XVII: Tudo no lugar

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Arlete descia do quarto e viu os enteados sentados à mesa. O rosto ainda estava vermelho e seu modo de caminhar estava mais lento. Agora suas bochechas não só tremiam de tristeza, mas também com vergonha dos olhares. 

Engolia em seco. 

Se sentava no lugar central e uma empregada vinha a servir. Limpou o rosto da lágrima que descia e tentou comer, porém estava como se tivesse perdido as forças. 

— A senhora quer que faça alguma coisa? 

— Eu quero sim. — concordou com a cabeça e a voz frágil e ingênua. — O senhor Adalberto Crives disse que virá jantar e disse que... — engoliu o choro. — Que é para fazer seu prato preferido. 

— Ele não virá. — Justino disse deixando a taça de sumo de laranja. — Ele sempre diz que vem, mas nunca vem. 

— Agora que casou outra vez, virá com certeza. — Constança comentou, implicante. 

— Eu vou lhe explicar tudo, senhora. — Zumira concordou.

Arlete concordou com a cabeça e bebeu um pouco de água. 

— Ele não virá. 

— Eu queria saber os vossos nomes. — balbuciou olhando com tristeza aos dois. 

A enteada fez um som de desdém e continuou comendo. 

— É Constança e eu Justino. Eu te explico como a casa funciona. 

— E mesmo assim fique sabendo que não ocupará o lugar de mamãe.

A garota negava com a cabeça e se negava a olhar a madrasta. Justino reprovava a atitude da irmã e a chutou por baixo da mesa. Levantou a sobrancelha chateado. 

— Coma aqui. — pegou um mamão aberto e limpou as sementes. — É de Fengdu.

— Muito obrigada. — concordou com a cabeça e recebeu a fruta. 

— Uma dama não deve ficar sem luvas. — Constança debochou. 

— Mesmo dentro de casa? — franziu sem graça. 

— De onde você vem? — olhou a mulher. — Como conheceu nosso pai? Se quer mesmo ganhar uma fortuna deveria buscar outros meios. 

— Constança para com isso já! — Justino mandou. — Errado é papai que casou com uma moça bem mais jovem que ele. 

— Você vai ficar do lado dela? — gritou e abriu demasiado os olhos com o choque de não ter seu irmão ao seu lado.

— Não existem lados, Constança. 

— Sei bem. — se levantava e limpava a boca deixando o pano cair em cima de seu prato. 

Arlete concordou com a cabeça e engoliu em seco. 

Justino começou a falar de como Adalberto nunca chegava para o almoço e algumas vezes chegava para o jantar, mas que se estava indo para a fazenda naquela manhã é porque não chegaria para a última refeição e muito menos nos dias seguintes. 

— Aqui é o salão de chá. Aqui temos um pequeno templo para a Virgem que é uma das padroeiras da cidade e... — olhou a menina inocente. — É sua primeira vez em Magris?

— Eu nunca tinha saído da minha cidade.

— E o que a fez vir para cá? Com certeza não foi a beleza do meu pai, pois já faz dez anos que ele nem cabelo tem. — contou de forma sorridente, mas estava sério. 

— A guerra. Estalou a guerra depois daquele corte no céu e eu fiquei órfã. Seu pai disse que eu já era meio passada para casar, mas disse que iria me dar um teto. — aquele dia era repassado em sua mente. 

Magris A história de uma cidadeWhere stories live. Discover now