguenta um tiro? Um tiro de raspão, senhor delegado. Diferente do que esse moleque me fez ontem à noite. Isso sim é algo a ser relatado. 

— Um tiro de raspão não. Um tiro que o podia ter matado se não fosse pelo meu hospital, coronel Henrique. — se virou para ver o estrago que tinha condenado ao velho intendente magreense.

— Você não fala comigo. — gritou perdendo seu ar irônico. — Eu não quero nem ouvir a vossa voz. O senhor não fala comigo. 

— O senhor é um inimigo da justiça, da lei, da honestidade e razão. — gritava um por cima do outro. 

— Eu já falei para você não falar comigo. Eu já falei para você não falar comigo! 

Os dois iam gritando cada vez mais alto e a saliva saía e acertava o rosto um do outro, se aproximavam prestes a se agredir, sem embargo eram impedidos por seus respetivos grupos. 

— O senhor é um criminoso. Assassino. Ladrão!

— Moleque. Eu vou acertar ele. Eu vou. — um tiro acertou o teto pois era agarrado antes de conseguir apontar para o loiro estrangeiro. 

— O senhor pode tentar me acertar, tente e verá a vingança cobrir esta cidade. Estas cidades vão ser pintadas de vermelho, pode esperar!

Outro tiro abriu o teto. 

Magris A história de uma cidadeWhere stories live. Discover now