V: O baile

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Martin fumava um cigarro pensando em como a filha da cozinheira era divertida. Imaginava como seria se ela fosse aquela noite ao baile. Seria ainda tempo de a convidar? Só conseguia ver os longos cabelos tocando a lombar, mais castanhos que caramelo e mais ondulado que mola. Imaginou o cheiro dos fios e logo depois passava o rosto pelo pescoço dela, em sua idealização.

O Inscantunam aparecia às portas do hotel e os dois jovens entravam dentro do carro em direção ao salão de baile da cidade.

Quase ao entrar no edifício, Mendes era visto pelo intendente Henrique. O guardião da cidade usava igual a Martin, um terno branco. Eles se olhavam quase queimando e a pouco de incendiar o salão. 

— Um mundo escuro nessa cidade. — confidenciou Ariedes. — Nem de fogo se pode fazer.

— E minha varinha que está guardada desde que aqui cheguei? — riu para o manipulador de fogo. 

— Eu mal posso esperar para ir embora. 

— Eu sei bem o porquê você quer ir embora. — riu e olhou o amigo recente com confiança. — Puxe uma dama para dançar, assim esquecerá aquela moça que seu coração insiste em jurar. 

— Eu vou voltar a Magix na semana seguinte. — contou tentando controlar o sorriso. — Vou lhe pedir em noivado. Será minha noiva e quando meu pai mandar meu irmão para me substituir em Magris poderei a levar ao templo e declará-la minha esposa. 

Martin sorriu e pegou a taça de champagne. 

— Mas que desaforo. — Henrique comentou acendendo um charuto. — Eu quero esse moleque fora daqui. 

— Meu capataz colocará ele para fora, coronel. 

— Não. — Felisberto impediu apressadamente. — Tem muitas pessoas aqui. Não dá para colocar o homem para fora. 

— Olhe Murilo. — indicou Cristóvão. — Cumprimentando a viúva de Santos. 

— Deixe que da viúva cuidarei eu.

Henrique se apressou a voltar até sua cabine, certo de que Murilo viesse trazer a viúva até ele. 

— Isto é jogo político, Gertrudes. Seria bom que saibamos jogar também. — falou a avó descendo do carro. — Quero você sempre calada e rodeada de meninas, homens só pensam em uma coisa, sabe bem. 

— Sim, senhora. 

Gertrudes tinha o olhar baixo e lacrimejante. Não sabia o que os homens pensavam, realmente. Nunca tinha estado tão próximo de um senão seu avô. E tampouco seu avô lhe apreciava muito. A donzela usava uma coroa de joias para impressionar e um vestido demasiado ousado para a cidade de Magris. 

Para se situar bem, Magris é a cidade mais ao sul do continente de Magix, no país Magix. Naquela cidade o dinheiro fluía mais rápido que o vento e a estratificação social estava bem estabelecida. Começava pelos coronéis, depois os empreendedores, depois os sacerdotes, os trabalhadores e os menos importantes como as prostitutas. Aquela cidade não tinha nenhuma relação com a progressista Magix, em Magris as mulheres estavam abaixo aos homens em completa submissão e nem podiam usar calças, sequer decidir o corte de cabelo. 

Cordélia aprendeu isso com muita tristeza.

— Venha, Cordélia. — Clotilde chamou trazendo a filha para a frente do espelho de seu quarto. — Traga a tesoura. 

Cordélia tinha visto pelo caminho os vestidos largos e os cabelos curtos. Gregório e ela tinham observado na estação algumas meninas e todas elas seguiam um padrão. 

Magris A história de uma cidadeWhere stories live. Discover now