XXXVI: Fim

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Gertrudes puxava a pequena bolsa enquanto subia no trem. Gregório pegou a bolsa das mãos da amada e a puxou para um beijo rápido. 

Era madrugada fria. Saíram de casa escondidos e silenciosamente, se disfarçaram de elfos para esconder-se na fila para o comboio. 

Naquela noite, Henrique Marques não viria para gerir a saída de elfos da sua cidade não-mágica.

Gregório estendia sua mão para ajudar Gertrudes a subir no comboio e segurava a mala de couro cheia de roupas dele, muitas de Cordélia e as joias que Gertrudes o tinha dado para a fuga inicial e ainda as que havia usado em seu suposto casamento. Igualmente o bolso de Gregório estava cheio de notas de seu pouco salário. 

Gertrudes sorriu com seu nervosismo e viu o amado ir atrás de si. Ele a abraçou e sentiu a certeza que ela passava com seu espírito de amor e poder. Então sorriu levemente também e depositou um beijo na bochecha dela. Tinham passado a madrugada esperando, tremendo de medo de serem apanhados e também com o receio do dia seguinte da família Bastos do qual teriam que explicar ao rei de Magix que sua filha bastarda que ele acabava de encontrar havia fugido na calada da noite. Gertrudes trazia consigo seus documentos novos e os antigos também, para caso necessitasse de um ou do outro. Sentia um arrepio correr a espinha, um medo que fazia suas bochechas ferverem. Mas ao mesmo tempo sentia uma adrenalina enlouquecedora que a fazia vibrar. Sabia que ao lado de Gregório, depois de tudo o que tinham passado iriam superar tudo e nada os poderia separar senão eles mesmos. 

Iam sendo empurrados pelos mágicos atrás e se davam as mãos para não serem afastados naquele tumulto. Nem saberiam o que iria acontecer posteriormente, assim que o comboio parasse. Não saberiam sobre o que aconteceria com eles e tampouco saberiam o que aconteceria na cidade após a saída deles, apenas desejavam que tudo terminasse bem. 

Buscavam um lugar vazio entre o acumulado trem com elfos e fadas. 

— Ali, Gregório! — puxou-o entre os mágicos. 

— Onde? — franzia o cenho sem conseguir ver o lugar vazio. 

Pediam licença, mas ninguém ouvia. Havia até crianças nos lugares de malas, em uma aglomeração sufocante. Em pé, lugares de dois com quatro ou seis pessoas, sentados nas janelas...

— Ali. — gritou sentindo o feitiço de ilusão deixar o corpo. — Tebaldo! 

— Gertrudes Santos, é você? — o jovem franziu com um sorriso. 

— Permita que sentemos ao seu lado? — perguntou com seu tom ansioso e desesperado.

Tebaldo puxava Bianca para seu colo e indicava o lugar aberto. 

Gertrudes empurrava o amado e se sentava sobre ele, ao seu lado direito estava Tebaldo e sua manipuladora e do lado esquerdo estava uma elfa com dois filhos nos braços enquanto o marido estava em pé se segurando no ferro da prateleira de malas. 

— O que os faz partir? — o jovem não conseguia entender a fuga da menina Santos.

— Meu pai é James Grint. — confessou imediatamente.

Tebaldo riu impressionado. 

— Não! 

— Sim. — confirmou tristemente. 

— Então porquê deixa os favores do rei? Se você está indo para Magix, ele vai te achar. 

— Nós vamos para a terra do sol. — mentiu por medo de que fosse encontrado seu paradeiro futuro.

— Reino da terra? 

— Solaria. — foi o primeiro reino que lhe veio à cabeça sendo pertencente ao continente de terra Pamant.

— Por que não vêm para a terra do fogo? Também que os reinos de sol são ótimos já que a luz é a única coisa que pode dar fim à guerra contra as sombras.

— Estão indo para Leriam Dragon? — olhou a manipuladora com interesse. 

— Estamos. — apertou a menina, estava contente com sua vingança e com sua escolha de amor mesmo antes de saber que era amor. 

— E há outro motivo por trás do que já conhecemos para a sua ida? — Gregório franziu o cenho dividindo olhares entre Bianca e Tebaldo.

— Sou um criminoso, foragido agora. — assumia sem nenhum vestígio de arrependimento. 

— Criminoso?! — cobriu a boca chocada. 

— Perdão contar-te. — olhou para baixo lamentando não o ocorrido, mas sim o fato de ter revelado a Gertrudes. — Sei que não temos intimidade, mas temos quatro horas pela frente. 

— É errado, mas vejo em seus olhos que não passou de justiça. 

— De fato, senhorita Gertrudes, de fato. — sorriu olhando Bianca e ela sorria de volta apaixonada. — Nem nos apresentamos, Bianca esta é Gertrudes, a herdeira Santos. 

— Gregório, o garçom. — riu colocando o braço em volta do homem e então o comboio arrancou. — Ele faz cada dia ser único. Faz cada raio de sol ser motivo de calor. Faz cada toque um sopro de vida. Ele já me faz muito feliz. É a vitamina que preciso para enfrentar tudo. 

Gregório a beijou com força e sorriu descansando o rosto nas costas dela enquanto ela ia trocando cortesias com a dançarina. Sentia o odor doce dela, delicado e ouvia a risada dela. Era seu combustível. Sabia que cada suspiro dela era seu motivo de maior felicidade. A apertava contra si, tendo a certeza de que iriam superar a guerra ou qualquer outra situação que se colocasse contra eles. 

— Eu te amo. — Gertrudes sussurrou ao ouvido dele assim que estavam próximos de chegar à estação de Magix-capital. Ele confirmava com a cabeça e também se declarava como muitas vezes tinha pensado em fazer. 

Partiriam para o mundo normal, onde estariam livres daquelas sombras que perseguiam qualquer ser com poder. 

Ali teriam uma vida demasiado normal e monótona, e ainda assim continuariam vivos e descobrindo como superar um dia após o outro.  

Magris A história de uma cidadeWhere stories live. Discover now